21- O Presente🌹

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Rose foi acordada pela forte luz do sol entrando pelas janelas de seu quarto que, estranhamente, estavam abertas. Lembrou-se da noite anterior, de ter treinado e conversado por várias horas com Thomas, mas não se lembrava de ter voltado aos seus aposentos.

Quando saiu de seus aposentos e passou pelos corredores do Castelo, avistou Thomas. Ele sorriu ao vê-la e se aproximou.

— Bom dia, Vossa Majestade — cumprimentou sorridente.

— Olá, Thomas — Rose falou. — O que aconteceu ontem?

Thomas franziu o cenho.

— Do que está se referindo?

— Nós estávamos conversando e quando eu acordei, estava em minha cama — falou pensativa. — Foi você quem me colocou lá?

Thomas assentiu um pouco envergonhado.

— Eu não queria acordá-la, então a coloquei em sua cama — disse Thomas um pouco baixo. — Sai logo após, não se preocupe, só achei que se você continuasse dormindo naquele banco de pedras, acordaria com algumas dores.
Rose sorriu.

— É, você tem razão. Obrigada.

Nesse momento, Thomas desviou seu olhar de Rose para alguns empregados que carregavam malas. Observou confuso e voltou a encarar a mulher a sua frente.

— Está saindo para mais uma viagem? — Viu Bor passar por eles um pouco quieto. Ele havia chegado no dia anterior, a mando de Rose e Thomas presenciou toda a conversa deles. Rose o repreendeu bastante por ter permitido que os meninos participassem das viagens do navio. Foram longos minutos de críticas e até ameaças. Rose o disse que se algo assim voltasse a acontecer, o emprego não seria a única coisa que ele perderia. Thomas nem ao menos quis perguntar o que aquilo significava, ficou apenas observando Bor cabisbaixo ouvindo tudo o que Rose tinha para falar.

Ele se sentiu mal pelo homem, mas entendia o lado de Rose. Ela estava irritada com todo o acontecimento, um pouco chateada também. Não deixava transparecer, mas a morte daqueles cem homens, os adolescentes principalmente, a havia afetado mais do que ela esperava. O lado protetor e controlador de Rose não permitia tais acontecimentos.

No fim da reunião, ela ordenou que nenhum jovem menor que dezessete anos seria permitido nos navios do reino ou em qualquer outro trabalho considerado perigoso.

— Sim, retornarei para Ellorn — Rose disse. — Quero conversar com os familiares das vítimas do naufrágio. Eles trabalhavam para mim, eu devo fazer isso pessoalmente e não mandar uma carta como o Robert aconselhou.

— Quem irá acompanhá-la? — Thomas perguntou. Da última vez ele havia a acompanhado, mas Rose não o tinha chamado dessa vez.

— Robert, ele retornou de sua viagem.

Thomas apenas concordou com um aceno sem graça. Ele queria ir com Rose novamente, mas não seria chamado. Não com Robert por perto.

Acompanhou Rose até a saída do Castelo e viu cavalos parados no grande pátio. Em um deles estava Robert esperando a Rainha.

— Daehan ficará responsável por qualquer coisa que aconteça — Rose falou encarando Thomas. — Ele não esteve se sentindo muito bem nos últimos dias, então, ajude-o em tudo o que ele precisar. Não o deixe se esforçar demais, retornarei em uma semana.

— Claro, Majestade. — Thomas fez uma pequena reverência aceitando a tarefa dada a ele. — Eu ficarei de olho no Príncipe.

— Tenham cuidado — alertou e caminhou na direção de seu cavalo que a esperava.

Thomas ficou ali observando Rose se afastar junto a alguns poucos guardas e Robert que, antes de segui-la, encarou Thomas com um pequeno sorriso nos lábios.

Thomas revirou os olhos em impaciência. Tudo aquilo já estava indo longe demais, eles pareciam duas crianças.

Seguindo as ordens de Rose, foi em busca de Daehan e o encontrou no pátio privado de sua irmã. Ele estava com uma espada em sua mão e lutava contra um dos meninos que havia entrado para o exército. Rose dissera para Thomas que Daehan não estava se sentindo bem, mas julgando pelos movimentos incrivelmente rápidos e precisos que fazia com a sua espada naquele duelo, alguns poucos metros de distância dali ele pareciam normal. Parecia bem.

— Thomas, faz tempo que não o vejo! — Daehan notou sua presença e parou seus movimentos para olhar o amigo que se aproximava.

— Você sumiu por dias, pensei que estava fugindo de alguém — Thomas comentou divertido e Daehan sorriu.

— Não estava me sentindo muito bem e Rose, sendo Rose, não me deixou sair dos meus aposentos até que estivesse melhor.

— E você está? — perguntou Thomas. Estava preocupado com o seu amigo que não via há dias.

— Não pareço melhor? — Daehan abriu os braços e deu uma pequena volta para que Thomas o olhasse por completo.

