Alguns meses haviam se passado desde a briga no bar de Daehan e Thomas. Não houve mais nenhum outro acontecimento preocupante no reino, o que deixou Thomas feliz. Ele estava se saindo muito bem nas tarefas dadas por Rose, mas ainda não sabia se conseguiria a vaga no Conselho. Rose não o havia dado nenhum indício sobre esse assunto.
Estava sentado em um dos bancos do Grande jardim do Castelo, já que havia feito tudo o que Rose o mandou fazer. Ultimamente, Rose não lhe designava tantas tarefas quanto antes e Thomas não conseguia dizer se isso era algo bom ou não.
Observou uma pessoa se aproximando, era Daehan.
— Está descansando? — perguntou, sentando ao lado de Thomas.
— Já terminei com minhas tarefas de hoje e sua irmã me disse pra fazer o que eu quiser no resto do dia.
— Seu trabalho parece melhor que o meu — Daehan falou divertido. — Acho que deveria ter me candidatado para um cargo no Conselho e não no exército.
— Você mesmo disse que meu trabalho é entediante. — Thomas sorriu.
— Sim, eu disse.
— Você acha que sua irmã vai me demitir? — Thomas perguntou repentinamente.
— O quê? — Daehan o olhou confuso. — Por que está me perguntando isso?
— Ela me disse que não pegaria leve com os trabalhos, mas, nas últimas semanas, não me dá tantas tarefas quanto antes, e as que me manda fazer, são pouco importantes.
— Quer trocar de lugar comigo? Ela não me deixa parar um segundo. — Sorriu. — Não se preocupe, Thomas, se tivesse algo que você precisasse fazer, ela diria para que fizesse. As coisas estão calmas nesses últimos meses e Rose está cuidando de tudo sozinha. Mas acho que seu tempo de folga está prestes a acabar, Rose irá amanhã para uma viagem até a cidade de Ellorn.
— Ellorn? Nunca ouvi falar dessa cidade.
— Ellorn nunca foi uma cidade muito importante, mas nos últimos meses tem se tornado — Daehan explicou. — É uma cidade localizada no litoral de Ennord e, como os navios estão ficando cada vez mais populares, está se tornando uma grande cidade portuária. Rose quer transformá-la na maior de todas. Complexo de grandeza, eu diria.
Sorriu.
— Você acha que ela irá me chamar para acompanhá-la? — Thomas perguntou esperançoso. Estava com medo de que todos esses meses e o trabalho duro tivessem sido em vão. Como ele disse, faria de tudo para que a Rainha percebesse que ele era útil.
— Robert está em uma missão e como eu disse, estou bastante ocupado ultimamente — Daehan respondeu. — Também não poderia ir. Quando a Rose viaja eu quem fico responsável pelo reino.
— Espero que esteja certo.
— Já que você tem o resto do dia livre, o que acha de sairmos para nos divertir? — Daehan perguntou sorridente.
— Você está maluco? — Thomas perguntou espantando. — Não lembra do que aconteceu da última vez? Rose quase nos mata.
Daehan soltou uma gargalhada alta que fez alguns empregados e guardas que estavam próximo, o olharem.
— Você ainda tem medo da minha irmã?
— Óbvio — Thomas rebateu. — Você sabe quantas vezes ela já me ameaçou?
— Relaxa, Thomas. Eu estava brincando. — Daehan tocou o ombro de Thomas. — Paul foi capturado, mas ainda existem algumas pessoas que não gostam muito de mim.
— Você é o Príncipe mais odiado que eu já conheci em toda a minha vida — Thomas falou e sorriu.
— Eu sou o único Príncipe que você conhece — Daehan falou, se levantando. — Nos vemos depois.
Thomas ficou ali, observando Daehan se afastar. O Príncipe sempre foi muito gentil e amigável com Thomas desde o momento em que ele chegou à Ennord, assim era o Daehan. Thomas nunca pensou que se tornariam amigos, Daehan era o único amigo que ele tinha no Castelo já que, apesar de ter tido muitas conversas amigáveis com Rose, ela ainda era distante e muito reservada.
