Capítulo 35
Era fim de ano, época de fazer novas resoluções, repensar a vida e consertar o que precisava ser consertado. Eu sabia o que precisava fazer, mas ainda me faltava coragem.
Minha mãe iria se casar. Isso era um fato. Quer eu aceitasse, quer não. Mantive isso em mente quando fui falar com ela naquela manhã. Entrei na mansão para procurar por ela, mas Megan me encontrou primeiro.
— Onde você estava? — perguntou espantada, sem nem ao menos dizer oi.
— Meggie, preciso conversar com a mamãe — falei, ignorando sua pergunta. — Você sabe onde ela está?
— Antes eu preciso falar com você.
Megan precisava falar comigo? O que poderia ser?
— Hãn? — não consegui pensar em nada para dizer, então apenas emiti esse som.
— Sam, a mamãe está feliz. Ela está muito feliz com o Zane — Meggie começou a falar, e eu revirei os olhos, mas não a interrompi. — E o mais importante, ela não está mais sozinha. Eu não quero que ela fique sozinha, você entende?
— Meggie, ela nunca vai ficar sozinha enquanto tiver a nós dois.
— Mas até quando ela vai ter? Sabe, quando você veio para a Flórida e ficamos só nós duas lá, ela se sentia muito solitária. Dava para ver. E eu pensava o tempo todo: e se caso eu morrer? Como ela vai ficar? Aí nós viemos para cá e agora ele tem a nós de novo, mas você nem mora com a gente, e eu só sirvo para dar trabalho. — Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto ela falava.
— Meggie! Nunca diga uma coisa dessas! Você é o bem mais precioso que a mamãe tem!
— Olha, eu só tenho medo de que ela fique sozinha quando... quando eu não estiver mais aqui.
— Ah, não! Nem pense nisso! — Dei dois passos adiante e a envolvi em meus braços, apertando-a contra meu peito tão forte quanto pude. — Meggie, você não está morrendo. Nós estamos cuidando de você. Eu sei que o fato de ter ficado tanto tempo naquele hospital e tudo aquilo que você passou foi bem assustador, mas você não está mais morrendo. Foi por isso que vocês vieram para cá. Aqui você está sendo tratada da melhor forma possível. Entendeu?
— Sam, você sabe que minha doença não tem cura. É certo que um dia eu vou morrer.
— Pare com isso! Você sabe muito bem que tem muitas pessoas que vivem com fibrose cística e passam dos 40, 50 anos. Você não pode pensar assim!
— Eu sei — ela se soltou do meu abraço, para poder olhar em meus olhos. — Mas eu tinha que te dizer isso. Você precisa pensar nisso. Eu estou tendo que agir como uma adulta, porque você vem agindo feito criança desde que mamãe conheceu o Zane.
Levar uma bronca de Megan nunca tinha sequer me passado pela cabeça. Mas ela de fato tinha razão, eu estava sendo imaturo e precisava corrigir isso o quanto antes.
— Megan, olhe para mim — ordenei. Ela me olhou com os olhinhos marejados. — Você não está morrendo. Entendeu bem? Eu não vou deixar isso acontecer. E também não vou deixar que a mamãe fique sozinha. É justamente sobre isso que preciso falar com ela. Sabe onde ela está?
Ela fez que sim com a cabeça, depois secou suas lágrimas e foi chamar nossa mãe, que desceu sozinha, poucos minutos depois.
Nós nos sentamos de frente um para o outro, em completo silêncio. Eu abri a boca para começar a falar, mas ela foi mais rápida:
— Onde você estava?
— Eu estava aqui mesmo. Em um dos chalés. Eu nunca fui embora — confessei. Minha mãe pareceu aliviada ao ouvir aquilo. — Mãe, olha, me desculpe. Eu sei que agi errado, muito errado com você.
