A raiva agora brilhava nos olhos do Rei.
Rose nunca havia enfrentado seu pai como naquele momento. Seu sangue fervia em suas veias. Ela encarava seu pai, séria. Ele sempre foi um homem assustador, mas ela não podia recuar. Não agora.
Ele a segurou pelo braço e, antes que Rose pudesse reagir, deu-lhe um tapa forte no rosto.
Rose respirava profundamente, tentando controlar seus impulsos. O lado direito de seu rosto ardia. Seu corpo tremia à medida que a raiva estava a consumindo cada vez mais. Olhou para seu pai, o desprezo, a raiva e a aversão eram claros em seus olhos. Naquele momento ela teve certeza sobre um sentimento que guardara por tanto tempo e que antes não entendia, mas agora, estava tão claro quanto o céu de uma manhã de verão. Ela queria vê-lo morto e não se importaria de ser a pessoa quem o iria matar.
— Então é isso quer ser um Rei significa? Bater e intimidar as pessoas que são mais fracas do que você? Você sempre me humilhou na frente de todos. Fez isso com a minha mãe, a vida toda ela temeu você. Mas eu não sou como ela. Eu não tenho medo de você.
Sorriu.
— Você vai se arrepender de ter feito isso. Talvez não hoje, mas um dia irá. Guarde minhas palavras pai — falou a palavra com desdém. —, eu serei o último rosto que você verá antes de morrer. Você vai ver a minha expressão de felicidade enquanto sente a vida deixar o seu corpo.
Deu alguns passos na direção da porta, mas antes de sair, parou e virou-se novamente para o Rei. Dessa vez, sua voz saiu mais fria:
— Tenho que admitir que aprendi uma coisa com você: eu não preciso ser uma boa pessoa para governar, só tenho que fazer o que deve ser feito. E farei. — Encarou o Rei que a olhava em silêncio. — Da próxima vez em que você ousar colocar suas mãos em mim, vai ser a última coisa que fará na sua vida. Não me importo de ser condenada e morta por regicídio. Não me importo de você ser Rei ou meu pai. Me bata novamente e eu juro pelos Deuses que eu mato você.
Cuspiu as últimas palavras da forma mais ameaçadora e assustadora possível e saiu decidida, deixando o Rei Lucius com uma expressão de espanto.
Rose fitou a pequena cascata por um longo tempo, estava perdida em seus pensamentos.
Sinto muito, Lucy. Você merecia uma morte mais digna.
Rose sempre se culpou pela morte da amiga. Seu pai havia matado Lucy para que Rose aprendesse uma lição. Não confiar e nem se apegar a ninguém.
Uma hora todos vão embora.
Talvez nem todos. Daehan e Robert ainda permaneciam ao seu lado.
Afastou àquelas lembranças de sua infância para a parte mais distante de sua mente. Não era o momento certo para pensar sobre.
— Achei que tivesse sido clara o suficiente quando disse o que aconteceria se voltasse a me espionar. — Sua voz cortou o completo silêncio que fazia naquele lugar.
Ela olhou para uma grande árvore à alguns metros de distância. Thomas encontrava-se atrás daquela árvore.
Thomas permaneceu escondido. Pensava que se permanecesse em silêncio, talvez a Rainha pensasse que não havia ninguém ali.
— Eu sei que você está aí.
Droga! Ele praguejou mentalmente.
Rose observava, pacientemente, Thomas sair de trás das árvores e caminhar até ela, cabisbaixo.
Ela não falou nada. Não o repreendeu. Não o ameaçou, como Thomas achou que faria. Apenas o observava, inexpressiva, mas com uma sobrancelha erguida.
— Vossa Majestade — falou sem graça. — Perdoe-me. Eu não estava a espionando, juro.
Ele estava nervoso. No último encontro com a Rainha ela o havia ameaçado, mas o deixou ir. Ela não é do tipo de Rainha que dá uma segunda chance. O que faria com ele agora?
— Não? Então o que fazia naquele lugar? — perguntou, fazendo Thomas estremecer com a sua voz.
Aquela voz. Era autoritária, firme e assustadora. Confiante, mas sem demonstrar nenhum outro tipo de sentimento ou emoção por trás. Thomas ficava assustado sempre que a ouvia, mas também tinha a estranha sensação de que já a escutara antes.
— Eu estava cavalgando com o Príncipe Daehan. Nós conversamos por algum tempo, mas ele teve que voltar, pois tinha que se preparar para a supervisão dos treinamentos e, como eu não tinha nenhum compromisso, decidi fazer uma caminhada pela floresta.
— Já não teve experiências o suficiente nessa floresta? — Rose perguntou.
Thomas a olhou nervoso. Seus olhos escuros o fitavam, mas ela não parecia irritada. Ele a encarou por alguns segundos, confuso, então entendeu. Ela se referia ao ataque que ele havia sofrido dias atrás.
— Sim. — Fitou o chão, sem graça. — Vossa Majestade tem razão.
Ela virou-se, voltando a olhar a queda d'água alguns metros à sua frente. Ignorando Thomas, apesar de querer castigá-lo por, duas vezes, espioná-la.
— Mas por que Vossa Majestade está aqui? Essas florestas são perigosas.
Rose não respondeu.
Thomas sorriu como se tivesse acabado de entender algo muito óbvio.
— Claro, você não precisa se preocupar com alguns ladrões, certo? — Ele olhava para ela, sorridente. Era a primeira vez que “conversava” com a Rainha. Ela não o respondia, mas só o fato de não estar sendo arrastado para as masmorras por tê-la espionado, já o deixava feliz. — Vossa Majestade tem guardas que a protegem. Não que precise, obviamente. Eu vi a forma como luta. É realmente impressionante!
Arrependeu-se no momento em que terminou de falar aquelas palavras. Ele havia visto Rose lutando quando a espionava no jardim. Não devia ter tocado no assunto.
Ela disse que não seria compreensiva na próxima vez. Ele jurou que não haveria uma próxima vez, mas ali estava ele, novamente, sendo descoberto a observando.
Thomas não sabia o motivo de ficar observando a Rainha. Ela era uma mulher interessante e misteriosa. Diferente de todas as outras mulheres que Thomas já havia visto em sua vida. Ele gostava de observá-la, ela emanava uma energia que o atraía. Ele não conseguia evitar.
Rose continuava o ignorando. Em outras circunstâncias — na melhor delas — ele levaria apenas algumas chicotadas, mas seria liberto com vida. Na pior, estaria morto pendurado pelos pés no pátio do Castelo, para que todos vissem. Isso teria acontecido se Thomas tivesse sido pego espionando alguma reunião importante de Rose.
Rose sempre fora uma pessoa extrema em tudo, principalmente em relação aos castigos dados aos seus inimigos.
“— As punições devem ser severas para que sirvam de aviso para os outros.” Ela costumava dizer.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...