A estadia no Castelo era melhor do que se podia imaginar. Os aposentos eram bem espaçosos e decorados com móveis em madeira nobre, com detalhes em cobre. Havia uma grande cama no centro, ao lado uma escrivaninha que Thomas usava como suporte para seus diversos livros. E lhe era servido algo delicioso sempre que quisesse. Ele se sentia como um Príncipe.
Dentre todas as dezenas de cômodos existentes naquele lugar, o que mais chamou a atenção de Thomas foi, sem dúvida, a biblioteca.
Suas enormes estantes estavam abarrotadas de uma imensa variedade de livros. Romances, terror e — o preferido de Thomas — livros científicos. Ele havia se encantado muito com um livro sobre a diversidade das flores de Ennord, e seus usos medicinais.
Apesar de passar muito tempo na biblioteca, que quase sempre estava vazia, ele preferia ler ao ar livre. Pegou um grande livro sobre a linhagem Valeri e foi em direção às grandes portas de madeira e, ao passar pelo Grande pátio, viu chegar um grupo de guardas. Ele reconheceu o homem que os liderava, era o mesmo homem que Thomas havia visto na estrada no dia em que foi atacado.
Thomas viu Daehan sair do Castelo se aproximar, parando ao seu lado. Dessa vez não estava de armadura, usava apenas uma camisa de linho e calças de couro marrom. Thomas se achou bem-vestido demais, em comparação com o Príncipe. Ele achava que deveria sempre estar vestido elegantemente enquanto estivesse no Castelo, mas agora se sentia deslocado.
— Alteza. — Thomas fez uma leve reverência e o Príncipe sorriu.
— Rob! — Daehan falou em direção ao homem que descia de seu cavalo.
O homem se aproximou e curvou-se perante o Príncipe.
— Príncipe Daehan. — Sorriu e, com um abraço caloroso, eles se cumprimentaram.
— Esse é o filho do Lorde Marcell, Thomas — falou, indicando Thomas que os observava em silêncio. — Esse é Robert, ele é o Conselheiro Real e um guarda muito importante do exército. Só não tão importante quanto eu.
Robert sorriu.
— Só porque você é um Príncipe — falou brincalhão para Daehan que sorriu largamente.
— Meu sangue real não significa nada, ainda derroto você com uma mão nas costas.
Robert revirou os olhos e Thomas sorriu. Apesar das diferenças hierárquicas entre Robert e Daehan, eles agiam apenas como grandes amigos.
— Sua Majestade me aguarda? — perguntou.
— Você sabe que ela não gosta de ser chamada assim por você — Daehan o repreendeu, divertido.
— Rose me tem com um grande amigo. — Sorriu. — Mas ela ainda é minha Rainha.
— Vocês já foram mais que apenas amigos, se lembra? — o Príncipe falou e sorriu ao ver Robert corar sem graça.
— Isso foi há muito tempo, você sabe disso. Éramos jovens.
Thomas ainda permanecia parado ao lado do Príncipe. Estava ouvindo atentamente tudo o que eles conversavam.
Então a Rainha havia se envolvido com o Conselheiro?
— Mas você ainda sente algo por ela, não sente? — Daehan provocou.
Robert gargalhou como se tivesse ouvido a maior das piadas.
Daehan, por outro lado, o observava com uma sobrancelha erguida. Um hábito que tinha em comum com Rose.
— Você se esqueceu de que sou casado? — Ergueu a mão esquerda, mostrando um anel em seu dedo. — E que tenho duas filhas?
— Seu casamento foi apenas por interesses políticos e não por amor. Nós sabemos disso.
Quando Rose tinha dezessete anos, ela e Robert — na época com vinte e um — se envolveram. Eles eram amigos há sete anos e a amizade fora se tornando algo a mais.
Ao contrário de Robert, Rose não estava apaixonada, não procurava um amor. Ela apenas queria alguém que a fizesse esquecer, mesmo que por apenas alguns momentos, as responsabilidades de governar. Havia deixado isso claro a Robert no momento em que começaram a se relacionar.
“— Não se apaixone por mim, Rob. Não espere que eu me case com você. Prefiro você ao meu lado como amigo, ou um amante, mas não como um Rei.” Rose o dissera uma vez.
Ignorando todos os avisos de Rose, Robert se apaixonou. Pensava erroneamente que poderia mudar a mente de Rose, a fazendo se apaixonar por ele.
Temendo que se continuasse com a relação, sua amizade com Robert estaria arruinada, Rose decidiu pôr um fim em tudo. Tornando-os novamente apenas amigos.
Alguns anos mais tarde, Robert casou-se com uma bela nobre da corte. A quem Rose não conhecia. Seu pai era um homem muito influente em Ennord e pediu à Rainha a permissão para casar o Conselheiro com a sua filha.
Rose informou a Robert sobre a boa proposta, o deixando decidir e apoiando totalmente qual fosse a sua decisão. Robert, apesar de ser o Conselheiro da Rainha, não era muito querido entre os nobres de Ennord por ser de origem humilde. Então casou-se, tanto para se tornar um homem mais poderoso, quanto para, numa tentativa frustrada, esquecer a única pessoa que ele realmente amava, mas que nunca poderia ter.
Robert encarou o Príncipe por alguns segundos, como em uma batalha infantil para saber quem desviaria o olhar primeiro, e sorriu.
— Não tenho tempo para isso. Diferente de você, eu não nasci rico. Não posso me dar ao luxo de bater papo enquanto sua irmã me espera — falou, dando tapinhas no ombro do mais novo. — Paciência não é a maior das virtudes de Rose e ambos sabemos o que acontece quando ela se irrita.
Daehan pousou a mão no peito, fingiu estar ofendido com as palavras de seu amigo.
Robert deu um leve aceno em direção de Thomas e saiu, entrando no Castelo.
— Então, para onde está indo? — Daehan perguntou, virando-se na direção de Thomas.
— Eu estava indo ler. — Thomas levantou o grande livro.
— Ah! Você quer saber sobre a velha e entediante história da minha família? Eu te conto. — Sorriu. — Venha. Vamos sair para cavalgar.
Thomas queria recusar, mas não podia.
Não se recusa um convite de um Príncipe.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...