Capítulo 37

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Capítulo 37

Eu olhei para Rebecca, esperando que ela encontrasse alguma resposta aceitável para a pergunta de seu pai. Mas ela apenas me encarava de volta, com um ar de desespero, sem saber o que dizer. Eu também não fazia ideia do que poderíamos responder, então durante alguns segundos permanecemos nesse pequeno impasse, até que finalmente Rebecca falou:

— Se não é para contar, é porque não é para você saber.

— E agora você esconde segredos do seu pai, mocinha? — Pickford a pressionou.

— Não é bem um segredo... — ela começou a explicar.

— É uma surpresa — eu intervi.

— Surpresa? — Pickford falou. — Mas eu odeio surpresas!

— Ah, dessa o senhor vai gostar.

— Prefiro saber o que é — ele insistiu.

Rebecca mais uma vez pareceu não ter palavras. Então eu tive que dizer a primeira coisa que me veio à mente:

— É que Rebecca me convidou para... para participar da apresentação especial no dia do casamento. É isso. Era para ser uma surpresa para você e minha mãe. — Tentei parecer o mais convincente possível, e ele pareceu ter acreditado.

— Ora, mas isso é ótimo! É muito bom saber que você também está conosco nessa, rapaz. — Pickford apertou meu ombro de um jeito desconfortável. — Megan também poderia fazer um número musical. Seria lindo se todos vocês participassem!

— É. Ainda precisamos  pensar nos detalhes — Rebecca disse, olhando para mim com os olhos arregalados. — Nós inclusive estávamos nos preparando para ensaiar, se você não se importar.

— Claro. Mas venham tomar café da manhã antes.

Foi assim que escapamos de ter de revelar o segredo da mãe de Rebecca. E foi assim que Rebecca me meteu em uma fria: agora eu não só teria que fazer um número musical em um casamento que eu nem sequer queria que acontecesse, mas também ainda teria de ensaiar muito.

Não conversamos mais sobre isso naquele dia.

Passada a noite de ano novo, mamãe e Meggie resolveram não voltar para casa. Já que elas teriam de se mudar muito em breve, minha mãe achou melhor que já permanecessem lá e que Meggie mudasse logo de colégio, para se adaptar o quanto antes.

Eu voltei para a universidade mas passei a ter uma rotina intensa de compromissos fora dela. Duas vezes por semana eu ia fazer as tutorias de Jen, e todos os fins de semana eu dirigia por quase três horas até Manalapan, para visitar minha família e aproveitava para ensaiar com Rebecca e Meggie os nossos números musicais para o casamento.

No dia do nosso primeiro ensaio, Rebecca veio me receber carregando algo estranho nas mãos. Eu olhei, curioso, tentando entender do que se tratava.

O que ela tinha em suas mãos era uma tartaruga, que devia medir mais de 20 centímetros; era de uma coloração verde-escura, tinha listras amarelas por todo o corpo e uma pequena faixa avermelhada de cada lado da cabeça; o casco também era verde, com alguns poucos traços em amarelo.

— Olha só. Esta é a Anne-Sophie Pic. Ela não é linda? — Rebecca perguntou apontando-a para mim.

— É uma tartaruga — foi só o que fui capaz de dizer.

— Meu pai conseguiu ela de volta. Eu pensei que a tivesse perdido para sempre. — Rebecca apertou a tartaruga contra seu peito em um terno abraço. Anne-Sophie Pic se encolheu para dentro de sua carapaça.

SOB O MESMO CÉUOnde histórias criam vida. Descubra agora