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— Você deveria ter pegado mais leve com eles. Eles são nossos convidados — Daehan falou, seguindo Rose até seus aposentos e fechando a porta atrás de si.

— Deveria tê-los mandado para as masmorras por me espionar — disse ela, olhando para seu irmão. — Essa celebração nunca foi uma boa ideia.

— Sério? Eles não são espiões. Não estão aqui para tentar contra a sua vida, Rose — suspirou. — Está sendo paranoica como papai com toda essa história de “Não confie em ninguém.”

Daehan arrependeu-se assim que essas palavras escaparam de seus lábios. Rose agora o encarava séria. Ela odiava ser comparada a seu pai, e ele sabia disso.

— Eu não sou como ele — falou pausadamente para que aquelas palavras se fixassem bem na mente de seu irmão. — Não me compare novamente com aquele homem.

Ela não disse pai. Talvez nunca o houvesse considerado um.

— Agora saia — disse ríspida. — Preciso me trocar. Chame o Robert, há um assunto importante que quero tratar com ele.

Daehan assentiu em silêncio e andou até a porta.

— Me desculpe — falou com a voz pesada.

Ele sabia que aquilo havia magoado Rose. Ela nunca fora a melhor das pessoas, mas não suportava ser comparada a seu pai.

Rose e seu pai nunca tiveram um bom relacionamento. Ele nunca gostou do fato de que a próxima pessoa da linhagem Valeri que assumiria o trono seria uma mulher. Lucius sempre culpara a Rainha Anna por não ter lhe dado um herdeiro homem.

A situação amenizou-se um pouco com a chegada do Príncipe Daehan, cinco anos mais tarde. Porém, Daehan nunca demonstrou interesse em governar. E isso deixou o Rei ainda mais furioso.
Rose fora treinada para o governo desde cedo. Não era permitida ter amigos, brincar ou sair do Castelo, mas ela sempre dava um jeito de fugir.
Foi numa dessas escapadas que conheceu Robert.

Ela estava visitando as ruas da Capital pela primeira vez aos dez anos, quando viu um dos guardas do Palácio ameaçando um jovem menino, ele o acusava de tê-lo roubado.

Estou lhe avisando garoto, você não vai gostar de me ver irritado. Você sabe o que fazemos com ladrãozinho como você? Nós damos uma boa surra e cortamos as mãos.

Segurava o braço do menino fortemente. Robert olhava para todos que passavam, pedindo ajuda, mas ninguém parecia se importar.

Solte-o — Rose ordenou.

Aquele guarda a olhou de canto de olho, não lhe dando muita atenção.

Vá embora pirralha, ou vai acabar como ele. — Desferiu um tapa no rosto daquele menino que agora chorava.

Perderá sua mão por isso — Rose falou autoritária.

O guarda lhe encarou por mais alguns segundos e arregalou os olhos com espanto ao notar suas vestes nobres e a pequena coroa em sua cabeça.

Alteza? — gaguejou, ajoelhando-se ao ver Rose concordar. — Perdoe-me Alteza, eu não a reconheci. Por favor, não conte nada a seu pai. Serei enforcado.

— Deixe o garoto em paz e talvez eu poupe sua vida.

O homem concordou rapidamente. Soltou o menino e apressou-se para ir embora.

Mas antes, você o deve um pedido desculpas. — Apontou em direção do garoto que olhava toda aquela cena com espanto.

O guarda virou-se em sua direção, em seu rosto estava claro o desprezo que sentia, mas não podia contrariar a jovem Princesa.

Perdoe-me garoto — falou baixo.

Desculpe-me, mas eu não ouvi direito. — Rose aproximou a mão de sua orelha e inclinou-se teatralmente para frente, como se tentasse ouvir o que o guarda falava. Ela sorria.

O garoto agora se divertia com toda situação.

Desculpe-me — falou alto dessa vez.

Você pode ir agora — Rose falou e o guarda saiu depressa, depois de fazer uma reverência.

O garoto andou até ela. Ele era alguns bons centímetros mais alto.

Obrigado. — Sorriu largamente e logo completou: — Vossa Alteza.

Me chamo Rose. — Rose estendeu a mão para que ele a cumprimentasse.

Robert — falou, apertando a mão da jovem Princesa que acabara de salvar sua vida. Depois daquele dia, Robert sempre permaneceu do lado de Rose. Tonaram-se amigos.
    
Após a saída de Daehan, Rose permaneceu parada próxima à janela de seu quarto. Estava perdida em pensamentos de sua infância.

“— Não confie em ninguém, Rose.” A voz de seu pai ecoava em sua mente.
  
Alguns minutos depois de Daehan sair, Rose ouviu batidas em sua porta, era Robert.

— Você me chamou? — falou, entrando.

— Sim. Tenho algo para lhe mostrar. — Foi até uma pequena mesa onde havia muitos pergaminhos. — Aqui está.
Entregou um pequeno pedaço de pergaminho a Robert, que analisou curioso. O pergaminho estava manchado de sangue. Nele não havia selo ou assinatura.

Robert levantou os olhos para Rose que o encarava paciente. Voltou sua atenção ao papel e percebeu algo escrito no fim da folha, em letras pequenas quase ilegíveis.

Rua das Pedras, 13.

Franziu o cenho.

— Rua das pedras? Isso é um endereço? — Devolveu o pergaminho a Rose.

— Isso estava com o líder do grupo que atacaram os nobres nas redondezas do Castelo. Ele confessou que um homem o havia contratado, talvez esse seja o local em que eles se encontravam. Preciso que verifique esse endereço para mim.

Robert concordou prontamente. Sempre fez tudo que estivesse ao seu alcance para ajudar Rose.

— Posso levar alguns dos guardas?

— Leve quantos forem necessários — disse, se aproximando de Robert. — Eu confio em você.

Robert sorriu.

— Obrigada, Majestade — disse e sorriu ao ver Rose soltar um suspiro de reprovação.

Ela não queria ser tratada como Majestade por ele. Robert era uma das pessoas a quem Rose mais confiava. Ele esteve com ela em todos os momentos difíceis nesses últimos dez anos de reinado. Ele a ajudou muito. Não era apenas um Conselheiro, era parte da família.

— Tenha cuidado. — Sorriu.

— Eu terei — falou e, curvando-se, se despediu da Rainha.

A Rainha de Ennord Onde histórias criam vida. Descubra agora