Capítulo 51
A idade legal para fazer uso de bebidas alcoólicas no estado da Flórida é de 21 anos, mas, excepcionalmente, em algumas ocasiões especiais (mais especificamente durante a temporada de Spring Break), quase todos os adolescentes quebram essa regra, deliberadamente.
Depois do transtorno de horas no trânsito e de minha infrutífera tentativa de reconciliação com Jen, eu também pensei que um pouco de álcool cairia bem. Só mudei de ideia após uma breve conversa com Rebecca.
Nós estávamos em um quiosque a beira-mar, a música estava alta, a praia estava absolutamente abarrotada de pessoas. Jessie e seus amigos estavam se organizando com outro grupo de pessoas desconhecidas para jogar "beerpong" — uma espécie de jogo criado por pessoas que provavelmente só queriam uma desculpa para se embebedar. — O jogo consiste em arremessar uma bolinha dentro de copos cheios de cerveja sobre uma mesa de ping pong. Cada vez que alguém acerta, escolhe uma pessoa do outro time para beber a cerveja do copo onde a bolinha caiu. Nada higiênico, nada criativo e totalmente a cara do Spring Break.
Rebecca estava sentada em um canto digitando alguma coisa em seu celular quando me aproximei.
— Você não vai jogar? — perguntei.
— Não. Eu não bebo, lembra? Além disso, também preciso dirigir de volta para Palm Beach hoje. Se meu pai descobrir que pegamos um dos carros ele vai ficar uma fera!
— Então eu também não vou beber.
— O quê? Por que não? Pensei que esse fosse o objetivo de termos vindo até aqui. Pra que mais serve uma festa de Spring Break afinal?
— Eu sei, mas você acha que eu vou deixar só você ter o prazer de dirigir aquela Ferrari todo o caminho de volta? Vai sonhando!
Assim passamos o dia, eu e Rebecca como os únicos sóbrios do nosso peculiar grupo de amigos. Aquela também foi a primeira vez que vi Jessie beber, e os resultados foram, no mínimo, curiosos.
Primeiro ela ficou extremamente sociável, falando alto demais e interagindo com todas as pessoas no recinto. Depois, teve um súbito pico de confiança e passou a acreditar que ganharia de qualquer pessoa em qualquer jogo. Começou a provocar os jogadores do time adversário; em um momento eu a vi até desafiar Andrea para uma queda de braço, garantindo que poderia ganhar dele.
No final do jogo de beerpong, Jessie subiu na mesa para celebrar com uma "dança da vitória", e todos caíram na gargalhada.— Sua namorada fica maluquinha quando bebe — Rebecca comentou comigo quando nos separamos do grupo para ir procurar alguma bebida que não contivesse álcool.
— Não. Ela é maluquinha até quando está sóbria — brinquei.
A única coisa que encontramos no meio de toda aquelas bebidas alcoólicas foi o tradicional chá gelado da Flórida. Eu pedi o meu sem a rodela de limão. Rebecca pediu o dela com limão extra.
— Hmm! Eu tinha me esquecido de como o chá do sul é bom! — Becca falou com seu canudo ecológico ainda preso entre os dentes, enquanto se deliciava.
— Se você está dizendo — dei de ombros.
— Sabe o que mais é uma delícia? Aquele amiguinho da sua namorada.
— O italiano?
— Isso! Até o nome dele é exótico.
— É nome de mulher.
— Você só diz isso porque está morrendo de ciúmes do italiano supergato! — ela beliscou meu ombro.
— Pfff! Isso é ridículo!
— Não se preocupe. Se depender de mim, ele não vai ficar nem perto da sua Jessie hoje.
— Isso seria legal.
Nós brindamos com nossos copos de chá e voltamos para perto do grupo.
Pelo restante da tarde, Rebecca ficou conversando com Andrea, assim, Jessie pôde passar mais tempo comigo; porém sua amiga chinesa ainda insistia em nos seguir por toda parte, o que foi bastante irritante.
No fim da tarde, quando fui chamar Becca para irmos embora, encontrei-a conversando com Andrea, perto dos banheiros. O assunto parecia sério, até um pouco confidencial, pela forma como os dois haviam se isolado. Eu não quis interromper, então esperei a uma distância razoável até que ela olhasse em minha direção e me visse acenando.
No caminho de volta para a casa de Jessie, eu queria agradecer pelo ato de altruísmo de Becca, ao se certificar de que Andrea não ficaria em cima da minha namorada, mas foi impossível falar com ela, já que agora o italiano não saía de perto dela, mesmo depois de termos chegado à casa.
Na hora de ir embora, eu já estava pronto para entrar na Ferrari e voltar para Manalapan com Rebecca, mas Jessie pediu que eu dormisse com ela, usando exatamente este termo. Não "dormir na casa dela" mas "com ela". Eu não podia dizer não a um convite desses, então tive de deixar Rebecca ir sozinha todo o caminho de volta até a Gemini.
Quando ela entrou na Ferrari Andrea pareceu surpreso.
— Uau! Este é o seu carro? — perguntou embasbacado.
— É sim. E incrivelmente essa belezinha aqui não é o modelo italiano mais bonito presente aqui hoje — Becca respondeu sugestivamente.
Vi Jessie revirar os olhos.
Quando Rebecca finalmente partiu, todos se acomodaram em seus devidos quartos. Jessie foi até o quarto de hóspedes onde eu estava e se jogou na minha cama antes de mim. Ela já estava usando seus pijamas, que eram somente shorts e uma camiseta de seda. Notei que ela não usava sutiã. Ela se deitou e abraçou o travesseiro.
— Zhiyi está no meu quarto, e ela não para de falar — resmungou.
— Você quer dormir aqui? — perguntei confuso.
— Eu só quero dormir — respondeu. E logo em seguida pegou no sono de verdade.
Eu queria me deitar ao lado dela, mas dadas as circunstâncias, a tentação para fazer algo do qual provavelmente nos arrependeríamos depois seria grande demais. Por isso coloquei um edredom e algumas almofadas no carpete e dormi ali mesmo, vendo Jessie dormir na cama que havia preparado para mim, abraçada ao meu travesseiro.
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SOB O MESMO CÉU
RomanceLivro 2. A sequência da história de Sob a Luz do Sol. Este é o segundo livro da trilogia.