— É. Agiu mesmo. Filho, eu sinto muito por ter precisado gritar com você — ela abaixou a cabeça —, e te bater. Mas eu não me arrependo de ter feito isso. Você mereceu! E eu espero que nunca mais falte com respeito comigo daquele jeito, porque eu nunca mais quero ter que fazer aquilo de novo.
— É, eu mereci mesmo — concordei. — Desculpa, não vai acontecer de novo.
Ela então estendeu sua mão e puxou minha cabeça, recostando-a em seu ombro. Beijou minha testa e disse:
— Eu te amo, filho.
— Também te amo.
Dito isso, ela me soltou, e nós voltamos a nos olhar nos olhos. O clima voltou a ficar sério quando ela falou:
— Eu vou me casar com o Zane.
— Você vai se casar — repeti em voz alta, tentando me acostumar com aquela ideia.
— Filho, eu sei que você tem medo que Zane possa tentar tomar o lugar do seu pai, mas isso seria impossível. Seu pai é o grande amor da minha vida, você sabe disso. Ele foi meu vizinho e melhor amigo de infância. Foi ele quem me ensinou a andar de bicicleta, e me socorreu quando eu caí repetidas vezes. Ele foi meu primeiro amor secreto no ensino fundamental e meu primeiro amor correspondido no ensino médio. Foi meu primeiro beijo, meu primeiro namorado, se tornou meu marido e o pai dos meus filhos. Foi ele quem me fez feliz na maior parte da minha vida. — Mamãe fez uma pausa para respirar fundo e abanou os olhos como se tentasse evitar de chorar. — Eu daria tudo para ter mais tempo com ele. Mas não há nada que eu possa fazer para trazê-lo de volta. E eu sei, com certeza, que ele iria querer que eu estivesse feliz. E eu estou. Zane me faz feliz. Você entende isso?
— Sim, mãe. Eu entendo.
— Ninguém jamais poderia tomar o lugar do seu pai. Ele ocupa um lugar no meu coração e na minha memória, que nada nem ninguém neste mundo pode mudar. Eu o amei com toda a minha vida, e ainda o amo. Mas ele não está mais aqui. Seu pai não está mais aqui, mas eu sim. E Zane também está. E nós não sabemos por quanto tempo. Ninguém sabe. Por isso, queremos estar juntos pelo máximo de tempo que pudermos. Nós não estamos nos apressando ou nos precipitando. Nós dois conhecemos a dor da perda. E a felicidade do amor verdadeiro. E é por isso que vamos nos casar.
Eu ouvi cada palavra que minha mãe disse, e ela tinha toda a razão. Juntei toda minha coragem, engoli meu orgulho, e disse:
— Eu também quero que você seja feliz, mãe.
Ela entendeu o recado. Finalmente nós nos abraçamos. Ficamos assim por algum tempo, e quando nos soltamos, ela retirou um anel de sua mão esquerda.
— Este é o anel que seu pai me deu quando me pediu em casamento. Eu o usei todos os dias até hoje. Mas agora quero que fique com ele. Quero que guarde-o bem, e que o entregue para o amor de sua vida. Quero que dê isso a uma mulher somente quando tiver certeza de que é com ela que você quer viver pelo resto de seus dias. E quando você tiver essa certeza, não demore! Você não sabe quanto tempo ainda poderá ter com ela, então aproveite cada segundo. Diga tudo o que precisa dizer, ame-a com todo o seu coração e tenha certeza de que ela o ama também. Porque assim, você nunca vai se arrepender.
Ela colocou o anel na palma de minha mão e eu fiquei observando aquela simples, porém bela jóia.
Será que algum dia eu teria toda aquela certeza da qual minha mãe falava? Antes eu realmente pensava que sabia que Jessie era o grande amor da minha vida. Mas agora, com todos os problemas de distanciamento e as dificuldades de comunicação, estava começando a ter minhas dúvidas.
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SOB O MESMO CÉU
RomanceLivro 2. A sequência da história de Sob a Luz do Sol. Este é o segundo livro da trilogia.