Seguiram caminhando por alguns minutos, com Daehan cumprimentando várias pessoas que passavam por eles, até que chegaram a uma grande instalação na lateral do Castelo. Um estábulo.
Alguns homens estavam trabalhando no interior do estábulo. Alimentando os cavalos, penteando suas crinas e verificando as ferraduras.
Curvaram-se ao perceber a presença do Príncipe.
— Nós sairemos para cavalgar — anunciou para um dos cavalariços, que assentiu e saiu rapidamente. — Você sabe cavalgar, certo?
Thomas percebeu que o Príncipe falava com ele.
— Ah sim! Claro — falou, correndo os olhos pelos vários cavalos que ali se encontravam, mas parou em um específico.
Um grande cavalo negro.
Daehan seguiu o olhar de Thomas até o animal e sorriu.
— Aquele é o Dark. Um nome bem sugestivo, não acha? — falou, atraindo a atenção de Thomas. — É o cavalo da minha irmã. Ele foi encontrado vagando pelos campos do Castelo, estava ferido e assustado. Minha irmã o achou e cuidou dele, ela o trata como um filho. Está conosco há alguns anos, mas só deixa Rose o montar, é ainda muito selvagem, assim como sua dona.
Sorriu.
Thomas viu as tentativas falhas dos cavalariços de pentear a crina daquele enorme animal. Ele parecia irritado, relinchava e movia-se rapidamente. Parecia realmente não gostar do contato de nenhum humano.
Alguns minutos depois, foram trazidos dois cavalos.
O de Daehan, Mary, era uma égua branca muito bonita e dócil.
— Esse é o Bri — Daehan falou para Thomas, apontando para o cavalo que fora trazido para ele.
Era um grande cavalo marrom escuro.
Thomas fez carinho em Bri por alguns segundos e sorriu. O cavalo parecia gostar dele.
Depois de se prepararem e montarem em seus cavalos, Daehan e Thomas saíram do estábulo, e foram passear pelas grandes terras do Castelo.
O Castelo ficava em uma região um pouco mais alta, comparada com o centro da Capital. Havia apenas a estrada que dava acesso à grande construção e à sua volta, quilômetros de pastos livres e densas florestas.
Passaram por uma ponte de madeira sobre um pequeno riacho, e pararam sob uma grande árvore. Era um lugar bem silencioso.
— Por que veio aqui Thomas? — Daehan perguntou, sentando-se nas raízes da árvore.
— Você me chamou — Thomas respondeu confuso.
O Príncipe sorriu.
— Por que veio aqui em Ennord? — reformulou a pergunta. — Você não é do tipo que se interessa pelas questões políticas da realeza.
Thomas seguiu Daehan e sentou-se.
— Meu pai me pediu para que eu viesse — falou sem graça. — Poderia ter trazido o meu irmão mais velho, mas ele preferiu a mim. Sempre me escolhe para fazê-lo companhia.
— Então você é o filho preferido?
— É, acho que sim — suspirou. — Ele espera muito de mim. Mas eu não acho que sou capaz de atender às suas expectativas.
— Sei bem como é não atender às expectativas das outras pessoas. Quando Rose assumiu o trono, muitos nobres me queriam como Rei. Eu era perfeito para o cargo. Segundo na linha de sucessão, sangue real e homem. — Sorriu. — Mas eu recusei. Vi minha irmã ser treinada para reinar desde que nasci. Ela não era permitida sair do Castelo ou ter amigos. Estava sempre estudando sobre os antigos Reis, aprendendo a se portar como uma Princesa e acompanhando meu pai em qualquer lugar que ele fosse. Não queria isso para mim. Pode me chamar de egoísta se quiser, e talvez eu seja. Mas eu não governaria se isso significasse perder minha liberdade.
Thomas não sabia bem o que falar, então disse apenas um “Nossa!” e encarou as árvores à sua frente, aquele era um lugar muito bonito.
Daehan quebrou o silêncio depois de alguns minutos.
— Você é casado? — perguntou, franzindo o cenho.
— O quê? — Thomas sorriu com a pergunta inesperada. — Não. Não sou.
— Por quê? — Ele parecia realmente intrigado. — Você é um jovem bonito, de família nobre. Pessoas como você, são prometidas a outras desde o nascimento.
