Thomas permaneceu ao lado de Daehan por algumas horas. O mestre da moeda e da segurança vieram trazer atualizações sobre a situação do reino, muitas pessoas chegavam de outros reinos e isso influenciava muito na economia do país, e também na segurança. Os navios, agora muito famosos, estavam sendo responsáveis por um aumento considerado na riqueza do reino.
Alguns nobres também vieram. Uns reclamavam sobre as divisões de terras ou sobre furtos em suas propriedades, nada diferente do habitual. Outros pediam favores ao Príncipe, favores que muitas vezes a própria Rose havia negado, eles achavam que Daehan seria uma pessoa mais fácil de convencer por ser mais gentil com todos. Entretanto, Daehan seguia firmemente a ideia que Rose tinha sobre as decisões que deveriam ser tomadas.
Se não é bom para o reino, então não importa.
Não importava quem fosse o nobre ou qual seria o favor. Poderia ser algo completamente insignificante aos olhos de Rose, mas se não beneficiasse o reino, ela não permitia.
Alguns dos nobres reclamavam sobre isso. Não em sua presença, obviamente. Eles não entendiam por que Rose não poderia simplesmente lhes fazer esses favores
“Uma pequena parte de terra inabitada ao leste.”
“Um cargo no Conselho.”
“Alguns soldados para proteção”
Pedidos simples, mas que lhes eram negados. A prioridade de Rose sempre foi o reino, ela não atendia aos caprichos dos nobres. E, por mais que eles ficassem chateados, davam-se por vencidos, afinal, eles continuavam fazendo parte da comunidade de nobres do maior reino existente. Aquilo já era bom o suficiente para qualquer pessoa no mundo.
Quando não havia mais ninguém restando para se encontrar com o Príncipe, Thomas e Daehan deixaram a sala do Conselho. O dia já estava escurecendo, eles haviam passado muitas horas resolvendo os problemas e se encontrando com nobres e plebeus do reino.
Já que o trabalho do dia havia terminado, Daehan convenceu Thomas a tomar uma taça de conhaque. Essa pequena taça acabou se transformando em algumas garrafas ao longo da noite.
Daehan e Thomas eram os últimos restantes no jardim. Ambos afetados pelo álcool, sorriam por nenhuma razão em específico, e falavam coisas que, na maior parte das vezes, não faziam sentido. E, entre dezenas de palavras confusas e risadas altas, Daehan falou algo que atraiu a atenção do Thomas.
— Eu sinto saudades — falou, agora com um semblante um pouco triste. — Sinto saudades da minha mãe, mesmo não me lembrando como ela era. Meu pai era um tirano, cruel muitas vezes, mas também sinto saudades dele. Sinto saudades de uma outra pessoa, também...
Thomas ficou ali observando o Príncipe ao seu lado, ele não se recordava de alguma vez tê-lo visto tão triste.
— Eu sei o que você está pensando. Que eu deveria ter ido embora com ele. Muitas vezes eu me pego imaginando como seria se eu tivesse ido. — Fitou o chão. — Eu deveria estar feliz, certo? Eu tenho tudo o que uma pessoa deseja. Sou rico e herdeiro da maior nação existente, mas eu não me sinto feliz. É como se existisse um vazio. Não me entenda mal, eu amo a minha irmã, mais do que qualquer outra coisa no mundo, e não me arrependo de ter ficado com ela. Porém, quando eu penso em como foi minha vida até agora, eu não me sinto satisfeito. Eu vivi sem nenhuma preocupação, Rose garantiu isso. Ela também nunca poupou esforços para me deixar feliz, mas eu sinto que devia ter feito mais. Se eu morrer agora, o que eu vou deixar aqui? Qual será o meu legado? O que as pessoas irão lembrar quando ouvirem meu nome? Elas irão sorrir ao falar de mim? Sentirão saudades ou orgulho? Alguém além da Rose realmente se lembrará de mim? Eu não quero ser apenas o irmão da Rainha.
— Você não é apenas o irmão da Rainha — Thomas falou sincero. — Você é um dos principais generais do exército, com apenas vinte anos. Todos os soldados gostam de você e te respeitam muito. Você é uma pessoa alegre, Daehan. Apenas sua presença é suficiente para alegrar todos ao seu redor, é por isso que Rose o quer sempre por perto, você é alegria. É também muito gentil, minha vida aqui teria sido mais difícil se não fosse por você, e eu sou muito grato por isso. Você ainda é jovem, terá muito tempo para realizar tudo o que deseja fazer. Não se preocupe tanto, você não gosta de preocupação, lembra?
Daehan deu um pequeno sorriso e olhou para Thomas que o encarava com muita afeição. Daehan sentia muito bem quando estava com Thomas, era como um irmão mais velho, assim como o Robert que esteve presente desde sempre.
— Obrigado. — Sorriu largamente. Um sorriso aberto e brilhante, a característica mais marcante de Daehan. Não havia nenhum momento em que ele não estivesse sorrindo, um sorriso gentil e amigável que fazia qualquer um se sentir bem.
— Ah! Eu também lembrarei de você — Thomas completou sorrindo.
Daehan fitou o céu estrelado com um pequeno sorriso nos lábios. Ficou assim por alguns minutos, pensando. Thomas não falou nada, não queria atrapalhar aquele momento do Príncipe, então, ficou apenas ali ao lado de Daehan, o fazendo companhia.
— Não há algo que você deseja fazer, Thomas? — Daehan perguntou curioso.
— Meu único desejo sempre foi encontrar algo de que eu realmente gostasse — respondeu simplista.
— E você gosta de trabalhar no Castelo?
— Sim. — Sorriu. — Nunca imaginei que isso aconteceria, mas eu gosto daqui.
Daehan sorriu.
— Parece que nós dois decidimos permanecer no Castelo pelo mesmo motivo. — Daehan olhou sugestivo para Thomas que sorriu timidamente.
— Mas você sempre quis ser um soldado? — Thomas percebeu que nunca havia perguntado isso antes, e ele gostaria de saber a resposta.
— Não. Assim como você, eu não imaginava que me tornaria um soldado. Principalmente um General — respondeu. — Eu sempre achei que seria apenas um príncipe vivendo minha vida livremente, sem precisar me preocupar com nada. Então, um dia eu estava no Grande pátio à espera da minha irmã, ela estava longe faziam meses. Ennord e Oris estavam travando algumas disputas por terras, isso resultou em uma pequena guerra e milhares de mortes, soldados de Oris em sua maioria. Foi quando eu a vi ao longe, montada no Dark e liderando um exército de cinco mil homens de volta para casa, e decidi que queria fazer parte daquilo. Que eu queria ser corajoso como ela.
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A Rainha de Ennord
RomanceRose, coroada aos quinze anos após a morte de seu pai, tornou-se a primeira e mais jovem rainha a governar sozinha o reino de Ennord. E, contrariando a todos, conseguiu transformar Ennord no maior e mais poderoso dos Quatro Reinos. Dez anos depois...