13- O Bar🌹

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Os testes aconteceram nas semanas seguintes. Thomas era mandado fiscalizar todos os grãos importados dos outros reinos, as novas armas feitas para o exército e documentar tudo para a Rainha. Ele também visitava algumas cidades próximas à Capital, para se informar sobre as necessidades da população, como estavam as fronteiras e as estradas. Thomas achou que visitar os homens das fronteiras não era trabalho para um simples escrivão, mas, como Daehan havia o dito, Robert era responsável por isso e ele não estava muito bem naquele momento.

Apesar de estar tudo completamente normal, sem nenhuma mudança ou ameaça, Thomas era mandado uma vez por semana fazer o mesmo percurso. Indo de cidade em cidade nas redondezas da Capital e, às vezes, nas principais fronteiras de Ennord para conferir se as coisas estavam como deveriam estar.

Ele não via muito a Rainha desde que começou seu treinamento para o cargo, apenas algumas poucas vezes nessas semanas em que havia se mudado para o Castelo. Ele lhe passava os relatórios de suas visitas e ela o dava algum outro trabalho para ser feito. Era um trabalho cansativo, mas ele estava determinado a se sair bem.

Via o Príncipe Daehan com frequência. Sempre que podiam, bebiam algumas taças de vinho e conversavam sobre o trabalho, ou qualquer outro assunto que surgisse. Daehan o falou que ele havia pedido à Rose para considerar Thomas para o cargo, como já suspeitado.
Thomas gostava de conversar com o Príncipe, e descobriu nele uma ótima e inesperada amizade.

Daehan sempre aconselhava Thomas, e o ajudava nos trabalhos dados por Rose. Ele sabia que sua irmã estava determinada a testá-lo ao máximo. Ela havia concordado em dar uma chance ao Thomas, a pedido de Daehan, mas havia deixado claro que não facilitaria as coisas. Quando se tratava do reino, Rose se tornava outra pessoa, mais rígida. Sem favores pessoais — de quem quer que fosse — sem questionamentos, sem pensar duas vezes. Ela sempre fazia o que era melhor para Ennord.
Thomas entendia isso. Ele, no lugar de Rose, também exigiria o máximo das pessoas. A própria Rainha o havia dito que não permitia qualquer pessoa entrar no Conselho. Bem, ele não era qualquer pessoa, e estava certo que mais cedo ou mais tarde Rose perceberia isso.

Em uma noite, após um longo dia de trabalho, Thomas estava pronto para dormir, quando ouviu batidas na sua porta. Ele estava morando em um quarto no Castelo a mando da Rainha. Era o mesmo quarto em que havia ficado desde que chegara à Ennord.

Abriu a porta e encontrou o Príncipe Daehan sorrindo.

— Você já vai dormir? — Daehan perguntou espantado.

— Estou cansado — Thomas respondeu. — Tive que fazer a relação de todos os mantimentos que chegaram ao reino. Havia centenas de sacos de grãos e outras centenas dos demais alimentos. Tive que verificar um a um.

— Deve ter sido chato — Daehan brincou.

— O que faz aqui? — Thomas perguntou. Talvez em um outro momento, aquela pergunta teria soado desrespeitosa para se fazer a um Príncipe, mas eles já estavam tão próximos que essas formalidades já não eram mais utilizadas.

— Vamos para a cidade — Daehan anunciou, estava animado. — Há um bar muito bom no centro. Conheço o dono há muito tempo, ele é um velho amigo. E o vinho de lá é o melhor da Capital.

— Estou cansado demais para sair para beber — Thomas falou. — E amanhã temos trabalho. Sua irmã não fará nada com você, mas ela irá me pendurar pelos pés se eu me atrasar para o trabalho porque passei a noite bebendo.

— Nós voltaremos cedo, por favor. — Ele juntou as mãos. — Eu não deixarei ela te pendurar pelos pés, eu prometo.

Thomas encarou Daehan. Se tinha uma coisa que ele havia aprendido sobre Daehan nessas semanas em que se tornaram próximos, era que ele nunca desistia.

— Tudo bem — Thomas cedeu e Daehan comemorou.

