Não havia mais nada programado para o resto do dia. Como o baile aconteceria apenas à noite, Rose passou a tarde inteira na companhia de Edward. Aproveitaram a oportunidade de se reunir para discutirem negócios.
Caminhavam juntos, lentamente, pelos jardins vazios do Palácio. Rose ouvia atentamente Edward falar animado sobre a mais nova aquisição.
— São enormes — ele falou, gesticulando alegremente com as mãos. — Capazes de transportar toneladas de mantimentos para todo lugar. São mais rápidos do que as viagens de carruagem.
— E quem fica responsável por conduzi-los? — Rose questionou. Já ouvira os recorrentes boatos sobre enormes estruturas de madeira capazes de flutuar na água. Os chamados Navios.
— O capitão. Alguém com treinamento adequado e experiência no mar.
— Quantos homens podem ser transportados nesses navios? — Rose perguntou. Talvez a ideia de ter os navios não fosse ruim. Poderia importar mantimentos dos outros reinos.
Seus homens poderiam sair de Ennord até qualquer outro reino sem precisar passar dias cavalgando. Também seria muito útil em guerras. Poderia transportar uma grande quantidade de soldados em pouco tempo. Como os navios não eram muito utilizados, por causa do seu grande custo e o medo que algumas pessoas tinham de embarcar nas grandes construções flutuantes, as terras próximas ao mar não eram tão bem vigiadas quanto as das fronteiras, mesmo ela já possuindo soldados em todas elas. Dando a Rose a vantagem do ataque surpresa.
— Centenas! — Edward exclamou animado.
— Não me parece um mau negócio. Quantos desses você pode conseguir para mim?
— Quantos quiser. Tenho vários homens em Lowe que serão capazes de fazê-los para você em pouco tempo.
— Ótimo — Rose concordou e Edward sorriu. Era mais um acordo feito entre os dois reinos.
Continuaram sua caminhada, agora conversando sobre assuntos diversos. Rose gostava de conversar com Edward. Ele não chegava a ser seu amigo, mas um grande aliado do qual simpatizava.
Edward, assim como todos os outros reis, havia a pedido em casamento e Rose poderia muito bem ter aceitado a proposta, assim como Robert a aconselhou. Lowe e Ennord eram aliados há muito tempo, ele a ajudou quando seus parentes tentaram fazê-la renunciar.O motivo que fez Rose recusar não era — nem de longe — a aparência do Rei Edward, ele era um homem muito bonito. Seus quarenta anos não condiziam com seu ótimo porte físico. Seus olhos e cabelos castanhos, seu maxilar definido e seus músculos torneados chamavam a atenção de todas as mulheres, e também de Rose.
Ele era um homem atraente. Isso ninguém poderia discordar.Mas Rose não queria um casamento político. A ideia de passar o resto de sua vida com um estranho, por quem não possuía sentimento algum, não lhe atraía, mesmo que casar-se com Edward fosse uma ótima oportunidade de transformar Ennord em um reino mais grandioso do que já era.
Rose passou toda sua infância presenciando a infelicidade de sua mãe. A Rainha Anna havia se apaixonado por Lucius assim que o viu, e seu pai — apenas um mais um nobre de Ennord — aproveitou-se de seus sentimentos para oferecê-la como noiva para o Príncipe herdeiro.
Lucius, por sua vez, não nutria o mesmo sentimento para com Anna. Apesar da família da Rainha não possuir muitas terras, as que tinham era de privilegiada localização. Ficavam em uma região onde se encontravam grande parte das minas de Ennord. E, por isso, ela foi a escolhida. Era a única vantagem que Anna tinha em relação as outras dezenas de moças, que também queriam se casar com ele.
Como muitos príncipes na sua idade já estavam casados e com herdeiros, Lucius sentia-se pressionado por ainda estar solteiro. E, seguindo o conselho de seu pai, aceitou a oferta, casando-se com Anna.
A Rainha Anna não pareceu incomodar-se pelo fato de Lucius não possuir sentimentos por ela, ele poderia amá-la com o tempo. Foi o que ela pensou.
Rose e Edward estavam voltando em direção ao Castelo quando ouviram alguém chamar a Rainha. Robert caminhou na direção deles, estava acompanhado de uma jovem mulher, sua esposa.
— Rose. — Reverenciou. — Rei Edward. Essa é minha esposa, Ellie.
— Majestades. — Ellie curvou-se.
— Ellie? — Rose repetiu e Robert concordou. — Finalmente Robert. Depois de cinco anos de casamento, finalmente conheci sua esposa.
— É um prazer conhecê-la, Vossa Majestade — Ellie falou nervosa. Não parecia muito à vontade em relação à Rose. E não estava.
Ellie sabia do envolvimento de Rose e Robert quando mais novos. Sabia que Robert só havia aceitado a proposta de casamento feita por seu pai, porque Rose o rejeitara. Ela sabia que Robert ainda sentia algo pela Rainha e, de alguma forma que não conseguia explicar, entendia.
A beleza da Rainha fazia Ellie sentir-se intimidada. Ela não conseguiria competir, e imaginava que a qualquer momento em que Rose julgasse querer Robert de volta, ela perderia seu marido.
Ellie se sentia ameaçada, frustrada e triste.
Robert sabia dos sentimentos de Ellie em relação à Rose. Ele a havia contado sobre o que acontecera entre ele e a Rainha, antes mesmo de se casarem. Seu casamento havia sido por interesses, mas ele não queria ter que mentir para Ellie. Com os anos de casamento, ele começou a sentir um carinho por ela, mas não era Ellie a pessoa que ele amava.
Ele havia feito uma promessa a si mesmo quando aceitou casar-se com Ellie, tentaria amá-la e esquecer Rose. Sentia-se triste e a pior pessoa do mundo por usá-la daquela forma, mas ele não conseguia evitar. Não conseguia evitar seus sentimentos por Rose.
Não conseguia controlar os batimentos acelerados de seu coração toda vez que se encontrava com Rose. Não conseguia segurar o suspiro de felicidade ao ver o sorriso dela. Não o falso sorriso — forçando uma simpatia, que se tornara tão comum ultimamente —, mas o sorriso satisfeito ao alcançar uma nova conquista para o reino, o sorriso de alívio ao ver Robert ou Daehan retornarem de alguma de suas perigosas missões. E, principalmente, o sorriso e a risada sincera que sempre escapava dos lábios de Rose ao presenciar uma das várias discussões infantis entre Robert e Daehan.
Ele amava aquele sorriso. Ele a amava.
— O prazer é meu — Rose respondeu cordialmente. — E as crianças?
Rose não conhecia as meninas. Assim como não conhecia Ellie até aquele momento. Robert, em todos esses anos, nunca pareceu disposto a apresentar sua família à Rose. E ela estava ainda menos disposta do que ele. Não se importava com isso, não gostava de crianças. Perguntou apenas por educação, para deixar Ellie um pouco mais à vontade.
— Estão em casa. Elas quiseram vir, mas não achei que seria uma boa ideia trazê-las — Ellie respondeu. — Elas têm apenas quatro anos.
— Está certa. Não acho que esse é um bom ambiente para crianças — Rose falou.
Ellie apenas assentiu, ficando em silêncio.
— Bem, nós estávamos fazendo uma caminhada — Rose falou, indicando Edward. — Se nos dão licença.
Robert e Ellie reverenciaram Rose, que continuou com sua caminhada ao lado de Edward.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...