Estava lendo sobre as terras que ganhou de Joseph ao vencer o duelo, quando sua atenção foi chamada por batidas em sua porta. Ela ordenou que entrasse. Era Daehan.
— Será que agora podemos conversar ou você vai continuar me ignorando?
— Se você está aqui para reclamar sobre o fato de eu ter mandado homens te seguir, está perdendo o seu tempo. — Ela continuava olhando os papéis. — Não vou me desculpar por ter salvo sua vida.
— Eu vim agradecer — ele anunciou, o que fez Rose o olhar surpresa. — Por mais que eu não concorde com isso, se você não estivesse me vigiando, algo pior poderia ter acontecido comigo e com o Thomas.
— Fico feliz que tenha percebido.
Daehan andou até ela e sentou-se em uma das cadeiras vazias ao redor da pequena mesa, onde estavam os documentos que Rose lia.
— Eu vim aqui para pedir desculpas — ele falou baixo. — Eu não devia ter saído escondido à noite, e também não deveria ter me arriscado daquela forma. Eu deveria ter aguentado as provocações do Paul, mas não consegui.
— O que aconteceu lá? — Rose perguntou. Ela não estava irritada com ele, não mais. Estava feliz pelo fato de que a conversa estava sendo mais fácil do que ela achou que seria.
— Eu e o Thomas estávamos bebendo, quando o Paul apareceu. Ele ainda tem raiva de mim porque acha que você o demitiu por minha causa, mas como eu sou um Príncipe ele não ia começar a briga. Então ele provocou. Normalmente eu não me importo com as coisas que falam sobre mim, você sabe, mas ele falou de você. E eu perdi o controle.
Rose segurou a mão de Daehan e o encarou.
— Eu agradeço o que você fez por mim, mas você deveria ter pensado mais. — A voz dela estava calma. — Deixem que falem sobre mim, eu também não me importo. Se eu fosse brigar com todos que falam algo ruim ao meu respeito, não restaria ninguém em Ennord. Você se lembra do que eu disse quando você quis entrar para o exército?
Daehan concordou.
— Que o fato de eu ser um Príncipe não me tornava melhor que os outros — ele lembrou.
— Isso mesmo. Somos todos iguais na hora da batalha. Todos lutamos por Ennord — Rose afirmou. — Mas, por ser um Príncipe, você possui responsabilidade. Assim como eu possuo uma responsabilidade maior. Tudo que fazemos, reflete no reino. Se vencemos uma batalha ou perdemos. O que a população do reino vai pensar de um futuro rei que sai escondido do Castelo e se mete em brigas de bar?
Rose nunca se importou com o que as pessoas falavam dela ou de Daehan. Mas Daehan era o próximo na linha de sucessão, quando ela morresse ele seria o rei. E quando alguém que está no trono morre, o próximo a ocupá-lo precisa de todo o apoio possível. Pessoas tentariam tomar o reino de Daehan e ele não era como Rose. Ele possuía mais facilidade em confiar e fazer amigos. Acreditava facilmente nas pessoas, procurando sempre bondade. Ele passou dias pensativos depois de ter tirado a vida de alguém pela primeira vez.
Ele era completamente o oposto de sua irmã. E quando Rose morrer, ele precisará manter o reino estável e, por isso, a população precisa vê-lo como um rei adequado, capaz de conduzir o reino para prosperidade.
Rose não queria proibi-lo. E não o fazia. Mas ela sempre procurava dar conselhos para que ele evitasse o máximo de problemas possíveis. Apesar de que Daehan desde sempre teve uma grande facilidade de se meter em encrencas.
— Eu sei. Me desculpe.
— Você precisa ser cuidadoso, o fato de você ser General do exército não te torna invencível. Você realmente poderia ter sido morto e eu não sei o que eu faria se isso acontecesse.
— Eu prometo não ser morto — Daehan brincou.
— Você não pode quebrar uma promessa feita para uma Rainha — Rose o alertou e sorriu.
Daehan também sorriu.
— Há mais uma coisa que eu queria falar — ele falou. — Não foi culpa do Thomas. Ele não queria ir, mas eu o convenci. Ele não teve envolvimento na briga, o Paul queria a mim, mas havia muitos deles. Então, o Thomas se envolveu para me ajudar. Ele quem atacou o Paul antes que eu pudesse.
— Sério? — Rose se espantou. Não imaginava Thomas fazendo algo do tipo. — Por que ele faria isso?
— Ele também não gostou das coisas que Paul falou a seu respeito — Daehan explicou. — Quando eu ouvi as palavras do Paul, eu não me controlei e estava indo acertá-lo, mas antes que eu fizesse isso, Thomas o acertou.
— Mas ele é um péssimo lutador — Rose falou e Daehan sorriu. — Garoto idiota, poderia ter morrido.
— Mas graças a ele a surra que eu levei foi menor — Daehan falou, fazendo uma observação divertida.
— É, você tem razão — Rose concordou. — O que você quer que eu faça?
— Dê mais uma chance a ele. Ele realmente está se esforçando para ficar com o cargo. — Daehan a olhava com o seu rosto de criança pedindo algo à mãe. — E o fato dele ter me salvado conta pontos a favor dele.
Rose o encarou por alguns segundos, com os olhos semicerrados.
— Tudo bem, eu darei mais uma chance ao Thomas — ela anunciou fazendo Daehan comemorar. — Mas não pegarei tão leve quanto antes.
— Eu já contava com isso. — Daehan depositou um beijo na bochecha de Rose e saiu em direção à porta. — Não seria você, caso fizesse. Eu vou informar ao Thomas que ele ainda tem uma chance de sobreviver. Obrigado, irmãzinha.
— Espero que passe a noite em seus aposentos hoje — ela falou.
— Eu irei. Não se preocupe. — Estava quase saindo do quarto quando virou e ficou olhando Rose mexer nos papéis em sua mesa. — Você está bem? Soube que não tem dormido.
Rose o encarou parado à porta. Daehan sempre tentava ser o irmão mais relaxado, mas Rose sempre sabia quando ele estava preocupado. E mesmo ali, com um pequeno sorriso no rosto, Daehan estava.
— Eu estou bem — ela garantiu. — As coisas já estão se resolvendo.
— Você sabe que tem a mim e o Robert, não é?
Rose sorriu, como quando uma mãe sorri para o filho que acabou de aprender uma nova palavra.
— Eu sei.
— Obrigado, Rose, por tudo que fez por mim. Eu amo você — ele falou com um sorriso e saiu.
Daehan sempre acreditou que ela era uma boa pessoa. Que a pessoa que ela era, e quem o pai deles a ensinou ser, eram pessoas completamente diferentes, apesar de Rose não concordar com isso. Ela tinha seus momentos bons. Às vezes poupava alguma pessoa que normalmente não pouparia. Às vezes dava uma segunda chance a alguém que normalmente não daria. Mas isso não apagava as coisas ruins que existiam em si. Os ensinamentos de seu pai ainda permaneciam gravados em sua mente e, mesmo que ela não quisesse, às vezes ela os seguia. Isso a ajudou manter o reino firme, por mais que ela odiasse admitir.
Rose ficou ali, encarando a porta por onde Daehan acabara de sair. Talvez ela tivesse sido um pouco rígida demais com Daehan enquanto crescia. Talvez ela exagerasse um pouco com a proteção excessiva, mas ele entendia que era para protegê-lo. Daehan era a pessoa que Rose mais amava em todo o mundo, e ela faria qualquer coisa que estivesse ao seu alcance para mantê-lo seguro.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...