A manhã seguinte havia chegado e com ela, o aniversário de reinado da Rainha.
Os terrenos do Castelo estavam ocupados por tendas e barracas com diversas atrações para o público. Havia a barraca do ferreiro, com espadas, escudos, cotas de malha e tudo que um guerreiro precisava em suas batalhas. Muitos homens estavam em volta.
Havia também barracas de frutas e comidas exóticas, provenientes dos outros reinos. Algumas pessoas se aproximavam em curiosidade.
Malabaristas, bobos da corte e ilusionista faziam suas apresentações, atraindo olhares de espanto e admiração.
Thomas andava admirado por entre as tendas. Era a primeira vez que via uma comemoração tão grandiosa quanto aquela. Havia centenas de pessoas presentes, tanto nobres quanto plebeus.
Passou pela tenda das bebidas mais caras dos reinos e sorriu ao ver que Daehan era uma das pessoas que estavam em volta dela. Caminhou por mais alguns metros, observando as pessoas e as atrações, até que uma tenda em particular chamou a atenção do jovem. Era uma tenda escura de onde saía uma leve fumaça.
Não havia ninguém esperando em volta da tenda, diferente das outras.
No topo dela, havia um letreiro escrito à mão. Apenas uma palavra estava escrita. Destino.
Destino? Thomas ficou curioso com aquela misteriosa tenda.
Uma cortina um tanto transparente era usada como porta, e não era possível ver o interior da tenda a menos que chegasse perto o suficiente dela. Aproximou-se curioso e afastou o tecido para um lado, para que pudesse entrar. O interior da tenda seria completamente escuro se não fosse por algumas poucas lamparinas que eram usadas como fonte de luz. Thomas piscou os olhos para conseguir se acostumar com a ausência de luz naquele lugar, e um cheiro forte de incenso fez sua cabeça doer.
No centro, havia uma mesa redonda com duas cadeiras, em uma delas estava uma senhora de cabelos ralos e grisalhos, que trajava vestes negras e visivelmente gastas. Ela levantou seu olhar até encontrar o de Thomas, que se espantou com a cor dos olhos daquela senhora. Era de um azul muito claro, quase branco.
— Olá, querido — cumprimentou a mulher sorrindo. — Sente-se e pergunte-me o que quer saber.
Destino. Thomas percebeu do que se tratava aquela tenda.
— Desculpe-me, eu estava apenas curioso e entrei — Thomas falou e sorriu minimamente sem graça. — Já estou indo.
— Não há nada que queira saber? Sobre o seu futuro? — perguntou, fazendo Thomas sorrir. — Você não acredita?
— Não. — O ceticismo lógico de Thomas não o permitia acreditar em tal coisa. Ninguém podia prever o futuro. Para ele, eram apenas truques.
— Então, deixe-me ler sua mão — falou a mulher, estendendo a mão magra na direção de Thomas. — O futuro pode reservar coisas boas e ruins, mas se você não acredita, não há o que temer. Certo?
Thomas encarou relutante a mão daquela senhora, mas concordou. Estendeu sua mão para a mulher e sentou-se na única outra cadeira que havia ali.
Observou em silêncio por alguns minutos a mulher à sua frente que estava concentrada demais em ler algo inexistente em sua mão.
— Você é um jovem de família nobre — disse o olhando.
Thomas sorriu.
Sério?
— Isso qualquer um saberia, a julgar pelas minhas vestes — Thomas falou com desdém. Apesar de vestir roupas casuais, suas vestes eram de um nobre tecido da loja de seu pai. Não seria difícil adivinhar que ele era um nobre, ele estando vestido daquela forma.
A mulher sorriu, mostrando dentes tortos e amarelados, mas rapidamente ficou séria.
— Você desempenhará um importante papel na história — falou o encarando profundamente, o deixando um tanto desconfortável. — Porém, tenha cuidado.
Thomas franziu o cenho.
— Que papel? Cuidado com o quê?
— Saberá quando for o momento. — Soltou a mão de Thomas que a olhava confuso. — São três moedas de prata.
— Só isso que tem a me dizer? — perguntou incrédulo e a mulher assentiu.
Thomas tirou as moedas de seu bolso e as entregou para a senhora. Se levantou, indo rapidamente em direção à saída.
Sabia que não devia ter concordado com aquilo. Aquela mulher não lhe dissera mais que meras palavras. Palavras sem sentido algum. Ele se sentia enganado e xingava mentalmente a si mesmo por ter sido idiota em cair em um truque tão antigo.
— Aquilo que procura está mais perto do que pensa, Thomas — disse a mulher, o fazendo parar e virar para encará-la. — Mas a sua felicidade será o lamento de muitos. Lembre-se, o amor e o ódio caminham juntos.
Thomas apenas acenou com a cabeça e saiu da tenda. Estava confuso, não havia entendido o que aquela mulher queria dizer.
“Você desempenhará um importante papel na história.”
Mas que história?
Chegou à conclusão de que aquela mulher era realmente maluca, enquanto andava por entre as tendas novamente, e pensava sobre a conversa que havia tido com ela. Nada do que ela havia dito fazia algum sentido para ele.
Ainda perdido em pensamentos, ouviu alguém o chamar.
— Thomas!
Virou-se e viu seu pai correr ao seu encontro.
— Aconteceu algo? — perguntou preocupado.
Lorde Marcell negou enquanto recuperava o fôlego, com as mãos apoiadas em seus joelhos. Sorriu e encarou seu filho.
— Tem algo que eu quero que você faça.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...