Dançaram e sorriram por mais algumas músicas, logo Daehan separou-se de Rose para dançar com outras pessoas presentes. Rose fez o mesmo, era o baile em sua homenagem. Todos queriam dançar com a Rainha.
O primeiro foi Joseph.
— Vossa Majestade está muito bonita hoje. — Sorriu.
— Obrigada, Rei Joseph — Rose respondeu. Não queria iniciar uma conversa com Joseph. Ele tentaria convencê-la novamente a recuar com os homens no Norte.
— Estarei retornando para Oris amanhã — falou após um momento em silêncio. — Quero agradecer antecipadamente por sua generosidade em nos hospedar. Todos os meus homens foram bem tratados aqui.
Rose deu um leve sorriso.
— Meu dever como Rainha é garantir que todos no meu reino sejam bem tratados.
— Você é uma ótima Rainha. Seu pai ficaria orgulhoso, se ainda estivesse vivo.
— Se ele ainda estivesse vivo eu o teria matado — falou, deixando Joseph espantado. — Não. Ele não estaria orgulhoso.
Ao ouvir as últimas notas da música, Joseph fez uma reverência e se afastou. Rose permaneceu o observando se afastar e sua atenção logo foi direcionada à outra pessoa. O irmão de Joseph, Vince.
— Será que Vossa Majestade agora poderia dançar comigo? — Sorrindo, estendeu a mão para Rose.
Rose, assim como fez com Joseph, aceitou. Apesar de não gostar de Joseph, ela possuía uma certa relação com ele. Ambos eram responsáveis por governar grandes reinos, tinham algo em comum. Com Vince era diferente. Eles nunca trocaram mais que meras palavras e Rose achava seu comportamento um pouco estranho, suspeito.
— Espero que tenha aproveitado sua estadia em Ennord — Rose falou cordialmente.
— Sim, Vossa Majestade. Agradeço sua generosidade.
Rose apenas assentiu e ficou em silêncio.
A música havia terminado, para alívio de Rose. Antes de se afastar, Vince fez uma reverência e depositou um beijo na mão da Rainha. Ela poderia ter afastado sua mão, mas queria ver até onde ele iria.
Outra música deu início enquanto Rose ainda observava Vince se afastar.
— Vejo que Vossa Majestade está muito requisitada hoje. — Uma voz atraiu a atenção de Rose.
Virando-se encontrou um jovem mascarado. Seu traje nobre e sua máscara em tons de verde, combinava com seus olhos excepcionalmente claros.
— É o meu baile — Rose respondeu simples.
— Vossa Majestade poderia dançar comigo? — perguntou, estendendo sua mão para Rose.
Rose encarou a mão estendida em sua direção por alguns segundos, e voltou seu olhar para encarar aquele rapaz à sua frente. Ele sorria para ela.
— Certo — Rose respondeu, aceitando o pedido.
Ele a conduziu ao centro do salão. Chamariam muita atenção se não houvesse tantas pessoas dançando.
— Não sabia que gostava de dançar — ele falou, tentando dar início a uma conversa com a Rainha.
— Por que acha que sabe algo sobre mim? — Rose rebateu.
— Vossa Majestade tem razão, eu não sei nada sobre você — falou, continuando com a dança. Porém, ele estava determinado a seguir com a conversa. — Vossa Majestade foi incrível no duelo de hoje.
— Você estava no duelo? — Rose perguntou e recebendo um aceno como confirmação, continuou: — Quando chegou à Ennord?
— Eu cheguei hoje — respondeu pensativo.
— E de onde você veio? — Rose voltou a perguntar.
— De longe.
Rose esboçou um leve sorriso.
— Veio de tão longe apenas para a minha celebração? — Rose ergueu uma sobrancelha em curiosidade.
— Sim. Eu não poderia perder uma grande festa como essa. — Ele sorriu. — Felizmente cheguei a tempo de assisti-la duelando. Ouvi histórias de suas incríveis habilidades com a espada, mas fiquei realmente impressionado. Vossa Majestade foi incrível.
— Obrigada. — Rose sorriu levemente e desviou seu olhar para as pessoas dançando ao seu redor. — Você também não foi ruim hoje, Thomas.
O rapaz parou de dançar. Rose achou engraçado a forma como ele a olhava surpreso. Depois de alguns segundos se encarando, continuaram com a dança.
— Então, Vossa Majestade sabia que era eu.
— Desde o início.
— Então por que fingiu não saber? — ele a encarou, confuso.
— Eu não fingi nada — Rose falou calmamente. — Mas queria saber se você era bom com mentiras.
— Aparentemente não sou tão bom — Thomas falou sorridente. — Não foram precisos nem cinco minutos de conversa para você me descobrir.
— Não foi preciso nenhuma conversa — Rose corrigiu. — Soube que era você no momento em o vi. Ao contrário de alguns, eu reconheço pessoas mascaradas.
O sorriso de Thomas ficou maior. Ele sabia do que ela estava falando.
