A Rainha de Ennord

14- Os Treinamentos🌹

Thomas estava observando de longe Rose comandando os treinamentos do exército. Algumas vezes ao ano, os homens tinham suas habilidades testadas para provar que ainda estavam aptos para lutar por Ennord.

O exército de Ennord era composto por vinte mil soldados. Sendo metade distribuída entres as fronteiras, e a outra metade, era responsável pela proteção das maiores cidades do reino e, principalmente, da Capital que por ser a maior e a mais rica cidade, era um alvo constante para possíveis ataques e tentativas de invasão. Além do fato de ser onde a Rainha vivia.

Com as condições atuais do reino e as possíveis ameaças, Rose mandou metade dos homens que protegiam a Capital para fortificar as bases das fronteiras e vigiar as densas florestas que havia em Ennord. Ninguém entraria ou sairia do reino sem a autorização da Rainha. Algumas centenas, também, haviam ido para Lowe ajudar na questão dos Homens Livres das Terras Independentes, que estavam invadindo o reino. Lowe era um grande país, mas suas tropas não se comparavam numericamente às de Ennord.

Os dois mil e quinhentos homens restantes na Capital estavam sendo treinados. O treinamento levava uma semana e se dividia entre vários testes. No primeiro dia, os soldados eram divididos em grupos e postos para lutarem entre si. Com esse teste era possível saber quais do exército possuíam melhor habilidade com a espada. Esses eram designados à postos de mais destaques ou, até mesmo, para serem guardas pessoais da Rainha.

Os treinamentos nas fronteiras aconteciam em tempos diferentes, sempre alternados. Os testes eram rígidos e levavam dias, não poderiam ser feitos ao mesmo tempo, pois, os soldados exaustos, deixariam as fronteiras desprotegidas.

Enquanto os grupos eram divididos para lutarem, outro foi trazido à Rose. Eram de jovens rapazes na faixa dos quinze anos. Eles queriam entrar para o exército.

— Vossa Majestade — Robert falou. Ele estava acompanhando os garotos. — Esses são os garotos que querem entrar para o exército.

Havia dez deles.

Rose os observou, um a um. Alguns sorriam, outros desviavam o olhar com medo.

— Por que decidiram entrar para o exército de Ennord? — Rose perguntou alto para que todos ouvissem.

Não houve respostas, então ela continuou:

— Se vocês acham que o exército é um lugar para diversão, devo informá-los que não é. Estão vendo aqueles homens? — Apontou para os soldados lutando entre si ao longe. — Esses homens já lutaram em muitas batalhas. Já foram feridos, quase mortos. Já viram seus companheiros de equipe sendo mortos por inimigos. Já pensaram em desistir, e alguns realmente desistiram. Os que vieram por diversão, morreram. Os que se julgavam melhor que os outros, morreram. Então, eu lhes pergunto mais uma vez: por que decidiram entrar para o exército de Ennord?

Um dos rapazes levantou a mão e Rose o deu permissão para falar.

— Alguns de nós não tem ninguém. Não tem família, uma casa ou um futuro — ele falou e os outros concordaram. — Estamos cansados de sermos tratados como ninguém pelos nobres. Estamos cansados de não esperar nada da vida além da morte. Por isso estamos aqui. Não estamos aqui por diversão, e talvez também não estejamos porque queremos ajudar a proteger o reino. Nós só queremos a chance de provar que somos úteis para alguma coisa, que somos capazes.

Rose sorriu.

— Ótimo — ela falou, olhando nos olhos de todos eles. — Antes de qualquer coisa eu quero lhes dizer que não quero soldados que possuam fé cega em mim, ou forçados a me servir. Vocês estão vindo a mim por decisão própria e caso decidam ir embora, poderão. Mas se ficarem, vocês precisam acreditar que eu sou capaz de governar o reino. Isso que faz do Killers o melhor exército entre todos, meus soldados não lutam por dinheiro, poder ou obrigação. Eles lutam porque acreditam em mim.

— Vocês serão treinados por um dos generais — Robert falou. — Os que permanecerem no final serão avaliados pela Rainha e ela decidirá se vocês são bons o suficiente.

Rose concordou.

— Vocês têm onde ficar? — perguntou para os meninos que negaram. — Robert irá providenciar aposentos para vocês. Se conseguirem entrar para o exército, vocês receberão o suficiente para comprar uma boa moradia na Capital. Ou morar em uma das residências nos terrenos do Castelo. Podem até mesmo viver no Palácio, se algum de vocês for bom o suficiente para se tornar um membro da minha guarda pessoal.

Os rapazes estavam surpresos e entusiasmados. Rose não pôde deixar de sorrir. Aqueles garotos a lembrava Daehan quando mais jovem. E ela decidiu que, mesmo se eles não passassem nos treinamentos, os daria algum outro trabalho. Não queria que eles voltassem às ruas.

Como esperado, o primeiro dia de treinamento fora muito produtivo. Os soldados ainda permaneciam com uma excelente habilidade em luta, o que deixou Rose feliz. No começo de seu reinado, ela quem havia treinado alguns deles. E esses, ficaram responsáveis por treinar os outros.

Os anos haviam se passado, mas continuavam ótimos guerreiros.
Já era noite, Rose passou o dia supervisionando os treinamentos e ignorando Daehan que, vez ou outra, se aproximava dela para conversar. Ela não queria conversar com ele naquele momento, não estava com vontade de ouvir as reclamações que Daehan faria. Rose sabia que ele estava irritado por ela tê-lo salvo, ele sempre ficava.

Os testes haviam terminado, o próximo seria ao amanhecer. Seriam testadas habilidades em arco e flecha.

Soldados estavam acampados nos terrenos do Castelo. Enquanto ocorriam os testes, não lhes eram permitidos voltar para suas casas, ou para seus aposentos. Eles dormiam pouco e treinavam por horas. Era como se realmente estivessem em um campo de batalha. E mesmos aqueles que já participaram de batalhas antes, deviam fazer os testes assim como todos os outros.

Rose estava em seus aposentos, lendo os papéis sobre a administração do reino. Aparentemente estava tudo correndo como o de costume. Os carregamentos de alimentos chegavam com frequência, as fronteiras permaneciam calmas e as cidades em todo o reino continuavam prósperas. Alguns ladrões e arruaceiros causavam confusão, vez ou outra, mas nada preocupante.

Rose estava mais calma. Ela ultimamente dormia menos do que o de costume, pois pensava muito sobre um possível ataque vindo de Oris. Não que agora isso não a preocupasse, ela conhecia Joseph bem para saber que ele nunca perdia uma oportunidade e estava atenta, mas, felizmente, os ânimos haviam se acalmado.

Rose lutara em inúmeras guerras, apesar de sua pouca idade. Como todos sabiam, ela não temia ter que lutar, nunca temeu. Contudo, o sonho que tinha frequentemente onde tudo estava em ruínas era facilmente revivido em sua mente. O sangue em suas mãos.
Ela sabia que se outra guerra acontecesse, seria pior que as anteriores. E ela sentia medo. Não por si, mas pelas pessoas que amava. Esse era o maior medo de Rose, ter que enterrar de novo alguém que ama.