Capítulo 33
Minha mãe olhava de volta para Pickford, um olhar de espanto, o maxilar enrijecido.
Pickford abriu a boca para falar, mas fechou de novo, como se procurasse cuidadosamente as palavras certas para dizer.
— Irina, eu... Eu sei que não estamos juntos há tanto tempo, e tudo isso pode parecer um pouco apressado demais, mas, acredite em mim quando eu digo que poucas vezes em minha vida eu ponderei tanto a respeito de uma decisão. E talvez nunca tenha tido tanta certeza de algo quanto tenho de que te amo. E não quero desperdiçar mais nem um segundo de nossas preciosas vidas. — Ele então abriu sua mão, revelando o que segurava com tamanha firmeza: uma caixinha aveludada, de um azul tão escuro que quase parecia preto. Quando abriu, vimos o anel que estava lá dentro. O aro era fino e cravejado com pequenas pedrinhas. No centro, havia um diamante quadrado, destacando-se por seu tamanho, forma e brilho. — Irina, você quer se casar comigo?
Mamãe levou as mãos ao rosto e não conseguiu conter as lágrimas. Em vez de dizer sim, ela apenas balançou a cabeça positivamente, parecendo estar sem palavras. Pickford então se levantou, retirou o anel do estojo, colocou no dedo de minha mãe e secou as lágrimas do rosto dela com seus polegares.
Os dois trocaram um beijo apaixonado que provocou reações diferentes nos presentes. Eu fiquei enojado. Rebecca estava visivelmente desconfortável, sem saber como agir. E Megan vibrou como um torcedor fanático:
— Agora vamos todos ser da mesma família — comemorou.
Minha primeira reação foi me levantar. Eu só queria sair dali. Não queria estragar o momento, já que todos pareciam contentes. Era natal, caramba! Por que Pickford tinha que estragar meu feriado favorito?
Caminhei para fora da casa e me sentei no chão, em meio às árvores do jardim botânico. Ouvi passos atrás de mim e pensei serem de minha mãe. Mas quando me virei, fiquei surpreso ao me deparar com Rebecca.
— Desculpa ter te seguido. Mas eu também precisava sair de lá. — Ela se sentou ao meu lado. — Sabe, até dois dias atrás eu nem sabia que meu pai tinha uma namorada. Agora ele vai ter uma outra família inteira.
— Ele não te contou nada?
— Minha relação com meu pai é... — Rebecca respirou fundo. — É complicada.
Eu queria ter perguntado mais, queria entender o quão complicada aquela relação era, mas não tive a chance. Minha mãe e Pickford nos encontraram naquele momento.
— Não adianta fugir, crianças — Pickford falou, com seu tom complacente. — Precisamos conversar.
Voltamos todos para dentro da casa. Mamãe foi comigo e com Megan para a sala, enquanto Pickford e Rebecca se dirigiram para a cozinha.
— Filhos — mamãe começou a falar, com um ar de seriedade —, eu sei que tudo isso é novo para vocês. Para mim também. Mas eu estou feliz. Feliz de verdade! E quero muito que vocês dividam essa felicidade comigo. Mas essa é uma decisão que eu creio que precisamos tomar em conjunto. Em família.
— Você parecia bem decidida ao aceitar o pedido — falei.
— Eu ainda posso recusar. É muito importante para mim que vocês estejam ao meu lado.
— Eu também estou feliz, mamãe — Meggie disse com um grande sorriso no rosto.
— Você já sabe minha opinião sobre isso — eu disse.
— Filho, se você ao menos desse uma chance a ele... Se o conhecesse como eu conheço...
— Ah, conhece? Você pareceu tão surpresa quanto eu com o fato de ele ser ateu.
— Agnóstico — Meggie me corrigiu.
— Que seja — retruquei.
— Bem, é verdade que disso eu não sabia. Mas não é isso que realmente importa.
— Não importa? E o que é que importa então, mãe? — minha voz agora soava ligeiramente mais aguda. — Importa que ele é rico?
— Como é que é? — minha mãe agora parecia indignada. Meggie nos observava discutir, boquiaberta.
— Me desculpe mãe, mas do meu ponto de vista, o que me parece é que você está se precipitando. Talvez o fato de ele ser inacreditavelmente rico pode, de alguma forma, ter seduzido você.
— Você está insinuando que eu sou uma interesseira? — os olhos de minha mãe se encheram de lágrimas, mas seu olhar não parecia triste, parecia extremamente enfurecido!
— Não estou insinuando nada. Só estou tentando entender como você pode estar considerando se casar com um cara que mal conhece.
— Se é isso que pensa de mim, então é você quem não me conhece. — Seus olhos transbordaram e as lágrimas escorreram pelas maçãs de seu rosto até o queixo.
— Eu não julgo você, mãe. Imagino que talvez tenha boas motivações. Talvez esteja preocupada com a saúde de Meggie, e considerando que ele certamente tem um bom plano de saúde e...
A raiva de minha mãe atingiu o ponto mais alto ao me ouvir dizer aquilo. Ela ficou tão irada que fez algo que eu jamais havia sequer imaginado que ela seria capaz de fazer. Eu ainda estava no meio da frase, quando ela abriu sua mão, ergueu seu braço e bateu com força em meu rosto. Um tapa tão forte que me fez virar a cabeça involuntariamente. Depois, ela gritou comigo:
— Você pode se achar grande demais, sabido demais. Pode achar que é independente, que não precisa mais da sua família. Pode odiar Pickford o quanto quiser, pode questionar minhas decisões e até criticar minhas escolhas. — A voz dela ficava mais alta a medida que ia falando. — Mas você vai me respeitar! É o mínimo que você pode fazer! Porque eu sou sua mãe, e você me deve respeito!
Meggie cobriu a boca com as duas mãos ao presenciar aquela cena.
Eu fiquei sem reação. Voltei a olhar para ela, meus olhos arregalados, minha expressão incrédula. Não havia palavras para dizer naquele momento.
Minha mãe, porém, recusou o silêncio como resposta.
— Você me entendeu? — esbravejou.
Eu apenas balancei a cabeça positivamente, mas ela ainda não se contentou.
— Entendeu bem?
— Sim, senhora — afirmei, levando a mão ao lado do rosto onde minha mãe havia batido. E então dei as costas para ela e saí de lá o mais rápido que pude.
— Aonde você vai? — ela gritou.
Pensei em não responder, mas sabia que aquilo só a faria me seguir.
— Embora — falei, sem me virar. — Eu vou embora daqui!
VOCÊ ESTÁ LENDO
SOB O MESMO CÉU
RomanceLivro 2. A sequência da história de Sob a Luz do Sol. Este é o segundo livro da trilogia.