Já era noite e muitos nobres encontravam-se no grande salão do Castelo que estava graciosamente decorado para o baile que acontecia.
Era um baile de máscaras.
Rose não achou necessário um baile, mas cedeu às insistências de Robert e Daehan.
A Rainha que não pode tomar as decisões para o aniversário do próprio reinado. Ela pensava divertido.
Entretanto, a ideia de um baile de máscaras, estranhamente, a atraíra.
Rose lembrou-se dos poucos bailes em que participou quando criança. Em especial, o baile de máscara quando tinha oito anos.
O último baile em que sua mãe estava feliz e saudável.
Apesar de ter se passado tantos anos, as memórias daquela noite eram bem vívidas na mente de Rose. Ela recordava-se de usar um lindo vestido rosa, digno de uma princesa, combinando com sua máscara. Lembrou de correr com outras crianças, filhos dos nobres, que também estavam no lugar.
Mesmo que todos ali soubessem quem ela era, ela gostava de fingir ser outra pessoa. Achava que a máscara a permitia fazer isso.
Fingia ser uma criança comum sem todas as obrigações que possuía, mesmo com tão pouca idade. Fingia que sua mãe não sofria com seu pai abusivo e violento. Fingia não ser uma princesa.
Ela talvez fosse a única menina no mundo que não queria ser uma princesa.
As mentiras contadas às outras pessoas eram direcionadas a si própria. Ela queria poder mudar a realidade em que vivia, mas não era possível. A única coisa que podia fazer era fingir, então ela fingia.
Houve alguns outros bailes após a morte de sua mãe, mas nenhum a deixara tão feliz quanto aqueles em que sua mãe estava presente.
O grande salão estava repleto de pessoas mascaradas. Alguns bebiam, dançavam ou tratavam de negócios — como é de se esperar em um lugar cheio das pessoas mais influentes e ricas dos Quatro Reinos.
Rose chegou, como sempre, acompanhada de seu irmão.
Ela vestia um belo vestido dourado e uma máscara de mesma cor. Na sua máscara havia algumas pequenas pedras de rubi cravejadas, formando um desenho na parte lateral dos olhos. Seu vestido era algo simples e leve, ela não gostava daqueles exagerados e pesados vestidos de baile, mas ainda era uma linda peça de roupa feita pelas melhores costureiras do reino.
Cumprimentou as pessoas, enquanto se direcionava para seu lugar de destaque, em uma grande mesa posta em um lugar um pouco mais afastado das demais. Sentou-se junto ao seu irmão e observou satisfeita o belo trabalho que haviam feito no salão.
Longas mesas estavam distribuídas ao longo de todo o salão, deixando um amplo espaço no centro para que os músicos tocassem e as pessoas pudessem dançar livremente. As grandes cortinas vermelhas estavam abertas dando visão clara dos jardins do Palácio pelas, também grandes, janelas.
No teto havia um lustre de ouro que Rose admirou-se pelo grande tamanho. Exagerado, pensou. Como era de se esperar de Robert e Daehan que nunca foram de poupar esforços em fazer o melhor para Rose, seja isso nos campos de batalhas, na administração do reino ou apenas em comemorações como aquela. O grande lustre iluminava o centro do salão, enquanto as centenas de velas dispostas ao redor traziam mais luz ao resto do ambiente.
Ficou observando as pessoas que ali estavam, quando se virou para Daehan que, levantando rapidamente, estendeu a mão em sua direção.
Rose franziu o cenho.
— Vamos dançar? — Daehan pediu.
— Não — Rose rebateu rapidamente. Não queria dar chance de Daehan insistir, mas sabia que ele o faria. Ele sempre insiste.
— Vamos, Rose! Como quando éramos crianças, você lembra?
— Sim, lembro. Mas você, não — falou, erguendo uma sobrancelha para Daehan. No último baile em que sua mãe ainda estava, Rose tinha oito anos e Daehan três.
Houve mais três bailes nos anos seguintes, até o Rei Lucius proibir.
