Capítulo 17

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Capítulo 17

Entre cochilos e corridas ao banheiro, vi o sol nascer no céu e soube que já estava de manhã. Era sexta feira, certamente doutora Rosenberg estaria de plantão. Quem sabe ela não poderia me ajudar novamente? Decidi tentar.

Fui da faculdade ao hospital em questão de minutos e me apressei em procurar especificamente pela médica que havia cuidado do meu caso anteriormente.


— Você precisa aguardar para ser atendido por algum dos médicos de plantão hoje — a funcionária do hospital me explicou calmamente enquanto eu clamava em desespero pela Dra Rosenberg.

— Você não entendeu — rebati. — Preciso ver especialmente minha médica. Ela conhece minha condição atual.

— Sinto muito, mas não posso fazer nada — a recepcionista respondeu, irredutível.

Eu continuei insistindo até que, de alguma forma, ela conseguiu fazer com que a doutora Rosenberg fosse até a recepção falar comigo pessoalmente.

— Doutora, eu estou tendo alguns... sintomas. Sabe?

— Quais sintomas? — ela questionou.

— Acho que estou tendo outra crise de abstinência — sussurrei com medo de que os outros ao redor ouvissem.

— Você voltou a tomar oxicodona?

— Não, de jeito nenhum! Os únicos remédios que usei foram os que você me permitiu. Mas não estão surtindo efeito.

— Olha, o que pode estar acontecendo é talvez o que chamamos de "síndrome de abstinência pós aguda". Você pode ainda sentir alguns dos sintomas esporádicos, mas os dias bons já são mais frequentes do que os ruins. O que você tem que fazer é aguentar firme, até que seu cérebro esteja totalmente limpo e recuperado.

— Será que você não poderia me internar de novo? Não sei se consigo fazer isso sozinho.

— Você não tem que passar por isso sozinho. Onde estão sua esposa e sua mãe? Elas foram tão boas em te fazer companhia na última crise.

— Eu não tenho esposa.

— O quê? — perguntou surpresa.

— Eu quis dizer que não a tenho aqui agora — tentei corrigir para que ela não descobrisse nossa pequena farsa. — Está em Nova York, estudando. E minha mãe já está no hospital, com minha irmã mais nova. Eu poderia ficar perto delas como da última vez, por favor!

— Infelizmente não podemos te manter aqui por mais tempo do que já o fizemos. Mas você pode procurar ajuda. Talvez uma clínica de reabilitação, grupos de apoio, narcóticos anônimos...

— Por favor, doutora, só por mais alguns dias! Eu preciso disso!

— Me desculpe, mas eu não posso. Preciso ir. Tenho um paciente me aguardando. Fique firme!

Ela apertou meu ombro em sinal de empatia, depois saiu e me deixou ali, frustrado.

Quando estava a caminho da saída, me deparei com James, que estava chegando.

— Bom dia — ele me cumprimentou. — Voce já está aqui? Não é meio cedo para as visitas?

— Eu não vim ver minha irmã — confidenciei.

— Veio se consultar? Está tudo bem?

— Não. Tudo bem. Eu só precisava entregar algo para minha mãe — menti.

— Ei, agora me lembrei, eu estava mesmo precisando falar com você. Mas agora não posso. Preciso ver meu paciente no pós operatório. Posso te ligar depois?

— Claro.

— Então nos falamos mais tarde. Se ainda estiver por aqui, me procure na hora do almoço — falou.

— Tudo bem. Até mais tarde, Jim.

Saí contrariado do hospital e voltei para a universidade. Já era hora da primeira aula, mas Liam ainda estava no dormitório, aparentemente procurando por mim.

— Sam, onde você se meteu? Cara, eu te procurei por toda parte. Me deixou preocupado. O que está acontecendo?

— Estou bem... Vou ficar bem. Só diga aos professores que não vou poder comparecer às aulas hoje, por favor.

— Sério? Você não pode ficar perdendo tantas aulas assim, meu irmão, você já ficou fora da primeira semana. E na semana que vem já temos provas. Não pode fazer um esforço?

— Não dá — levei a mão à boca, tentando conter a ânsia de vômito. — Não estou me sentindo bem.

— Quer que eu fique aqui contigo? Tem alguma coisa que eu possa fazer?

— Não, Liam. Só avise aos professores e depois me atualize com as matérias. Vai ficar tudo bem. Só preciso ficar um tempo sozinho.

— O que está acontecendo, parceiro? Sabe que pode contar comigo, certo?

— Sim. Eu sei. — Eu realmente sabia que podia confiar em Liam. Então decidi contar para ele. — Olha, você se lembra daquele remédio que te mandei jogar fora?


— Sei. O que tem ele? Você está precisando? Nossa, me desculpa, eu joguei fora de verdade. Mas posso comprar outro, é só me dizer como arranjar. Precisa de uma receita ou algo assim?

— Não, cara, escuta! Não preciso daquele remédio. Na verdade é ele que está me causando isso. Foi por isso que estive internado no início das aulas. Estou tendo uma crise de abstinência. Mas vai passar. Vá pra aula! Você precisa estar lá.

— Tem certeza de que vai ficar legal aqui sozinho? — Ele arregalou os olhos.

— Vai logo, Liam!

— Tudo bem. Se precisar de alguma coisa é só me chamar.

Ele saiu correndo, sabendo já estar atrasado para o primeiro horário. Me debrucei sobre a privada e vomitei a manhã inteira.

Liam me ligou durante o intervalo entre as aulas só para confirmar se eu estava bem. Eu sabia o quanto ele se preocupava. Precisava sair dali, ir para algum lugar onde eu teria privacidade e não incomodaria as outras pessoas. Uma clínica de reabilitação estava fora de cogitação, assim como os narcóticos anônimos. Mas uma coisa era certa: no dormitório não dava mais para ficar.

Peguei minhas coisas, decidido a partir, mas ainda não tinha a menor ideia de para onde poderia ir, por isso passei quase meia hora me contorcendo de dor, dentro do carro parado no estacionamento, até que finalmente me veio uma ideia.

Havia um lugar onde eu certamente poderia passar o fim de semana sem ser incomodado e sem incomodar mais ninguém: minha casa nova. Mamãe provavelmente estaria no hospital com Meggie, então aquele parecia o plano perfeito. Lá eu poderia permanecer em paz, completamente sozinho.

Pelo menos era o que eu esperava.

SOB O MESMO CÉUOnde histórias criam vida. Descubra agora