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Thomas, segurando a mão que o homem que o vencera o havia estendido, levantou-se com dificuldade e, com a outra mão pousada sobre o local em que havia sido chutado, olhou um pouco triste para seu pai. Andou de encontro a ele, com passos lentos por causa da dor, enquanto ouvia alguns elogios e lamentações das pessoas ao redor.

— Você está bem? — Lorde Marcell perguntou.

— Estou — mentiu. — Eu queria ter vencido. Me desculpe, pai.

— Está tudo bem, filho. — Seu pai sorriu e tocou seu ombro carinhosamente. — Você se saiu muito bem.

Thomas sorriu, fingindo animação. Olhou novamente para Rose. Ela não parecia chateada ou irritada, mas Thomas, desde o primeiro dia em que a viu, nunca conseguiu de fato ler suas expressões. Ele sentia-se culpado. Culpado por ter decepcionado seu pai na frente de todos e mais culpado ainda em relação à Rose.

Robert esperou que todos fizessem silêncio para então falar.

— Esses foram os duelos de hoje. Amanhã teremos a segunda e última fase do torneio, onde o vencedor receberá quinhentas moedas de ouro e uma propriedade ao Norte.

Todos gritaram e Robert fez sinal para que se calassem.

— Agora teremos o esperado duelo entre Sua Majestade e o Rei de Oris.

Saiu do centro do Grande Pátio e foi em direção à Rose.

— Seus campeões estão prontos? — perguntou para Rose e para Joseph.

Joseph sorriu olhando para Rose.

— O meu campeão está pronto. — Apontou para o seu guarda pessoal, Farrow, que fez uma reverência e posicionou-se no centro do pátio. — E quem é o seu campeão, Vossa Majestade?

Rose, que estava olhando para Robert, sorriu e virou-se para encarar Joseph.

— Eu. — Levantou-se de sua cadeira e pegou sua espada que estava com Robert. Ele havia mandado buscar a espada, pois desconfiava que Rose seria a pessoa a duelar por Ennord, conhecia ela muito bem.

Rose desceu os degraus e seguiu na direção de Farrow, que a olhava confuso. Assim como todos ali.

Os rostos espantados de todos fizeram Rose sorrir. Eles não imaginavam que ela duelaria, nem ela imaginava isso, mas havia feito uma aposta e nunca permitia que alguém lutasse em seu lugar.

Ficou feliz pela escolha de suas roupas para aquele dia. Não estava usando os tradicionais vestidos da realeza, que um evento como aquele exigia, mas usava um dos seus conjuntos incomuns. O toque sofisticado era dado pelo tecido nobre dourado, com os detalhes das rosas bordadas em fios de ouro nas mangas compridas e na gola alta.

— Pronto? — perguntou, encarando Farrow, enquanto brincava com sua espada dourada.

Aquele gesto simples prendeu toda a atenção de Thomas. Ele lembrou-se de quando a viu pela primeira vez. Quando viu o Cavaleiro.

— Vossa Majestade tem certeza?

Farrow a encarava com uma expressão de desdém. Ele era um homem alto e forte, mais da metade de seus trinta e cinco anos ele passara sendo guarda pessoal de Joseph. Enfrentou vários tipos de inimigos, mais velhos e mais preparados que Rose.

Vendo que a Rainha não trajava armadura, Farrow, orgulhoso, retirou a sua e sorriu. Rose abriu um sorriso satisfeito e balançou sua cabeça negativamente.

— Isso foi um erro.

Rose sabia o que Farrow pensava sobre ela, assim como muitos outros guerreiros que ela havia enfrentado antes. Eles subestimavam a sua capacidade. Farrow a encarava com um ar de superioridade, como se Rose não tivesse a menor chance contra ele, e isso a fez sentir mais vontade de enfrentá-lo. E vencê-lo.

Não falou mais nada, apenas ergueu sua espada na direção de Farrow que entendeu o gesto e avançou.

Farrow era rápido e demonstrava ter bastante habilidade em luta, nada que Rose já não esperasse. Mas o tamanho de Rose em relação a ele era uma vantagem. Juntamente com sua espada comprida e leve, que a permitia cortar o ar entre deles com mais facilidade que a grande e pesada espada de Farrow.
Esse foi um dos motivos dela ter escolhido aquela espada para ser sua. Nunca se esqueceu dos ensinamentos de Marcus sobre duelo. Ele sempre dizia que uma espada boa fazia um bom guerreiro.

Como aquele não era um duelo de verdade, Rose apenas se esquivava dos ataques de Farrow e o acertava com alguns golpes menos intensos, o que fazia todos que assistiam cair na gargalhada. Rose sorria a cada golpe que acertava, ela estava se divertindo, e sua diversão aumentava a cada momento em que olhava para Joseph e o via com uma expressão fechada, não parecendo muito feliz.

Depois de deixar todos aproveitarem o show por alguns minutos, Rose achou melhor acabar de vez com aquele duelo. Afastou-se alguns passos para trás, baixou sua espada junto ao corpo e olhou para Farrow, o desafiando.
Farrow, que estava com o rosto vermelho pela raiva de não ter acertado um golpe sequer, gritou e correu na direção de Rose. Ela, bloqueou o golpe com sua espada e desviou rapidamente com um elegante giro, parando atrás de Farrow e chutou suas costas, o fazendo cair de bruços no chão.

Os gritos e gargalhadas da multidão que os assistiam ficaram ainda mais altos. Eles gritavam elogios para Rose que os agradecia cordialmente. Não que aqueles elogios significassem alguma coisa, ela sabia que era boa, mas alimentavam seu ego.

Rose estendeu a mão para Farrow, que permanecia olhando-a ainda sentado no chão de pedras. Ele ergueu sua mão direita e aceitou, relutante, a mão estendida da Rainha.

O sorriso de Rose diminuiu ao segurar a mão de Farrow para ajudá-lo a se levantar, e perceber algo em seu antebraço direito. Era uma cicatriz.
Continuou encarando o braço de Farrow que, nervoso, levou sua mão esquerda para cobri-lo.

— Foi um acidente, quando eu era criança — respondeu com um sorriso desconfortável. — Não se deve deixar crianças brincarem com fogo, certo?

— Sim. Claro. — Rose sorriu. — Também possuo algumas cicatrizes, mas são resultados das minhas batalhas.

Farrow assentiu e, curvando-se em uma reverência, deixou o pátio com Rose ainda o acompanhando com o olhar.

— Os duelos acabaram por hoje — Robert anunciou. — Amanhã os vencedores se enfrentarão e apenas um será o grande Vencedor.

A multidão começara a se dispersar, restando apenas os nobres que estavam hospedados no Palácio.

Rose caminhou lentamente até Joseph que agora não falava nada.

— Acho que você me deve algumas terras — falou séria, mas na sua voz havia uma certa diversão. — Converse com Robert e prepare os documentos. Afinal, fizemos um acordo.

— Claro — Joseph respondeu seco.

A Rainha de Ennord Onde histórias criam vida. Descubra agora