— Claro que me lembro — ele retrucou. — Vagamente.
Rose riu e Daehan continuou:
— Por favor. Eu quero dançar.
— Há uma centena de pessoas nesse salão. As quais você pode convidar para uma dança — Rose sugeriu divertida.
— Eu quero dançar com a minha irmã — reforçou, estendendo novamente a mão que havia abaixado.
— Alguém já te falou que você é um garoto mimado? — Rose reclamou, segurando a mão de Daehan e levantando-se de seu assento.
— Você já. — Daehan sorriu, conduzindo Rose ao centro do salão. — Mas o que posso fazer? Eu sou um Príncipe.
Rose revirou os olhos e sorriu, mas foi surpreendida quando Daehan a girou rapidamente.
Daehan gostava desses momentos com sua irmã e sabia que, mesmo Rose não admitindo, ela também sentia o mesmo.
Rose desde sempre cuidou dele, o protegeu. Protegia de seu pai quando crianças e, quando assumiu o trono, o protegeu de todos os outros perigos que os cercavam. Algumas vezes — principalmente enquanto Daehan crescia — discutiam sobre o cuidado e proteção excessiva que Rose tinha para com ele. Daehan achava um exagero, e nunca foi bom em seguir ordens.
Apesar de tudo, cresceram bem. Rose, que precisou amadurecer precocemente para que pudesse tomar conta de seu irmão, tornou-se uma mulher incrível, principalmente aos olhos de Daehan.
Daehan, por sua vez, cresceu livremente. Rose não queria forçá-lo a se envolver em nenhum dos assuntos do reino, e passou semanas avaliando de perto o desejo repentino de Daehan em se tornar um guerreiro. Ela queria ter a certeza de que Daehan não estava fazendo isso para agradá-la. E ele não estava.
Ou talvez estivesse, um pouco.
Daehan passou anos de sua vida vendo Rose se esforçar ao máximo para manter o reino, enquanto ele passava seus dias bebendo e se divertindo. Rose não parecia se importar com o comportamento de Daehan, ela gostava de vê-lo feliz. Porém, ele sentia-se incomodado. Queria ajudar Rose em qualquer coisa em que pudesse ser útil e, como nunca se interessou em questões políticas de governo, decidiu entrar para o exército de Ennord. Ele era jovem, forte, destemido e com uma vontade enorme de se provar.
Com os anos, passou a gostar do que fazia. Ajudar sua irmã e defender Ennord o deixava feliz. Tornou-se o mais importante general do exército depois de Rose, obviamente.
Ali, olhando Rose sorrindo enquanto dançavam, Daehan tinha a certeza de que, apesar de ter sofrido, permanecer ao lado de sua irmã foi a melhor decisão que tomou em toda sua vida. Flashes de lembranças ao longo dos anos passavam em sua mente. Em todos os momentos, Rose estava lá ao seu lado.
Lembrou-se das noites em que tinha pesadelos e acordava chorando. Rose sempre o acalmava e o colocava para dormir novamente.
Em uma dessas noites, Daehan que havia perdido seu pai alguns meses atrás, acordou após outro pesadelo e percebeu Rose sentada aos pés de sua cama. Com os olhos marejados pelas lágrimas e ainda sonolento, murmurou algo que não recordava da última vez em que havia dito.
— Mãe?
Não entendeu direito o porquê de tê-la chamado assim. Ele sabia que não era sua mãe. Entretanto, algo dentro de si a considerava uma. E ela, apesar de muito jovem, o tratava como um filho.
Rose apenas sorriu e sentou-se ao lado de Daehan para acalmá-lo, cantarolou uma canção de ninar e o observou voltar a dormir. Fez uma promessa à mãe e a si mesma de que não deixaria nada de ruim acontecer com Daehan. Morreria por ele, se preciso.
— Vai ficar tudo bem. Eu vou cuidar de você.
Rose e Daehan sempre tiveram um ao outro. Apenas um ao outro.
E era mais que o suficiente.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...