Capítulo 2

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Naquela noite, Micaela estava sentada em sua cama esperando Nicolas ficar pronto, ele se recusara a lhe revelar sua fantasia alegando que era uma surpresa.

Ela, no entanto, não escondera nada. Sua fantasia de deusa grega era extremamente confortável, e dava espaço para sua barriga.

— Nicolas, anda logo! Você está demorando mais do que eu.

— Você só está me apressando porque está curiosa.

— Também.

— Só mais um pouco de paciência.

— Está fazendo muito suspense. Espero que seja uma boa fantasia.

— Ah vai ser!

Ele apareceu na porta do closet e se encostou no batente com as mãos nos bolsos. Não mudara muito a roupa do dia a dia, ainda estava em um terno, porém, este era preto com listras brancas e um chapéu descansava na cabeça, ficando um pouco de lado.

Micaela abriu a boca em surpresa. Ainda que ela o visse todos os dias daquele jeito, ele conseguia ser charmoso.

Cosa ne pensi, amore mio? – Perguntou ele com um sorriso travesso.

— Eu não faço a menor ideia do que disse, mas você está incrível. – Respondeu ela se levantando e indo em direção a ele – Me deixe adivinhar.... Está vestido de mafioso.

— Al Capone, para ser mais preciso.

— Al Capone era americano.

— Mas os pais dele eram italianos, assim como o nome dele também, então está tudo dentro dos conformes.

— Você não deixa suas raízes italianas não é, Nicolas?

— Nunca.

— Sabe. – Começou ela andando pelo quarto e depois se virando para ele – Eu me pergunto porque seus ancestrais não falavam italiano também.

— Ah, vai ver queriam independência disso também. – Respondeu ele se aproximando e a segurando pela cintura e encarando seus olhos azuis.

— Independência? Mas vejam só como eram calhordas! Quando chegaram aqui, meu povo já estava nessa terra, eles roubaram as terras e nossa língua!

— É, mas agora estamos todos juntos de novo. E questo è ciò che conta.

— Você precisa mesmo ficar falando assim?

— Por quê? Se incomoda?

— Não.... Mas é incrivelmente sexy.

Ele gargalhou e lhe deu um beijo leve, em seguida subiu da boca para os ouvidos de Micaela e ali sussurrou:

Posso fare molto di più, amore mio.

Imediatamente um arrepio percorreu toda o corpo dela e quando percebeu já estava com a boca colada à dele. Se afastou um pouco ofegante e com um sorriso disse:

— Vamos nos atrasar. Seu amigo não ia gostar disso.

— Lucas não se importaria se atrasássemos só um pouquinho.

— Mas eu me importaria, vamos.

Ela tentou dar um passo em direção à porta, mas Nicolas a segurou pela mão e puxou de volta para junto de seu corpo, dizendo:

— O que eu fiz para merecer uma deusa dessas?

— No momento nada. Mafiosos são meninos maus e não merecem coisas boas. Principalmente quando ficam falando em italiano só para tentar as esposas.

E tu farai cosa con me?

— Não sei responder a isso. Não entendi nada do que disse.

Ele gargalhou e depois respondeu:

— E o que vai fazer comigo?

— Vou pensar em um castigo bom para você.

Logo saíram e entraram no carro indo em direção à festa. Quando estacionaram em frente ao salão, Micaela pôs as mãos na barriga e respirou fundo.

— Está tudo bem? – Perguntou Nicolas a olhando e pousando a mão sobre as dela.

— Está. É que ele acabou de chutar! – Ela pegou a mão de Nicolas e colocou no mesmo local em que sentiu o movimento.

Ele esperou ansioso para sentir o filho sob a palma, e alguns segundos depois, lá estava ele chutando. Como se quisesse que o pai tirasse a mão de sua mãe, ou como se dissesse: Ei, eu estou crescendo e está ficando meio apertado!

Nicolas sorriu para Micaela, depois se abaixou até ficar na altura da barriga e disse:

— Ei, garotão, aguenta só mais um pouquinho aí dentro. Eu sei que está apertado, mas logo nos veremos e você terá bastante espaço e conforto aqui fora. Então, aproveite bem hoje, pois vai ter um monte de coisas gostosas para a mamãe comer nessa festa e eu suspeito que você irá adorar.

Micaela riu do modo como o marido tratava o filho, aquele era um dos momentos em que ele ficava conversando como o bebê e ainda ficava esperando uma resposta. Como se ela fosse vir de imediato!

Saltaram do carro e passaram por um enorme jardim até chegar em uma grande casa pintada de amarelo. As janelas eram grandes, e grandes pilares sustentavam a entrada, dando a impressão de que aquela casa já devia estar ali há pelo menos dois séculos.

Entraram e se depararam com um grande salão muito bem decorado e de acordo com o tema da festa, pequenos arbustos ficaram nos cantos e a sala de piso de mármore estava sem os móveis o que dava mais espaço para as várias pessoas fantasiadas circularem por ali.

Garçons mascarados passavam com bandejas de um lado para o outro. Logo Lucas se aproximou do casal os cumprimentando.

— Chegou o casal mais badalado! E com um convidado especial. – Disse ele se referindo ao bebê - Sejam bem vindos, majestades.

— Corta essa, hoje não somos rei e rainha, somos seus convidados.  E a propósito, obrigado pelo convite, Lucas. – Disse Nicolas.

— Não tem que agradecer. Mas hoje me chame de capitão.

— Eu ia mesmo perguntar que fantasia é essa.

— Ora, meu amigo! Até parece que não reconhece um pirata!

O rapaz abriu os braços mostrando as roupas de pirata e a bandana que levava na cabeça e tapava os cabelos ruivos.

— Eu sei. Só queria saber se ainda estava sóbrio.

— Você é um trapaceiro, Al Capone.

Micaela arregalou os olhos e perguntou para Nicolas:

— Ele sabia do que você vinha?

— Não. – Respondeu o próprio Lucas – Mas é bem fácil saber do que ele está. Um descendente de italiano, vestido como um mafioso.... Na certa Al Capone. E você.... Nunca esteve tão bonita. Digna de uma deusa.

— Vai com calma aí, Capitão. – Alertou Nicolas brincando.

— Eu sinto muito. Não posso negar elogios à uma mulher tão bonita. – Os três riram e depois o rapaz completou – Fiquem à vontade. Tenho que receber outros convidados.

— Obrigada. – Respondeu Micaela.

Logo acharam um canto para ficar e por quase toda a festa Micaela só tomava sucos de fruta e comia os petiscos, Nicolas a acompanhava, já que há muito não colocava uma gota de álcool na boca.

Julgado. Um passado de Nicolas Lambertini - #2Onde histórias criam vida. Descubra agora