A música já havia terminado e outra já estava tocando, mas Thomas não queria parar naquele momento. Não quando finalmente estava se dando bem com a Rainha.
— Posso não tê-la reconhecido assim que a vi — ele falou, baixando o tom de voz para que ninguém ouvisse. — Mas eu descobri o seu segredo.
Sorriu novamente e piscou para Rose.
— Você descobriu? — Rose perguntou e Thomas concordou, ainda sorridente. — Curioso, não me lembro de você ter descoberto nada. Se me lembro bem, fui eu que lhe disse quem eu era.
— Vossa Majestade me respondeu, confirmando minhas suspeitas.
— Exatamente — Rose rebateu. — Você só tinha isso, suspeitas. E uma flecha vermelha que poderia ter sido atirada por qualquer um desse Palácio. Tudo que eu precisava fazer era ter negado.
— Por que não negou?
— Não tinha motivos para negar. — Rose deu de ombros. — Não gosto de mentiras.
— Então prefere que eu saiba seu segredo? — Thomas perguntou. — Vossa Majestade confia em mim?
— Não.
— Por que me deixar saber algo tão grande assim? — insistiu.
— Estava curiosa se você seria esperto o suficiente para descobrir. Eu vi como você olhou para a minha espada no dia em que nos vimos no meu pátio privado. Me perguntei quanto tempo você levaria para juntar as peças e você até que foi rápido, apesar de eu ter deixado as coisas bem óbvias.
— Eu estava sendo testado? — franziu o cenho. — Por quê?
— Talvez você tenha um papel importante para cumprir — Rose falou. — Ou talvez eu estivesse apenas entediada.
Rose sorriu ao ver a confusão no olhar de Thomas.
— Vossa Majestade parece confiar muito no fato de que eu não contaria seu segredo para ninguém — ele voltou a falar, após alguns segundos calado.
— Você pode gritar agora para todos nesse salão que eu sou o Cavaleiro mascarado — Rose desafiou. — Ninguém irá acreditar em você. E você provavelmente acabará preso ou morto por isso. Mas você não fará isso, não é esse tipo de pessoa.
— E que tipo de pessoa eu sou?
— Uma boa pessoa. Você procura fazer o que é certo, mas está sempre se preocupando com as pessoas à sua volta. Apesar de ter opiniões e desejos próprios, você sempre tenta fazer as vontades de seu pai. Está sempre querendo agradar os outros.
— Isso me torna um bom filho. Não acha? — Sorriu tímido.
— Talvez. Mas há algo que você tem que se perguntar, Thomas. — Ela o encarou. — Você prefere ser um bom filho ou viver sua própria vida?
Thomas não respondeu.
Estavam agora parados no meio do salão, enquanto pessoas dançavam alegremente à sua volta.
Rose o encarava e apesar de não ter ouvido de Thomas, ela sabia a resposta à sua pergunta.
— Essa é uma das milhares de diferenças que existem entre nós, Thomas — Rose falou serena. — Eu sempre faço o que eu quero.
Deu um leve sorriso para Thomas e virou-se, indo em direção à sua mesa, onde Daehan agora estava a observando.
— Quem era àquele rapaz?
— O filho do Lorde Marcell — Rose respondeu simples e Daehan sorriu.
— Vejo que estão se dando bem — Daehan falou, indicando o lugar onde Thomas estava ainda a observando de longe.
Rose sentou-se ao lado de Daehan e serviu um pouco do vinho que ele estava bebendo.
— Foi você quem disse que eu deveria pegar mais leve com ele, lembra? — Tomou um gole de seu vinho. — Ou você prefere que eu volte com as ameaças? Por mim, está ótimo.
— Não, não. Prefiro as danças.
Rose sorriu e levantou.
— Estou indo dormir — anunciou.
— Já? — Daehan perguntou incrédulo. — Você dançou apenas algumas músicas.
— Para alguém que desde o início não queria um baile, isso foi mais que o suficiente. — Depositou um beijo na testa de seu irmão e sorriu. — Não beba demais, você está responsável pelo baile. Fique atento à todas essas pessoas. Não confio em nenhuma delas.
— Às suas ordens, Majestade — Daehan falou formalmente e fez uma reverência muito exagerada.
Rose semicerrou os olhos.
— Criança...
O sorriso de Daehan aumentou.
Rose sorriu e correu os olhos por todo o salão. Franziu o cenho e voltou sua atenção para Daehan que estava concentrado demais em beber uma taça de vinho, saboreando cada gole.
— Onde está o Robert? — perguntou, fazendo Daehan também olhar em volta, procurando.
— Não o vi desde o duelo — Daehan falou confuso. — Estranho, por que ele não estaria aqui para o seu baile? Ele quem ajudou a organizar tudo.
— Bem, ele deve ter seus motivos. — Rose deu de ombros. Provavelmente não havia acontecido nada grave. — Estou indo agora, boa noite.
— Boa noite, irmãzinha.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...