Capítulo 26

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Micaela estava cada vez mais desesperada, não havia nenhuma previsão sobre julgamento ou até mesmo se Nicolas seria liberto, e para piorar tudo aquele documento com a assinatura dele adicionara mais uma acusação sobre Nicolas. Ele negara veementemente que havia assinado aquele contrato, no entanto a letra presente nele era idêntica à sua assinatura.

Agora ela se encontrava na biblioteca, às oito da manhã, andando de um lado para o outro, enquanto Thomas, que estava com uma bandeja de biscoitos, tentava acalmá-la.

— Micaela, ficar andando de um lado para o outro não vai adiantar de nada. - Disse ele colocando dois biscoitos na boca.

— Eu sei, Thomas, mas acontece que eu não sei mais o que fazer! O Nicolas não iria assinar aquilo. Não pode ser a letra dele, com certeza falsificaram!

— Também acredito nisso, mas tem que se acalmar. Os advogados já pediram uma perícia. Vão analisar a letra no documento, se não for dele, Nicolas será inocentado.

— Não é dele!

— Então não tem o que temer.

Natasha entrou na sala com a altivez de sempre e se dirigiu a Micaela:

— Senhora Lambertini, o ministro acabou de ligar para avisar que a reunião no parlamento começa em uma hora. E perguntou se a senhora iria.

— Mais essa! – Bradou Micaela.

O fato era que tanta coisa estava acontecendo que ela se esquecera da reunião no parlamento que havia sido adiada. Ainda tinham que discutir a separação daquele estado, mas agora sem Nicolas presente, a situação estava pior.

Sabia que se fosse até lá provavelmente receberia muitos olhares acusadores, mas também sabia ignorá-los, além disso, ela não poderia se esconder agora, seu país precisava de um representante seu, isso quer dizer.... Um representante da família real.

Por isso, se virou para a moça e respondeu:

— Diga que irei. Estarei lá em uma hora.

— Mas a senhora acha prudente?

— Como assim?

— Eles podem ser rudes agora que....

— Não tenho medo de caras feias ou línguas afiadas. Eu também posso fazer isso. Diga que irei.

— Tudo bem.

A loira se retirou e Thomas esperou ela estar longe o bastante para dizer:

— Nicolas me alertou sobre ela. Disse para ficar esperto.

— Se ele disse, então melhor confiar.

— É por isso que foi tão rude?

— Não. Tenho outros motivos. E meus motivos estão sendo guiados pela intuição agora. – Essa última frase, Micaela disse para si mesma, como se calculasse algo.

— Do que está falando?

— Nada, Tommy. Coisa da minha cabeça.

— Mas em uma coisa ela tem razão. E se eles foram rudes com você? E se te desprezarem?

— Já disse que não tenho medo. Eu não vou recuar e me esconder somente porque uma acusação falsa caiu sobre meu marido. Por mais que as pessoas acreditem que ele fez isso tudo, eu continuo acreditando que Nicolas é inocente. E enquanto ele não estiver aqui eu continuarei com meu serviço, porque não posso parar meu mundo, eu não vou deixar as pessoas pensarem que me intimidam.

— Tudo bem.... Quer que eu vá com você?

— Não precisa. Irei sozinha.

— Está bem então, vou ficar aqui comendo!

— Para onde vai tudo isso que você come, Thomas?

— Para o esgoto! - Respondeu ele colocando mais comida na boca e fazendo "cara de paisagem".

— Você é nojento!

Thomas não conseguiu responder, pois seu celular tocou e quando ele olhou a tela com a mensagem, seu semblante pareceu se escurecer. Os olhos levavam uma expressão raivosa e a respiração era acelerada.

— Algum problema? – Perguntou Micaela.

— Não, nenhum.

— Tommy, tem que me contar se for algo com o Nicolas....

— Não é nada relacionado a ele, fique tranquila.... Isso é assunto pessoal.

— Posso ajudar?

— Não. – Respondeu ele de modo vago, depois saiu da sala e com um assovio chamou Husky que estava o tempo todo deitado.

Micaela estranhou o comportamento do primo, Thomas nunca fizera questão de guardar segredos, principalmente dela. Mas agora parecia que algo havia acontecido e ele não lhe contara, na verdade, desde que ela o reencontrara Thomas estava diferente. Não falava sobre seu acidente, não dava notícias sobre a própria saúde e sequer tocava no nome dos pais. Era como se ele tivesse enterrado tudo o que aconteceu junto aos corpos deles.

Logo ela deixou esse pensamento de lado, teria bastante tempo para conversar com o primo, agora ela tinha que resolver outro assunto.

Chamou o motorista e partiu em direção à sede do parlamento, e como já esperado ela recebeu olhares nada agradáveis. Na verdade, chegavam até mesmo a ser acusatórios, e Micaela se esforçava ao máximo para manter a postura e não se deixar abater pelas pessoas.

Entrou na sala de reuniões e assumiu a cadeira que Nicolas sempre costumava sentar-se, logo começaram a reunião com um clima mais pesado do que o normal, e aquilo começava a incomodar Micaela.

Em determinado momento, em que ela defendia a emancipação do estado, um parlamentar simplesmente não conseguiu aguentar, se virou para o colega ao lado e esperando que Micaela não ouvisse, cochichou:

— Será que pagaram para se emanciparem?

O homem se divertia com a "piada" que acabara de contar e juntamente com ele, outros também se divertiam, mas Micaela ouviu e farta de todo aquele circo, perdeu as estribeiras com a voz alta e rude respondeu:

— Será que os senhores podem nos contar a piada? Porque estamos aqui discutindo um assunto sério e os senhores como crianças birrentas insistem em não prestar atenção e me ignorar. Sei muito bem os motivos dos senhores e não espero que entendam que meu marido é inocente de tudo o que aconteceu, porque seria contraditório que ele assinasse aquela merda de papel e depois denunciasse os canalhas dos colegas de vocês, sabendo que seria preso. E sei muito bem que alguns de vocês estão envolvidos nisso, mas se vestem como cordeiros, tentando se disfarçar no meio de pessoas inocentes. Estou aqui a manhã toda ouvindo suas reclamações e argumentos idiotas, aturando suas criancices, sugando toda minha paciência, com dor, fome e meu filho não me para de chutar, porque vocês homens são assim mesmo, desde o primeiro instante que estão no nosso ventre só sabem nos sugar. E não é porque meu marido não está aqui que espero menos respeito dos senhores, eu o exijo e gosto. Portanto, senhor Richelli, se o senhor e seus companheiros puderem parar de agir feito crianças e serem homens suficientes, falem logo na minha frente o que vocês têm a dizer, caso contrário calem suas bocas inúteis e vamos resolver esse assunto de uma vez por todas! O senhor tem algo a dizer?

— Não senhora.

— E os senhores? – Perguntou ela se referindo aos outros, e quando eles apenas emitiram um muxoxo, ela continuou – Ótimo, então continuemos.

Sendo assim eles deram continuidade no assunto e em poucas horas tudo havia terminado, e o melhor de tudo era que uma decisão havia sido tomada, optaram pela emancipação do estado em discussão.

Já no carro, Micaela se lembrou do que havia dito quando simplesmente "surtara" durante a reunião, perdera a cabeça e acabou acusando até mesmo seu filho.

Colocou as mãos na barriga e disse:

— Me desculpe, filho. A mamãe não deveria ter dito aquilo.... Você não tem culpa do que está acontecendo.

Julgado. Um passado de Nicolas Lambertini - #2Onde histórias criam vida. Descubra agora