Capítulo 26

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Capítulo 26

Dá para acreditar na audácia daquele sujeito? Eu dirigi tão irritado que quase bati o carro duas vezes ao longo do curto caminho.

Quando finalmente cheguei à casa de Jessie, não havia ninguém para abrir os portões. Gordon devia estar jantando com eles. Enviei uma mensagem de texto à Jessie:

"Estou no seu portão."

Minutos depois ela respondeu:

"Já estou indo."

Os portões se abriram, eu entrei com o carro e a vi de pé, ao lado da porta, com o sorriso mais lindo de todo o universo! Desci do carro tão depressa que esqueci a porta aberta. Abracei-a apertado e seus pés saíram do chão. Eu a girei no ar antes de colocá-la de volta em seu lugar.

— Que saudade! — exclamei.

— Que bom que você veio, Sammy! Vem, todos estão lá dentro querendo te ver.

Nós entramos de mãos dadas e eu cumprimentei a todos, um por um. A casa estava cheia. Juliet e Marcus também tinham vindo de Nova York, Marissa, Gordon e sua filha também estavam à mesa. E até tia Rose e tio Chris. Há quanto tempo eu não os via! Ambos se levantaram ao me ver chegar, e me deram abraços fraternais.

Sentei-me ao lado de Jessie. Todos ainda estavam comendo a sobremesa.

— Pegue um pouco de pudim — Marissa sugeriu.

— Não, obrigado. Eu acabei de comer lá em casa.

Mesmo diante da minha recusa, Marissa passou o restante do jantar tentando me convencer a comer alguma coisa. Eu até aceitei uma bola de sorvete de creme, só para ver se ela parava.

Depois de comer, todos continuaram à mesa, conversando. Jessie contava sobre suas experiências em Nova York, das quais a maioria envolvia Zhiyi e Andrea. Ela parecia estar realmente feliz. Havia algo de diferente nela, como se estivesse mais madura, mais centrada. Mesmo em tão pouco tempo, Jessie já apresentava uma mudança perceptível. Senti uma pequena pontada em meu coração por estar longe dela naquele momento crucial de transição.

Quando todos se levantaram e começaram a ir para seus aposentos, Marissa perguntou se deveria arrumar um quarto para mim também.

— Não, obrigado. Eu vou para casa logo.

— Vou deixar um quarto de hóspedes preparado, caso você mude de ideia.

Ela saiu, e Jessie e eu ficamos a sós. Nós nos sentamos no sofá da sala de estar e eu me aconcheguei deitando com a cabeça no colo dela, enquanto ela afagava meus cabelos. Era reconfortante tê-la comigo outra vez. Meu peito ardia em gratidão.

Contei a ela sobre o episódio de mais cedo com o namorado de minha mãe. Eu estava indignado só de lembrar, mas Jessie só fez rir. Depois dessa conversa, houve um curto silêncio até que ela falasse:

— Senti tanto a sua falta! — suspirou. — Nem acredito que já se passaram três meses.

— Quase três.

— É, quase. — Ela riu.

— Para mim pareceu uma eternidade!

Ela abaixou a cabeça e pressionou seus lábios contra os meus enquanto ambos ainda sorríamos.

— Será que eu posso te levar para jantar amanhã? — pedi.

Jessie franziu a testa e eu vi que a resposta não seria boa.

— Não dá. Amanhã nós vamos para Miami bem cedo, para aproveitar a Black Friday. Jen convenceu mamãe a irmos todos às compras.

— Ah, tudo bem então — murmurei. — Mas talvez quando você voltar. No sábado, ou no domingo?

Ela cerrou os lábios, e eu me sentei para olhar nos olhos dela, ciente de que não iria gostar da resposta.

— Desculpa, Sammy. Nós vamos voltar para Nova York direto de Miami, no sábado de manhã. As passagens eram mais baratas.

— Eu não acredito! Então quando é que vou te ver de novo?

— Eu não sei... Talvez você podia ir com a gente para Miami.

— No programa das garotas?

— Não é só das garotas. Meu pai e Marcus também vão estar lá. Talvez a gente pudesse ir em dois carros e...

— Não. Esquece — eu a interrompi.

— Talvez no natal? Nós vamos para Inverness. Você podia vir com a gente. Eu ouvi Juliet dizer que ia passar o natal com a família do Mark...

— Eles não são judeus?

— É, mas comemoram o Hanukkah, ou sei lá o que.

— Isso não é antes do natal?

— Acho que varia todo ano — falou, pensativa. — Mas não importa, mesmo se eles forem com a gente, tem espaço para você.

— Não dá. Eu preciso passar o natal com minha mãe e Meggie. Não passo o natal com elas desde que vim para a faculdade. E elas não têm mais ninguém. E até lá eu espero que minha mãe já vá ter terminado com aquele idiota.

— Então eu não sei mais como vamos nos ver — reclamou, chateada. — Nada está bom para você!

— Desculpa estar sendo um estorvo para você — retruquei.

— O que você quer que eu faça? Não posso cancelar os planos da família toda, só para fazer sua vontade! — Sua voz agora já estava levemente alterada.

— Deixa para lá! Eu pensei que fôssemos curtir um tempo juntos, mas esse foi o pior Dia de Ação de Graças de todos! — resmunguei.

— Ah, claro! Obrigada por estragar o meu também!

— Eu vou embora!

— É, talvez você devesse mesmo!

Eu me levantei e saí sem nem ao menos me despedir. Voltei para casa tão irritado quanto havia saído. Por sorte, Pickford já não estava mais lá. Megan estava dormindo no sofá, aninhada como um filhotinho, e minha mãe estava retirando os pratos da lava-louças. Eu parei para ajudá-la.

— O que aconteceu? — ela perguntou.

— Nada.

— Você parece chateado.

— Não quero falar sobre isso.

Guardei todos os pratos em silêncio, depois carreguei Meggie até a cama dela antes de ir para o meu quarto e me deitar na cama.

Estava me sentindo horrível! Eu não devia ter descontado minha raiva em Jessie. Não podia ter feito aquilo. Pensei em ligar para ela, mas como já era tarde, deixei para o dia seguinte.

De manhã eu mandei várias mensagens de texto pedindo desculpas antes de, de fato, ligar para ela. Em todos os casos, não obtive resposta alguma. Será que ela estava assim tão zangada comigo? Pensei que tivesse sido só uma discussão boba, mas aparentemente Jessie havia ficado mais magoada do que eu imaginava.

Tentei ligar mais outras tantas vezes, enviei inúmeras mensagens, mas nada. Comecei a entrar em desespero, com medo que a tivesse perdido de vez.

De tarde, entrei no carro para dirigir até sua casa. Parei na loja de doces para comprar uma caixa dos bombons favoritos de Jessie e depois segui meu caminho.

Ao chegar lá, Gordon me informou que ela e sua família já tinham viajado para Miami naquela manhã. Não tive dúvidas, se eu quisesse recuperar a garota que eu amava, precisava ir até Miami naquele momento.

Pesquisei Miami no GPS. Seriam mais ou menos quatro horas de viagem. Liguei para minha mãe para avisar onde estava indo, parei em um posto de gasolina para abastecer, coloquei minha playlist favorita para tocar no rádio e peguei a estrada.

Após quase duas horas e meia de percurso, meu carro simplesmente pifou. Aquela maldita lata velha! É claro que não aguentaria um trajeto tão longo. Em que eu estava pensando?

Agora lá estava eu, em uma estrada, no meio do nada, com um carro quebrado e um telefone quase sem bateria.

SOB O MESMO CÉUOnde histórias criam vida. Descubra agora