Thomas pensou por alguns segundos. Nunca ninguém o havia feito essa pergunta antes.
— Bem, eu acho que não quero um casamento arranjado com uma nobre desconhecida que não saiba as coisas mais simples sobre mim, como meu livro favorito ou as coisas que gosto ou não de fazer. Não quero uma grande casa na Capital, com uma mulher gabando-se de seus vestidos de seda, suas joias ou de seu marido rico. Quero alguém que desperte sentimentos em mim.
As palavras saíram de sua boca naturalmente e sem esforço. Ele nem precisou pensar muito, apenas falou.
Daehan o encarava com um leve sorriso nos lábios.
— Você quer romance. — Abriu um sorriso maior.
— É. Acho que sim. — Thomas corou. Nunca havia dito isso em voz alta para ninguém. — E você? Um Príncipe na sua idade já deveria estar casado, não? Ou você é um idiota romântico como eu?
O Príncipe sorriu.
— Eu encontrei o que você procura uma vez — falou baixo. — Amor.
— Sério? Quem era ela? Uma nobre? — perguntou e continuou ao ver Daehan fitar o chão. — Uma plebeia?
Sorriu lembrando-se dos livros famosos de romance que leu sobre príncipes que se apaixonavam por plebeias.
— Ele — corrigiu e sorriu ao ver a expressão de Thomas ir de surpresa à sem graça em poucos segundos. — Ele era um dos guerreiros do exército da minha irmã.
— Por isso não ficaram juntos? Sua irmã não permitiu pelo fato dele não ser um nobre?
— Oh! Não — respondeu firmemente. — Rose nunca se importou com o fato dele ser um guerreiro. Ela me incentivou a ir embora. Fugir desse monte de merda que é a vida no Castelo. Palavras dela, não minhas.
Sorriu.
— Então por que ficou? — Thomas estava curioso.
— Não queria deixá-la. Minha mãe morreu quando eu tinha três anos, não me lembro muito bem dela, mas a Rose sim. Assim como você Thomas, eu era o filho preferido do meu pai, ele não se importava tanto com a minha irmã, ou com o que ela queria. A vontade dele era a única coisa que importava. A única pessoa que cuidava da Rose era a minha mãe, quando ela morreu, a Rose ficou sozinha.
Thomas ouvia atentamente. O Príncipe parecia triste quando continuou:
— Governar é solitário. Eu sou a única pessoa que ela tem. Desde a morte de meu pai, tudo o que a Rose fez foi por mim. Ela sempre esteve aqui por mim, me protegendo. Eu não poderia simplesmente ir embora e esquecer tudo o que ela fez. Abrir mão da única pessoa que eu amei na vida foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que fazer, mas faria de novo pela Rose. Eu só não podia ser egoísta com ela. Não de novo.
Thomas percebeu o quão forte e bonita era a relação que Daehan tinha com a Rainha. Eles perderam os pais muito cedo, mas sempre tiveram um ao outro.
— Muito nobre de sua parte — falou Thomas, sorrindo minimamente para o Príncipe. — Mas não acho que sua irmã iria preferir que você ficasse ao lado dela, se isso o deixasse infeliz.
— É, eu sei.
“— Vai embora Dae. Deixa para trás toda essa merda que é a vida no Castelo. Aqui não tem nada de bom para você, para ninguém. Você finalmente encontrou alguém de quem realmente gosta. Pelo menos um de nós merece ser feliz.”
A voz de Rose ecoou na mente de Daehan e um nó formou-se em sua garganta.
Rose estava disposta a deixar a única pessoa que amava ir embora se isso significasse sua felicidade. Mas Daehan não foi, prometeu estar para sempre ao lado dela. E faria de tudo para cumprir essa promessa.
Thomas e Daehan voltaram depois de algumas horas de longas conversas. Daehan era uma pessoa muito divertida.
O Príncipe, por ser General do Exército, era responsável pela supervisão do treinamento dos soldados. Ele despediu-se de Thomas e agradeceu pela conversa, e saiu para realizar seus afazeres.
Não havia nada para Thomas fazer. Seu pai passava a maior parte do tempo conversando com outros nobres que chegavam no Castelo e ele ficava sozinho a maior parte do tempo. Então, saiu para mais uma caminhada.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...