Thomas rapidamente trocou de roupas e eles seguiram para fora do Castelo. No pátio havia dois cavalos à espera deles.

— Não acha melhor irmos em uma carruagem? —  Thomas perguntou. — Seria mais seguro ao invés de percorrermos toda a estrada escura a cavalo.

— Thomas, são apenas cinco minutos a cavalo até o centro. Não se preocupe, eu protejo você — Daehan garantiu. — Também, nós não queremos chamar atenção.

— Você é um Príncipe, já chama atenção naturalmente. — Thomas sorriu e avaliou Daehan. Nesse momento ele notou que Daehan não estava vestido de suas roupas normais de príncipe, era uma veste comum e bem gasta.

— Disfarce — Daehan anunciou ao perceber o olhar confuso de Thomas.

— Eu não entendo — Thomas falou confuso. — Por que você precisa sair escondido do Castelo à noite e vestindo trapos? Sua irmã o proibiu?

— Não. — Daehan sorriu. — Mas eu gostaria que ela não soubesse. Tenho que vistoriar o treinamento e avaliar os novos rapazes que querem entrar para o exército nos próximos dias, não quero que Rose pense que eu não estou levando minhas responsabilidades a sério. Eu estou, só preciso de umas taças de vinho para relaxar.

— Você não acha que contar à Rose seria uma ideia melhor?

— Não. Minha irmã não me proíbe de nada, mas eu sou General do exército de Ennord. Quando se trata de assuntos referentes ao reino, Rose não permite deslizes. — Daehan sorriu e subiu rapidamente em seu cavalo. — Vamos.

Thomas também subiu em seu cavalo e os dois seguiram para fora dos portões do Castelo, para a estrada que o ligava à cidade.

Passaram todo o caminho até o centro em silêncio. Thomas estava nervoso demais com a estrada escura para poder conversar sobre algo.

Andaram por entre as ruas vazias da cidade e foram para uma parte mais distante, mais afastada das grandes casas dos nobres. Entraram em um beco onde havia algumas poucas construções de madeira, muitas delas um pouco destruídas.

No fim da rua, Thomas avistou uma pequena construção de madeira que ainda estava aberta. Uma placa com um desenho de um lobo estava no alto, presa em ambos os lados por correntes enferrujadas.

Daehan desceu de seu cavalo e o prendeu em um tronco de madeira que havia ali.

— Aqui é o lugar que falou? — Thomas perguntou, avaliando a rua e o bar.

— Sim — Daehan falou simples. — Não gostou? Você esperava um bar luxuoso? A vida no Castelo está subindo a sua cabeça.

— Não é isso — Thomas rebateu firme. — Eu só não julgaria que aqui é onde vende o melhor vinho da Capital.

— Não julgue antes de provar. — Daehan deu uma leve batida no ombro de Thomas e seguiu para dentro do bar.

Thomas entrou logo em seguida.
O bar estava vazio. Seu interior era semelhante ao exterior, não havia nada de mais. Uma decoração rústica com cabeças de animais empalhados, alguns quadros desgastados e mesas de madeira. Havia um grande balcão onde estava um homem, o limpando.

— Velho Wolf — Daehan chamou atenção do homem que sorriu ao vê-lo.

— Jovem Príncipe. Aqui novamente.

Daehan deu de ombros, sorridente.

— Esse é o Thomas — Daehan falou, indicando Thomas ao seu lado. — Wolf foi General do exército no tempo de meu pai.

— Até seu pai decidir que eu não servia mais para o posto e me chutar — Wolf completou e analisou o Thomas. — Você não é um guerreiro.

— Não. — Thomas sorriu. — Eu trabalho no Conselho real.

— E como vai Rose? — perguntou para Daehan. — Soube do que aconteceu no baile.

— Ela está bem. Não foi nada com o que ela não conseguisse lidar.

— Claro. — Ele sorriu. — Diga a ela para me fazer uma visita um dia.

— Eu direi — Daehan garantiu. — Mas agora, eu preciso de uma bebida.

— O de sempre? — Wolf perguntou sugestivo.

— O de sempre. — Daehan sorriu e sentou-se em uma das mesas, sendo seguido por Thomas.

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