Capítulo 57

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Capítulo 57

O programa tinha a duração total de 12 semanas (ou 3 meses), sendo dividido em 9 semanas de curso e 3 semanas de férias, nas quais poderíamos viajar para onde quiséssemos.

Após o término do período de aulas, algumas pessoas da turma resolveram fazer um tour pelo sul da Europa e aproveitar o resto do verão no mar mediterrâneo. Liam e eu não nos juntamos ao grupo. Decidimos fazer um mochilão. Queríamos conhecer tantos países quanto nos fosse possível dentro do curto espaço de tempo que tínhamos.

Começamos viajando dentro da Inglaterra mesmo. Steven, um amigo em comum, que havíamos feito durante o curso, nos convidou para irmos a Liverpool, sua cidade natal. Não havia muitas coisas para se fazer lá. Mas visitamos o Cavern Club, o bar onde, supostamente, os Beatles teriam se apresentado pela primeira vez de forma oficial. Visitamos também vários outros pontos turísticos relacionados aos Beatles. Para ser sincero, parecia que absolutamente tudo na pequena cidade portuária remetia à famosa banda de rock dos anos 60.

Um passeio legal que fizemos, não relacionado aos Beatles, foi assistir a um jogo de futebol europeu no estádio de Anfield, casa do Liverpool FC, clube pelo qual Steven torcia. Assistimos a uma movimentada partida em que o time da casa goleou os visitantes por 6 a 2. O jogo em si já teve grandes emoções, mas confesso que me senti arrepiar ao ouvir toda a torcida entoar o canto "You'll Never Walk Alone" a plenos pulmões, antes e depois da partida. Steven disse que aquele sequer era um jogo oficial, mas sim uma partida de pré temporada. Mas eu achei bem mais emocionante do que a partida que havia assistido na Escócia com o avô de Jessie. Naquele dia, passei a gostar um pouco mais deste esporte.

Além de Liverpool, Liam e eu também visitamos algumas outras cidades da Inglaterra, e de alguns outros países no Reino Unido, antes de partirmos em nossa aventura por vários países da Europa. Viajamos de todas as formas possíveis e imagináveis. Viajamos de avião, de trem, de ônibus, de balsa e até pedindo carona.

Uma de nossas viagens mais marcantes, pelo menos para mim, foi quando fomos da Inglaterra para a França em um ônibus. Usamos o ônibus porque era a opção mais barata. Foram horas de uma viagem cansativa, que atingiu seu momento mais aterrorizante na hora da travessia do Estreito de Dover, pelo Eurotúnel.

Dizer que me senti como uma sardinha enlatada seria somente um eufemismo. Nós estávamos dentro de um ônibus, que estava dentro de um container, que estava dentro de um vagão, que estava dentro de um túnel, que estava a 75 metros de profundidade dentro do mar. Eu nunca desejei tanto ter comprado uma passagem de avião! Levou só alguns minutos para cruzar todo o Canal da Mancha e chegarmos novamente à terra firme. Mas foram alguns minutos absolutamente angustiantes para mim.

Posso dizer, porém, que a viagem valeu a pena. Quando finalmente estávamos em Paris, Liam saiu em um encontro romântico com uma garota que havia conhecido no ônibus, e eu me vi sozinho, caminhando pelo Campo de Marte. Me sentei em um banco para observar toda a imponência da magnífica Torre Eiffel e fiquei maravilhado com a visão.

Naquela hora, sentado ali, em um estado contemplativo, naquela cidade historicamente bela, só havia uma única pessoa com quem eu queria realmente falar. Alguém que eu sabia, sem qualquer dúvida, que ficaria extremamente feliz de compartilhar comigo aquele momento. Peguei então o meu celular e fiz uma chamada de vídeo.

— Ei, Sam — ela atendeu rapidamente.

— Ei, Becca, adivinha onde eu estou?!

Ela não precisava, de fato, adivinhar. Era óbvio. A torre estava bastante visível na tela, bem atrás de mim.

— Eu não acredito que você está em Paris! — ela falava tão alto que soava quase como um grito.

— Olha, tenho que te dizer, essa cidade é meio superestimada para o meu gosto — debochei.

— Cala a boca! É a cidade mais linda do mundo! Não acredito que você foi a Paris antes de mim. Era para eu estar aí, não você!

Nós rimos e conversamos por mais de uma hora. Eu caminhei pela avenida Champs-Élysées, com o celular em mãos, filmando tudo, para que ela pudesse ver. Fiz uma pequena parada em um café e comi enquanto continuávamos conversando. Terminei a ligação parado, de pé, debaixo do Arco do Triunfo. Rebecca ainda estava emocionada quando desligamos. Aquele foi, sem sombra de dúvida, o ápice da minha viagem, apesar de termos nos falado por telefone várias outras vezes, antes e depois daquele dia.

Da França, fomos à Espanha, e de lá para Portugal, depois Itália, Suíça, Alemanha, Bélgica e, por fim, Holanda. De lá, retornamos a Londres, de onde partiria nosso voo de volta para casa. Foram viagens inesquecíveis, vimos lugares incríveis, paisagens deslumbrantes, castelos imponentes, centros históricos e tantas outras coisas maravilhosas que seria difícil descrever!

A cada nova cidade, Becca me ligava para que eu pudesse compartilhar com ela aqueles momentos. Ela também me ligou em seu aniversário, para contar que tinha ganhado um carro de seu pai. E me ligou também no meu aniversário, para me desejar os parabéns. Ela me ligava sempre.

Jessie, por outro lado, parecia não ter mais tempo para mim. Estava sempre ocupada demais. Nem mesmo no dia do meu aniversário ela arranjou tempo para falar comigo. Nunca estava disponível para um FaceTime, apenas me enviava escassas mensagens, que pareciam mais secas, indiferentes e distantes do que nunca. Sua mensagem mais emblemática de todas foi quando, certa vez, ela me enviou uma única palavra, se é que pode ser chamada assim:"sdds". Só isso. Essa mistura de letras. Assim, sem vogais, totalmente impessoal, sem graça, fria e, aparentemente, sem o menor sentimento. Se essa foi a melhor forma que ela encontrou de dizer que sentia saudades de mim, posso dizer que foi, no mínimo, decepcionante.

SOB O MESMO CÉUOnde histórias criam vida. Descubra agora