— Parece — Thomas respondeu. Ele notou que Daehan estava mais magro comparado à última vez em que o viu, mas seu rosto tinha uma cor saudável e o Príncipe não parecia estar sentindo dores ou cansaço. Pelo contrário, Daehan estava muito animado.

— E então, como estão as coisas? — Daehan perguntou sugestivo e Thomas o encarou confuso.

— Sobre o que você está falando?

— Sobre a mulher por quem você está apaixonado, obviamente — Daehan falou e sorriu quando Thomas engasgou com a própria saliva e tossiu.

Thomas olhou surpreso para Daehan e indicou com o olhar, o garoto que permanecia ali observando curiosamente toda a conversa.

Daehan apenas fez um sinal para Jacob que logo entendeu e, fazendo uma reverência para o Príncipe e um pequeno aceno para Thomas, os deixou sozinhos.

— Você está maluco? — Thomas perguntou espantando. — Não pode falar sobre isso na presença de outras pessoas.

— Ele não sabe quem é a mulher, Thomas — Daehan falou calmo.

— Mas ele pode descobrir. Não quero que as pessoas saibam sobre isso.

— Por que não? — Daehan perguntou. — Você será apenas mais um dos idiotas apaixonados pela minha irmã. — Sorriu.

— Muito obrigado — Thomas rebateu fazendo o sorriso de Daehan ficar maior.

— Mas, diferente dos outros idiotas, você é próximo de Rose. — Deu um sorriso e piscou um dos olhos de forma sugestiva. — O que aconteceu nos últimos dias?

— A noite passada eu estive com a Rose.

— Ei, ei, pode parar — Daehan falou rápido e levou as mãos para as orelhas, cobrindo-as. — Não foi sobre isso que eu perguntei. Eu estou torcendo por vocês dois, mas não preciso saber dos detalhes sórdidos.

Thomas o encarou confuso por alguns segundos e gargalhou quando percebeu o motivo de tal ação de Daehan.

— Não é isso que você está pensando — falou, retirando as mãos de Daehan das orelhas. — Nós estávamos treinando.

— Treinando? — Daehan perguntou incrédulo. — Pelos Deuses! Você está aqui há quase um ano, Thomas, e quando aparece a oportunidade de ficar a sós com a minha irmã vocês treinam?

— O que você queria que eu fizesse? — Thomas rebateu. — Nós conversamos também, foi bastante divertido.

Daehan revirou os olhos.

— Onde eu já vi essa cena antes? — perguntou, fingindo tentar se lembrar. — Ah! Sim. Foi exatamente assim que aconteceu com o Robert. Eles treinavam juntos, saíam para cavalgar, passeios e veja o Robert agora, casado com alguém que não ama, pois levou um fora da minha querida irmã. Se você não agir, vai virar apenas um amigo e chegará um momento em que a Rose cansará cada vez mais de sua presença até vocês não terem nenhum outro relacionamento além de Rainha e membro do Conselho.

— Tudo bem, já entendi. — Thomas revirou os olhos. — Não há mais nada que eu possa fazer Dae, sua irmã sabe como eu me sinto.

— Exatamente! — Daehan falou animado e ergueu o dedo indicador na direção de Thomas. — Agora você precisa fazê-la dizer como ela se sente.

— Ela não se sente da mesma forma — Thomas falou baixo.

— Ela te disse isso? — Daehan perguntou, cruzando os braços e encarando Thomas com uma sobrancelha erguida.

— Não.

— Então há esperanças. — Daehan sorriu.

— Não ficaria tão animado se fosse você.

— Você é bem idiota — Daehan bufou e Thomas o encarou confuso. — Minha irmã sente algo por você, Thomas. Você não percebe? Todos, exatamente todos, os outros homens que se declararam para Rose ela os rejeitou no mesmo momento, sem pensar duas vezes. Ela disse que não era a pessoa por quem você está esperando, mas ela não disse que não sentia nada por você. Ela não o rejeitou, Thomas, ela só não quer admitir que tem sentimentos por você. Você precisa fazê-la admitir isso.

— Você acha mesmo isso?

— Sim. — Sorriu levemente. — Robert também, por isso ele te odeia.

— E se ela me rejeitar novamente? — Thomas perguntou preocupado.

— Bem, se ela te rejeitar novamente eu te apresento para algumas das nobres mais bonitas do reino. — Daehan sorriu.

— Ei, você não acha que está muito concentrado no meu relacionamento e esquecendo de si próprio?

— Não acho. — Deu de ombros. — Vamos, temos trabalho a fazer.

Daehan guardou a espada e os dois seguiram para a sala do Conselho. Quando a Rainha não estava presente, Daehan quem tomava todas as decisões. Ele gostava desse pouco de poder que tinha, apesar de nunca ter tido vontade de governar o reino, ele se sentia importante tendo que tomar as decisões finais. O que era engraçado porque, no final, ele era um Príncipe. Era a segunda pessoa mais importante de Ennord.

A Rainha de Ennord Onde histórias criam vida. Descubra agora