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O grupo parou no meio da floresta à alguns quilômetros do Castelo. Em todo o caminho até lá, Rose ignorou Joseph o máximo que pôde, mas ele era um homem insistente.

Desceram de seus cavalos e passaram a seguir a pé para não espantar os animais selvagens que ali viviam. Rose deixou o grupo de homens para trás e seguiu com Robert. Joseph logo os alcançou.

— Vossa Majestade. Poderíamos discutir aquele assunto agora? — perguntou, fazendo Rose revirar os olhos e Robert conter um riso.

— Bem, não acho que discutir negócios comigo enquanto miro uma flecha seja uma boa ideia, mas se quiser tentar a sorte — Rose falou, porém, o tom divertido em sua voz não deixava claro se ela estava mesmo brincando.

Ela não o encarava. Corria os olhos por entre as árvores, procurando a caça perfeita.

Devido à sua localização e enormes florestas em todo o reino, na região de Ennord era muito comum diversos tipos de animais. Cavalos, veados e uma variedade imensa de pássaros. Mas Rose procurava algo em específico: os grandes javalis que viviam naquelas florestas.

— Nós sabemos que Ennord e Oris são parceiros há muito tempo, certo? — perguntou e Rose confirmou.

A relação entre Ennord e Oris não era a das mais amigáveis, não fazia nem muito tempo que Rose e Joseph haviam se encontrado no campo de batalha, mas isso fora deixado para trás quando ela o perdoou. Oris, por ser um grande produtor de grãos, ajudava Ennord a alimentar a população do reino e Ennord, por possuir o maior exército de todos, fiscalizava e protegia as fronteiras. Era uma troca de favores, apenas isso.

Joseph continuou:

— Eu agradeço muito toda a segurança que seu exército me fornece, mas gostaria que Vossa Majestade recuasse com seus homens.

Rose franziu o cenho.

— O quê?

— Os homens da fronteira Norte. Sei que estão lá para evitar que pessoas das comunidades independentes entrem no reino, mas a população de Oris tem medo de seu exército — falou apressado.

— Por que teriam medo? Eles estão lá justamente para protegê-los — Rose questionou. Ela sabia que aquele não era o real motivo.

Killers, o exército de Ennord, era realmente considerado cruel e sanguinário e, por isso, era temido por todos, mas eles jamais atacariam a população. Não sem a ordem da Rainha. E Rose não tinha motivos para atacá-los, pelo menos não ainda.

— Eles não julgam mais necessária a presença de seu exército.

— Você não julga mais necessário — Rose corrigiu, causando espanto no Rei. — Não posso recuar com o grupo do Norte, não irei. Eles não protegem apenas Oris. Ennord também será afetada.

Avistando o grande animal, tirou uma de suas flechas negras e a apontou. Prendeu a respiração, observando o javali andar calmamente.

— Eu entendo perfeitamente, Majestade. Mas se pudermos entrar em um acordo eu ficarei muito feliz. — Sorriu esperançoso na direção de Rose.

O javali, percebendo o perigo, começou a correr. Rose sorriu, gostava de um desafio. Movendo a mira de seu arco alguns metros à frente, ela esperou o momento certo para liberar a flecha que atingiu em cheio o animal na lateral de seu pescoço e que, com um urro muito alto, tombou.

— Nossa! — Joseph exclamou impressionado. — Os boatos sobre suas habilidades em pontaria são realmente verdadeiros.

— Todos os boatos sobre mim são verdadeiros. — Ela o olhou e sorriu. — Os bons e os maus.

Voltou em direção ao seu cavalo que estava amarrado a uma árvore. Robert, apesar de não ter falado nada, ainda a acompanhava.

Ordenou que seus guardas buscassem o corpo do animal que acabara de matar. Ele seria servido no jantar em sua comemoração.

O resto do grupo quase não havia conseguido abater algum animal. Um dos homens de Oris havia conseguido um pequeno veado e algumas aves. Lorde Marcell, que conversava com Farrow, segurava um pássaro que ele havia caçado.

Seguindo as ordens da Rainha, todos montaram em seus cavalos e seguiram caminho de volta ao Castelo.
  

Um tempo depois, o grupo de caça encontrava-se novamente no Grande pátio. Estavam descendo de suas montarias e entregando aos empregados de Ennord o que fora caçado.

Thomas veio na direção de seu pai. Lorde Marcell estava com um largo sorriso no rosto.

— E então? — perguntou ao seu pai. — Como foi a caçada?

Lorde Marcell ergueu o pássaro e piscou feliz para seu filho.

— Foi um sucesso!

Thomas teve que se conter para não sorrir. O pássaro que seu pai segurava era bem pequeno, mal tinha penas. Não seria o suficiente para alimentar uma pessoa sequer.

— Incrível — mentiu. — Vejo que nem todos tiveram a sua sorte, pai.

Marcell seguiu os olhos de Thomas em direção aos homens que chegavam de mãos vazias. Mas logo a expressão divertida de Thomas deu lugar ao espanto, quando viu dois homens carregando um enorme javali.

— Essa é a caça da Rainha — Marcell falou impressionado. — Nunca vi um animal como esse em toda a minha vida.

A Rainha desceu de seu corcel, sendo seguida por Robert, e olhou para Thomas e Lorde Marcell ao passar por eles. Aqueles olhos negros queimavam como brasa sobre a pele Thomas. Eles rapidamente fizeram uma reverência e observaram Rose entrar no Castelo.

Os homens que seguravam o javali, passaram por Thomas e seu pai. Ele pôde ver de perto como era grande o animal e ficou se perguntando como apenas uma flecha o havia matado. Mas suas perguntas foram respondidas quando viu uma flecha no pescoço do animal. Uma flecha que fez o coração de Thomas bater freneticamente.

Uma flecha negra de ponta e cauda vermelhas.

— A Rainha o matou? — perguntou sério.

— Sim. Você viu a flecha no corpo do animal? — Marcell sorriu. — É uma flecha encomendada especialmente para a Rainha, ninguém em nenhum dos Quatro Reinos possui uma igual.

Thomas não soube o que responder, apenas se despediu de seu pai e foi depressa para os seus aposentos. Sua cabeça doía.

Lembranças dos últimos dias vieram à tona em seu pensamento. O ataque na floresta... O Cavaleiro.

O Cavaleiro.

Thomas havia cogitado a possibilidade de o Príncipe ser o Cavaleiro, mas agora esse pensamento não fazia mais sentido. Daehan era um homem alto e forte, devido aos pesados treinamentos que as lutas exigiam, diferente do Cavaleiro que possuía um corpo magro.

Os olhos de Daehan eram amendoados, diferentes dos olhos do Cavaleiro que eram negros. Negros como a noite. Negros como suas vestes. Negros como seu corcel. Negros como os olhos da Rainha.

“Você fala demais.”

“Alguém já te disse que você fala demais?”

A estranha sensação que tinha ao ouvir a voz da Rainha não era por um simples acaso. Ele conhecia aquela voz.

As peças agora pareciam se encaixar na sua mente como um grande quebra-cabeças.

O Cavaleiro possuía uma espada dourada.

O Cavaleiro possuía uma flecha negra e vermelha.

O Cavaleiro montava um enorme cavalo negro.

Assim como a Rainha.

A Rainha.

A Rainha de Ennord Onde histórias criam vida. Descubra agora