3- O Príncipe🌹

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Depois daquele terrível primeiro encontro com a Rainha, Thomas tentou ficar o máximo de tempo em seus aposentos, saindo apenas para caminhar nos jardins do Castelo.

Porém, como nunca havia visitado a Grande Capital de Ennord antes, decidiu sair para conhecê-la. Passou pelos portões de ferro, que davam acesso aos terrenos do Castelo, e andou por algum tempo, mesmo que com medo, pela mesma estrada em que havia sido atacado no dia em que chegara ao Palácio. Aquela era a única estrada que levava até lá.

Chegando no centro da Capital, encantou-se com as grandes ruas movimentadas. Eram cheias de carruagens e pessoas em movimento. Muitas lojas de roupas, ferreiros, uma grande feira ao ar livre - onde vendiam frutas, pães recém-assados, leite fresco e ração para os animais. Havia, também, muitos estaleiros na Capital, que já se encontravam sem vagas disponíveis para novos hóspedes, devido ao grande número de pessoas que vieram para a comemoração dos próximos dias.
Thomas morava em uma fazenda a dois dias de viagem da Capital. Já havia conhecido algumas pequenas cidades e vilarejos ao redor do reino, mas nenhuma se comparava com àquela.

Entrou em uma loja para comprar alguns livros sobre animais selvagens que chamaram sua atenção da vitrine, e seguiu para um pequeno bar no lado oposto da rua.

O bar não estava cheio, ao contrário dos outros, esse foi o motivo de Thomas ter o escolhido, ele não gostava de lugares cheios. Sentou-se em um banco, de frente ao balcão do bar, e pediu uma dose de vinho quando o homem de feições cansadas do outro lado do balcão perguntou o que ele desejava.

Esperou por sua bebida, folheando os livros que havia comprado e, virando o rosto na direção da porta, que fazia barulho ao ser aberta devido ao pequeno sino na parte superior, observou três homens entrarem rindo alto, e sentarem em uma mesa nos fundos do bar.

Desviou o olhar e voltou a ler o livro, bebendo o vinho que o havia sido servido. Passaram-se alguns minutos, Thomas estava achando muito interessante a leitura sobre os javalis da região, mas irritava-se com o grande barulho feito por aquele trio de homens.

Tentava ao máximo ignorar as altas conversas, mas não conseguia. Ouviu diversas histórias. Elas eram sobre como um deles conseguiu capturar um grande cavalo selvagem que havia aparecido em suas terras; como o outro derrotara um guarda do reino de Oris em um duelo no centro da cidade e histórias sobre com quantas mulheres haviam dormido nos últimos dias. Aqueles homens não pareciam se importar com o fato de que estavam sendo ouvidos.

Thomas revirou os olhos e, terminando de beber seu vinho, fechou o livro, decidido a ir embora. Pagou ao homem mais do que o vinho custava - o que lhe rendeu um leve sorriso em agradecimento - e levantou-se, indo em direção à saída, mas parou quando uma conversa chamou sua atenção.

— Soube que o Cavaleiro foi visto esses dias — falou um dos homens, ele usava um grande chapéu cinza.

— Onde? — perguntou o outro. Esse possuía uma longa barba ruiva.

— Na estrada da Rainha. Ele sempre está por lá — respondeu o de chapéu, como se fosse algo bem óbvio. — Ele impediu um grupo de ladrões de atacarem um nobre. Conheci um dos guardas que foram atacados, ele me disse que o Cavaleiro era assustador.

— Ele viu o rosto do Cavaleiro? — O barbudo perguntou espantado.

— Não. Ninguém nunca viu.

Fizeram silêncio por alguns segundos, até que um perguntou:

— Quem vocês acham que é o Cavaleiro?

— Não tenho ideia — respondeu rapidamente o terceiro. Ele parecia o mais jovem do trio, e claramente não estava interessado no assunto.

— E você Luk? — perguntou o barbudo, virando-se para o homem que estava de chapéu.

O tal Luk levou a mão até o queixo e esfregou pensativo.

— Não sei, mas tenho uma teoria. — Sentou-se reto, e voltou a falar quando viu os outros dois homens aproximando para ouvir: — Já perceberam que ele nunca foi visto em outro lugar a não ser nas redondezas do Palácio?

— Dizem que ele mora na floresta.

— É, dizem. Mas não acredito nisso.

Os dois homens se entreolharam.

— Aposto cem moedas de prata na certeza de que o Cavaleiro vive no Castelo — Luk voltou a falar.

— Por que acha isso?

— Não tem como alguém viver naquelas florestas. Lá há muitos animais selvagens, é muito perigoso principalmente à noite. Já foram vistos até lobos — Luk rebateu.

— Ele é um ótimo guerreiro. Obviamente sabe se defender de animais — o que antes não estava tão interessado na conversa, falou sorrindo.

— Sim, ele é um ótimo guerreiro. Nunca soube de alguém que o venceu em uma luta de espadas, mas ouvi uma pessoa dizendo que o viu conversar com um dos guardas da Rainha. Ele pode ser um dos guerreiros do exército, isso explicaria sua grande habilidade em luta.

Terminou de falar e percebeu Thomas os observando.

Thomas apressou-se e saiu do bar, sentindo o ar quente do verão de Ennord soprar em seu rosto e seguiu na direção da estrada para voltar ao Castelo.

Não havia visto a Rainha desde o momento em que chegara, dois dias atrás.
Desde o encontro — isso se você considerar álcool, nervosismo e ameaças de morte vindo de uma Rainha um encontro — Thomas não conseguia tirar de sua mente a imagem daquelas espadas.

Eram longas e douradas.

"— A Rainha não ficou nada feliz ao saber que vocês estão atacando seus nobres" relembrou as palavras ditas pelo Cavaleiro.

O Cavaleiro parecia conhecer a Rainha. Ele conhecia os guardas do Castelo e, apesar de não ter o símbolo da Rainha estampado no peito, suas vestes negras eram de tecidos nobres. Ele com certeza era um homem rico.
Lembrou-se também da conversa que havia escutado no bar, sobre o Cavaleiro viver no Castelo.

Seria mesmo um dos guardas da Rainha o Cavalheiro mascarado? Um nobre, talvez?

Quem é o Cavaleiro?

Aquela dúvida mantinha-se frequentemente martelando em sua mente.

A Rainha de Ennord Onde histórias criam vida. Descubra agora