Capítulo 11
Por que eu iria querer estar preso em um hospital em vez de repousar tranquilamente em casa?
Eu não tinha a menor ideia do que doutora Rosenberg queria dizer com aquilo, assim como também não fazia ideia do que estava por vir.
Ainda com seu sorriso no rosto, ela voltou a falar:
— Agora vou deixar você na companhia de sua esposa.
— Minha esposa? — indaguei surpreso. Jessie piscou para mim por trás do ombro da médica.
— Preciso terminar as rondas — doutora Rosenberg continuou. — Volto para falar com vocês durante a tarde. Tente ficar confortável.
Ela deixou o quarto e eu ainda estava perplexo com tudo o que havia acabado de ouvir. Olhei para Jessie, que estava rindo.
— Esposa? — eu disse.
— É. Estou usando anel e tudo — ela ergueu a mão e eu vi o que parecia ser uma aliança de casamento. — Se eu dissesse que sou só sua namorada não me deixariam ficar aqui como sua acompanhante.
— E onde arranjou isso? — eu encarava o anel, sem conseguir acreditar.
— É o anel da minha mãe. Na verdade foi tudo ideia dela.
— Vocês duas são malucas!
Nós rimos. Mesmo sendo só de brincadeira, apenas o pensamento de que Jessie poderia ser minha esposa me fazia sentir uma alegria inexplicável!
— Ei, nós precisamos parar de nos ver tanto em hospitais — Jessie falou.
— Eu nunca tinha sido internado antes de te conhecer.
— É, eu causo isso nas pessoas — ela deu uma gargalhada.
— Nossa, só agora me lembrei. Eu tinha tantos planos legais para esses seus últimos dias aqui. Não quero ficar tanto tempo nesse maldito hospital!
— Não se preocupe, meu bem, eu vou estar aqui com você o tempo todo.
— Não era bem isso que eu tinha em mente quando falei que ia fazer desses dias inesquecíveis.
— É, vai ser realmente difícil esquecer estes — ela brincou. — Sabe, eu costumava detestar hospitais. Mas agora até que já estou começando a gostar deles. Você está conseguindo diminuir meu ódio por hospitais.
— Bem, o que posso dizer... Eu causo isso nas pessoas — parafraseei.
Ambos voltamos a rir.
Alguns minutos depois, minha mãe chegou e Jessie saiu do quarto permitindo que conversássemos a sós. Eu contei a ela tudo o que a médica havia me dito e ela finalmente me contou o que tinha ido fazer de tão importante naquela manhã:
— Compramos uma casa.
— O quê?
— Zane conseguiu marcar com um excelente corretor. Nós vimos 3 casas. A última estava com condições incríveis e já tinha recebido duas ofertas. Se não fizessemos uma boa proposta hoje mesmo, perderíamos a casa.
— Mãe, você nem pensou em me consultar antes?
— Eu queria que você tivesse ido conosco, querido. Mas você estava no hospital, nós não podíamos esperar. Eu sei que você também vai adorar a casa. Olha só — ela me entregou seu celular para que eu visse fotos do lugar. — Tem um jardim lindo na frente, uma área enorme nos fundos, tem até piscina. Você vai poder ter seu próprio quarto, mesmo que não vá dormir lá todas as noites. E o melhor de tudo: fica só a duas quadras daqui. Não vou ter problemas quando precisar trazer Meggie para uma consulta.
Eu olhei as fotos, sem demonstrar nenhuma animação.
— Parece uma boa casa.
— Me desculpe, filho — ela falou, notando meu descontentamento. — Mas nós não podíamos perder essa oportunidade.
— Eu entendo.
— Entende mesmo? — perguntou desconfiada.
— Sim, mãe.
Mamãe então aproximou-se de mim e beijou minha testa.
— Eu te amo, filho. Vou fazer de tudo para que essa casa esteja pronta para te receber no dia em que você sair daqui.
— Também te amo, mãe.
— Agora vou ver Meggie. Deixei ela sozinha a manhã toda.
— Tudo bem.
— Mais tarde eu volto.
Assim que minha mãe deixou o quarto, Jessie entrou. Ela me fez companhia até o final da tarde, quando doutora Rosenberg voltou para ver como eu estava. Checou meus sinais vitais e minha temperatura, certificou-se de que eu estivesse confortável e já estava prestes a sair, quando eu reclamei de dores e pedi também que me desse água.
— Minha boca está tão seca que sinto como se não bebesse água há um ano — queixei-me.
— Bem, devo te dizer que você está iniciando o processo de desintoxicação e esses são alguns dos primeiros sintomas de abstinência.
Abstinência?! Ouví-la dizer aquilo me causou um arrepio na espinha.
— E o que vem depois, doutora?
— Eu não quero te assustar, quero que relaxe. Mas você precisa saber que vai passar por alguns maus bocados. É muito bom que sua esposa e sua mãe estejam ambas aqui com você. É um homem de sorte!
Olhei para Jessie enquanto a médica falava aquelas palavras, e ela sorriu para mim.
— Eu quero saber, doutora. Por favor, me diga! O que vai acontecer comigo? — insisti.
— Bom, isso varia de paciente para paciente — ela pestanejou só por um momento. — Mas alguns dos sintomas mais comuns incluem vertigem, secura na boca, fadiga, insônia, dores, falta de ar, irritabilidade e às vezes até alucinações.
É, talvez ela estivesse certa desde o princípio. Talvez eu não quisesse mesmo saber. Porque, agora que eu sabia, eu estava sentindo muito medo. Não só um medo qualquer, mas um pavor terrível! Medo como nunca antes havia sentido na vida. Medo do que ainda estava por vir.
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SOB O MESMO CÉU
RomanceLivro 2. A sequência da história de Sob a Luz do Sol. Este é o segundo livro da trilogia.