Voltou para seus aposentos e preparou uma pequena mala de viagem. Não sabia quantos dias eram da Capital até Ellorn e não sabia também se seria chamado por Rose para acompanhá-la nessa viagem, mas estava esperançoso que sim.
Decidiu ficar nos arredores da sala do Conselho, onde estava acontecendo uma reunião de rotina. O mestre da moeda, o mestre de segurança do reino e Rose estavam conversando sobre como o reino estava indo nos últimos meses. Tudo bem, como o esperado.
Ao ouvir vozes se aproximando e a porta da sala do Conselho sendo aberta, Thomas tentou disfarçar rapidamente e ficou olhando fixamente para uma das armaduras que decoravam o extenso corredor. Os dois homens que estavam na reunião passaram por Thomas, sem dar muita importância para ele. Thomas os observou desaparecerem pela grande porta no final do corredor e virou-se na direção da sala do Conselho, sendo surpreendido por Rose o encarando.
— Está procurando alguma coisa? — Rose perguntou.
— Não, não — Thomas se apressou em negar. — Eu estava só passando por aqui, foi quando vi os mestres da moeda e da segurança deixarem a sala.
Rose continuava o observando com uma sobrancelha erguida. Não importava quanto tempo passasse, quantas conversas tivesse com Rose, aquele gesto sempre deixava Thomas nervoso.
— Sei. — Foi a última coisa que ela falou antes de se virar e seguir para o lado oposto do corredor.
Thomas se apressou para segui-la.
— Vossa Majestade está indo para uma viagem? — Tentou iniciar uma conversa da forma mais casual e descontraída que conseguiu. Não queria deixar muito claro que ele queria ir junto.
— Vejo que Daehan o contou.
— Sim — respondeu. — O que Vossa Majestade pretende fazer lá?
— Quero ver como está o andamento da cidade — Rose respondeu serena. — E como está indo o comércio e os meus navios.
— É uma viagem oficial da Rainha? — perguntou esperançoso. Se fosse ela o levaria, já que o Conselheiro oficial não estava presente.
— Talvez. — Parou repentinamente e o encarou. — Por quê?
— Bem, Vossa Majestade não pode ir sozinha nessa viagem. — Thomas estava tentando dar bons motivos. — Você pode precisar de alguma coisa, de alguém que a ajude.
— Você está se oferecendo? — perguntou com uma expressão divertida.
— Eu estou sendo testado para o cargo no Conselho, certo? Ultimamente, tenho sido seu assistente pessoal. E, como o Robert não está aqui, alguma outra pessoa do Conselho deveria acompanhá-la. Eu disse a Vossa Majestade que queria ser útil, eu prometo que não irei atrapalhar.
Rose o analisou por alguns segundos.
— Tudo bem. — Voltou a caminhar. — Eu iria chamá-lo de qualquer forma.
— Sério? — Thomas estava surpreso e um pouco irritado consigo mesmo. Se não fosse tão ansioso poderia ter esperado até que Rose o chamasse, mas como sempre, ele não conseguia ficar calado.
— Sim. Acho que essa vai ser uma boa chance de você provar que será bom para o cargo, e de aprender coisas novas sobre negócios e viagens oficiais. — Parou, chegando em frente à uma porta que dava acesso à Área da Rainha, onde havia dois guardas protegendo a entrada. Era chamado assim, pois havia várias salas naquela área. Uma cozinha onde eram feitas as refeições de Rose, o pátio privado, uma pequena sala de reuniões que era usada em casos de muito sigilo e importância e, no andar superior, havia uma biblioteca e os aposentos da Rainha. — A viagem até Ellorn leva três dias, prepare bem a sua mala. Sairemos ao amanhecer.
— Claro — Thomas falou sorridente. — Obrigado.
Esperou que Rose entrasse na Área da Rainha e voltou rapidamente para seus aposentos. Estava feliz, aquela seria a melhor oportunidade para ele provar que merecia o cargo no Conselho.
Refez sua mala, agora com mantimentos necessários para vários dias, já que não sabia por quanto tempo eles ficariam em Ellorn. E deitou-se para dormir, ansioso pelo dia seguinte.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...