— Vossa Majestade não preferiria uma carruagem? — Thomas perguntou, enquanto observava Rose montar Dark.
— Por quê?
— Seria mais confortável — Thomas falou lógico.
Rose sorriu levemente e aproximou Dark do branco cavalo em que Thomas estava montado. Dark continuava sendo o maior cavalo que Thomas conhecia.
— Você me toma por uma rainha que viaja em lindas carruagens de luxo, que passa o dia bordando vestidos e que nunca tomou nenhuma decisão importante na vida a não ser qual joia usaria. — Rose o encarou. — Eu não sou como as rainhas sobre as quais leu, Thomas. Está em Ennord há meses, já devia saber disso.
Thomas sabia. Rose não era, nem de longe, igual a qualquer outra pessoa. Ela era forte, determinada, ameaçadora e cruel quando necessário. Era estrategista, nunca decidia fazer algo sem total certeza de que obteria sucesso.
Ela era única. Nunca houve na história dos Quatro Reinos uma Rainha igual a ela. Na opinião de Thomas, era esse um dos motivos dela ser tão respeitada por todo o reino. Todos a admiravam por ter conseguido, com muito sucesso, subir ao trono e governar sabiamente durante todo esse tempo. Muitos a julgaram quando decidiu levar os exércitos e de Ennord à guerra, mas quando Rose voltou vitoriosa de todas as batalhas, reconheceram a boa governante que ela seria.
E estavam certos. Nenhum outro rei na história de Ennord, alcançou tanto sucesso quanto Rose. Nenhum deles venceu tantas batalhas. Nenhum deles soube controlar tão bem os nobres e os súditos. Ela sabia o que falar para fazê-los amá-la. Sabia o que dizer para que eles a respeitassem e, muitas vezes, a temessem. Mas ela nunca proferiu palavras mentirosas para seus súditos, sabia que não precisava.
Chegaram a Olor antes do anoitecer, como previsto. O clima estava um pouco frio, o fim do outono se aproximava e os ventos do inverno sopravam cada vez mais.
Se hospedaram na casa de um dos nobres de Ennord. O Lorde Mance foi muito generoso e hospitaleiro providenciando os melhores quartos para eles. Rose havia decidido se hospedar em uma das estalagens da cidade, mas o Mance ficou sabendo que a Rainha estava na cidade e a convidou para passar a noite em sua casa. O Lorde Mance era viúvo e não possuía filhos, sua casa era enorme e cheia de empregados para que ele não se sentisse solitário. Era um bom lugar para se passar a noite, melhor do que as estalagens das estradas.
Como Olor era a penúltima grande cidade que eles passariam antes de chegar em Ellorn, aproveitaram a estadia para descansar bastante nas confortáveis camas em um quarto aquecido pelas grandes lareiras. Não haveria tanto conforto nas pequenas vilas que ficavam entre a última grande cidade e Ellorn.
Rose acordou assim que amanheceu. Ela não havia conseguido dormir muito bem, havia tido outro pesadelo. Aproveitou a grande banheira que havia nos seus aposentos, para tomar um demorado e quente banho. Vestiu um de seus habituais e confortáveis conjuntos e saiu em direção às escadas que davam acesso à sala de refeições, encontrando seus guardas, Thomas e o Lorde Mance sentados prontos para o café da manhã.
Todos se levantaram quando a viram se aproximar.
— Vossa Majestade — Mance falou cordialmente. — Como passou a noite? Espero que os aposentos tenham sido de seu agrado.
— Foram — Rose afirmou. — Obrigada, Milorde.
— Nós estávamos a esperando, Vossa Majestade — Bryn falou. — Mas como o dia de ontem havia sido muito cansativo, decidimos não perturbá-la.
— Tudo bem. Vamos comer e prosseguir com a nossa viagem.
— Soube o que aconteceu com Vossa Majestade — Mance falou. — O envenenamento. Não consigo acreditar que o Príncipe de Oris tentou matá-la.
— As pessoas nunca são o que parecem — Rose falou divertida. — Não devemos acreditar nas pessoas, nem nas máscaras que elas usam para parecerem boas. Meu pai costumava me dizer isso.
— Quero que saiba, Vossa Majestade, que a apoiarei completamente se decidir ir à guerra — Mance falou sério. — Meus homens não são tantos quanto dos outros nobres, mas são ótimos soldados. Ficarei muito feliz em lutar ao seu lado, se isso for a última coisa que farei em minha vida.
— Eu agradeço muito, Lorde Mance — Rose falou cordialmente. — Entretanto, não tenho planos para ir à guerra. Por mais que eu me sinta extremamente bem e livre lutando em um campo de batalha, não irei tomar decisões precipitadas. Já comuniquei isso aos nobres, até onde sabemos Vince agiu só, não há provas de conspiração para me assassinar.
— Vossa Majestade ficará esperando eles tentarem novamente? — Mance rebateu.
— Sim, eu irei esperá-los tentarem novamente — Rose falou calma. — Mas estarei esperando com a minha espada em mãos e meu exército comigo.
— Você me lembra seu pai — Mance lembrou com um pequeno sorriso cansado no rosto. — Lutei por Ennord em algumas batalhas lideradas por ele. Ele era um excelente guerreiro.
— E um péssimo pai — Rose falou, dessa vez mais séria. Mance voltou sua atenção ao seu prato e Thomas, que permanecia em silêncio, observou Rose por alguns segundos.
Thomas não sabia como Rose se sentia. Ele nunca saberia, sempre teve um ótimo relacionamento com seus pais, apesar de alguns poucos desentendimentos ao longo dos anos. Rose, por outro lado, odiava profundamente o próprio pai, Thomas percebia que o olhar intenso dela mudava para um olhar completamente diferente — cheio de raiva e ressentimento — sempre que falava do Rei Lucius.
Deixaram a casa do Lorde Mance logo após o café da manhã, queriam chegar logo ao grande rio. Os ventos frios sopravam fortes, anunciando a chegada do inverno. Os invernos em Ennord não eram muito rigorosos, havia tempestades de neve e as estradas ficavam inviáveis por um ou dois dias, mas não demorava muito para derreter. E como na região do rio não havia construções além de quilômetros de estrada de terra e pastos, ficava muito difícil de seguir caminho quando nevava.
Passaram pelo rio antes do meio-dia e seguiram viagem, parando apenas para fazer as refeições ao longo do dia. Chegaram à Niz, a última grande cidade em que eles passariam antes de chegar em Ellorn. Dali para frente, haveriam apenas alguns poucos vilarejos.
Se hospedaram em uma grande estalagem que havia na cidade. Não era comparado ao luxo que tiveram na casa do Lorde Mance, mas ainda tinha um pouco de conforto.
Os pesadelos de Rose não a deixaram ter um boa noite de descanso. Acordou novamente no meio da noite e permaneceu em sua cama até que amanheceu. Após o café da manhã, deixaram Niz.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...