46° Capítulo

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Um desagradável zumbido me acorda no meio da noite. Quase tinha me esquecido que o Harry estava no meu quarto. Como é que acabamos sempre juntos? E o mais importante, de onde é que vem aquele barulho irritante? Sigo o som e isso me eleva até ao bolso do Harry, é claro que sim. Aquilo pára quando chego à minha cama então eu demoro um segundo para perceber como o Harry parece pacífico enquanto dorme. Não há nenhuma dobra na sua testa por causa de ele andar constantemente franzindo ela, e não há nenhuma respiração ofegante saindo dos lábios cor-de-rosa. Eu suspiro e me viro e logo o zumbido volta novamente. Levo a minha mão para baixo e tento chegar no bolso dele, se as calças não fossem tão apertadas eu provavelmente conseguiria tirar o telefone de lá, mas não tenho essa sorte. 

"O que é que está fazendo?" ele murmura. Os meus pés se afastam poucos metros da minha cama. 

"O seu telefone estava tocando e me acordou." sussurro, apesar de sermos as únicas pessoas que estão no quarto. Vejo ele em silêncio enquanto ele vasculha o bolso com as suas mãos grandes, mas ele tira o telefone e atende.

"O que é?" Ele diz bruscamente. Alguns segundos depois, ele revira os olhos e bate com a mão na testa.

"Eu não vou voltar hoje à noite, estou na casa de uns amigos." Somos amigos? Claro que não, ele está apenas dando uma desculpa ao porquê de ele não voltar. Fico embaraçada e mudo o meu peso de uma perna para a outra. 

"Não, não pode ir para o meu quarto. Você sabe disso, vou voltar a dormir agora, por isso não me acorde outra vez, e a minha porta está trancada, então não perca o teu tempo tentando entrar." ele desliga e eu recuo instintivamente, ele está de mau humor e eu não quero sofrer as consequências da sua má atitude. Volto para cama da Steph e pego o cobertor que estava no chão, que eu deixei cair na minha tentativa de encontrar o ruído.

"Desculpa pelo meu telefone te ter acordado." diz ele em voz baixa. "Era a Molly." O aborrecimento que sinto por ela nunca varia. 

"Oh." suspiro e me deito no meu lado, de frente para a minha cama do outro lado do quarto. Ele me dá um pequeno sorriso como se soubesse o que eu estou pensando sobre a Molly. Não posso ignorar a pequena bolha de emoção que sinto por ele estar aqui em vez de estar com ela, embora as suas ações não façam sentido para mim. 

"Não gosta dela, não é?" Ele rola para o lado para olhar para mim e eu balanço a cabeça. 

"Na verdade não, mas por favor, não diga nada. Não quero qualquer conflito ou drama adolescente." imploro. Eu sei que não posso confiar nele, mas espero que ele se esqueça de me torturar com estas informações. 

"Eu não conto, eu também não gosto muito dela." ele murmura e revira os olhos. 

"Sim, você parece mesmo não gostar dela." A minha voz soa tão sarcástica quanto eu pretendia.

"E não, quer dizer ela é divertida e tudo, mas é muito chata." ele admite fazendo com que essa bolha cresça mais uma vez. 

"Bem, talvez devesse parar de brincar com ela." Sugiro e rolo sobre as minhas costas para que ele não possa ver a minha cara.

"Existe alguma razão para que eu não deva mais brincar com ela?" 

"Não. Quer dizer, se acha que ela é irritante, então porque é que continua?" Eu sei que não quero ouvir a resposta, mas pergunto mesma assim. 

"Para me manter ocupado, acho eu."

Fecho os olhos e respiro fundo. Falar sobre o Harry "brincar" com a Molly me dói mais do que devia.

"Vem deitar comigo." ele interrompe os meus pensamentos ciumentos. 

"Não."

"Vamos lá, deita comigo. Eu durmo melhor quando está comigo." ele admite e eu me sento e olho para ele.

"O quê?" não consigo esconder a minha surpresa com as palavras dele. O que quer que elas signifiquem ou não, elas fazem com que eu derreta. 

"Eu durmo melhor quando está comigo, na semana passada dormi melhor do que há muito tempo." ele quebra o contato visual comigo e olha para baixo. 

"Provavelmente foi a bebida e não eu." Eu tento fazer com que a sua confissão não seja tão importante, não sei mais o que fazer ou dizer. 

"Não, foi você." ele me assegurou disso. 

"Boa noite Harry." Me viro, se ele continuar dizendo estas coisas e eu continuar ouvindo, eu estarei outra vez nas mãos dele.

"Porque é que não acredita em mim?" Ele quase sussurra. 

"Porque você sempre faz isso, diz algumas coisas boas e depois muda completamente e eu acabo chorando." 

"Eu te faço chorar?" Como é que ele não sabe disso? Ele já me viu chorando mais vezes do que qualquer pessoa que eu conheça.

"Sim, muitas vezes." Me sinto emocional novamente. 

Ouço a minha cama guinchando levemente e fecho os olhos. Os dedos dele passam pelo meu braço enquanto ele se senta na beira da cama da Steph. É tarde demais, bem, cedo para isto. São quatro da manhã.

"Eu não quero te fazer chorar." 

"Mas faz. É essa a sua intenção cada vez que me diz coisas ofensivas. E quando me forçou a dizer ao Noah sobre nós. Por exemplo, você acabou de dizer que dorme melhor quando estou por perto, mas se eu me deitar contigo, no segundo em que acordarmos vai começar a dizer que sou feia, ou que não me suporta. Você me humilhou depois de termos saído do riacho, eu pensei que... não importa. Há tantas vezes em que posso ter esta conversa contigo." Eu respiro. 

"Estou ouvindo agora." Os olhos dele estão ilegíveis. 

"Eu só não sei porque é que gosta tanto de jogar este jogo, brincar de gato e rato comigo. Está simpático, e depois mau. E eu ouvi você dizer à Steph que iria me arruinar se me visse por perto, em seguida, queria me levar para o quarto. Simplesmente você é muito complicado de entender."

"Eu não estava falando sério. Que eu iria te arruinar, eu só... Eu não sei, apenas digo coisas às vezes." ele se defende.

"Porque é que deixou a aula de Literatura?" pergunto finalmente.

"Porque você quer que eu fique longe de você, e eu preciso ficar longe de você." 

"Então, porque é que não fica?" Eu estou um pouco consciente da mudança na energia que nos cerca. De alguma forma, nós nos aproximamos, os nossos corpos estão a poucos centímetros de distância. Parece que há sempre uma força magnética entre nós que nos atrai.

"Não sei." suspira. Ele esfrega as mãos e, em seguida, as descansa sobre os joelhos. 

Eu quero dizer algo, qualquer coisa, mas não consigo lhe dizer que não quero que ele fique longe e que eu penso nele a cada segundo de cada dia. 

"Posso te perguntar uma coisa e você vai ser completamente honesta?" ele finalmente quebra o silêncio. Concordo com a cabeça. 

"Será que você... você sentiu a minha falta nesta semana?" isto foi a última coisa que eu esperava que ele me perguntasse.

AFTER (Tradução Português/BR)Onde histórias criam vida. Descubra agora