Pés ágeis atravessavam o chão coberto de galhos, folhas secas e neve. Embora não fosse o suficiente para tornar a corrida impossível, a lama fazia deixava o terreno mais difícil e sujo. Seu coração disparava de forma frenética. Estava com pressa, mas, ainda assim, atenta a todo e qualquer barulho em volta. Havia calculado que não levaria mais do que vinte ou trinta minutos para que descobrissem que ela não estava na cama, procurassem nos banheiros, na ala masculina e, por fim, mobilizassem todos os funcionários, àquela altura sabendo que ela havia fugido. Pelo menos era o que sempre acontecia quando outras crianças tentavam fugir.
Uma mochila velha e vermelha saltava em suas costas — dentro havia apenas duas mudas de roupa, uma garrafa de água e vinte e cinco dólares que havia conseguido nos últimos meses roubando aqui e ali dos funcionários que deixavam seus pertences desprotegidos — dentro do armário de funcionários, dentro de uma sala trancada na maior parte do dia... Que escolha ela tinha? Precisava daquele dinheiro para chegar em casa.
Chegou na árvore certa e olhou para cima, segurando os galhos mais próximos, suas luvas engancharam, então as retirou, mesmo que estivesse frio. Agora as cascas da árvore arranhavam suas mãos, mas nada poderia fazer quanto a isso.
As diminutas galochas roxas faziam um barulho engraçado a cada movimento e ela ofegava pelo esforço, mas sabia que não podia se dar ao luxo de parar. Tinha duas certezas: estava em um orfanato, que era um lugar para crianças que não tinham os pais ficarem; e que ali não era o lugar dela, apenas precisava encontrar sua mãe para provar isso.
A Sra. Cadwell, uma "médica de cabeça" que ela tinha que ver toda semana, lhe fazia perguntas sem sentido, mas que a incomodavam, falando que era para o bem dela, embora nunca tivesse dado respostas que gostasse de ouvir.
Não sabia se sua mãe estava bem, a última coisa que se lembrava era de estar com medo no quintal de sua casa, seu pai estava ruim de novo. Ele a havia arrastado para fora e a deixado lá. Pôde ouvir sua mãe gritando e gritando, depois pancadas rápidas e muito altas, então tudo ficou em silêncio por muito tempo. O medo fez com que ela continuasse encolhida no mesmo lugar.
Depois do que pareceu uma eternidade, um policial — ele havia dito o que era e até mesmo a deixou olhar sua medalha brilhante — a tirou de lá.
Depois daquilo tudo mudou, levaram-na em vários médicos e, por fim, no Saint Carmen, o orfanato.
No começo ela chorou por saudade de sua mãe, perguntava várias vezes onde ela estava, que queria vê-la, gritava até não conseguir mais. Com o passar das semanas foi percebendo que não importava se gritasse, não iriam levá-la para casa, então decidiu que precisava fugir.
Com apenas sete anos, sabia que provavelmente não conseguiria escalar o muro em volta do orfanato, mas se conseguisse subir na árvore encostada nele, ela só precisaria pular para o outro lado. Sabia seu endereço, sua mãe a havia feito decorar caso algo ruim acontecesse, então acreditava que conseguiria chegar sozinha.
Para ela, estar no orfanato era algo ruim.
Quando estava na metade da árvore, percebeu que já conseguia ver a rua, foi então que alguém gritou atrás dela.
— ALYSSA, DESÇA DAÍ!
O susto que levou a fez escorregar o pé do galho, desequilibrou-se e começou a cair, estendeu os braços de forma desesperada, tentando agarrar qualquer coisa, e conseguiu, mas não antes de rasgar a calça e cortar os joelhos e as mãos.
O medo a fez ficar bem quietinha, abraçada aos galhos sem mover um único músculo por alguns minutos. Ainda posso fugir, pensou de forma esperançosa, olhou por cima do muro, a rua tá tão perto! Enrolou as pernas no galho e olhou para baixo, para quem a assustou. Foi um erro, percebeu que estava muito longe do chão, e embora nunca tivesse tido medo de altura, o medo de cair a manteve travada onde estava.
A insegurança fez com que questionasse a si mesma se conseguiria pular o muro, é muito alto. Frustração subiu quando constatou que não teria coragem. Quando se acalmou, olhou para baixo e desceu lentamente e em silêncio, reconhecendo com tristeza que não conseguiria subir mais e pular. Seu plano de fuga havia fracassado.
O Sr. Parks, quem havia gritado, era o segurança que fazia rondas à noite.
Alyssa sentiu vontade de chorar e cobriu o rosto com o braço direito, enquanto o segurança a guiava pela outra mão. Não impediu as lágrimas de descerem por suas bochechas rosadas pelo frio.
O Sr. Parks tentava confortá-la dando tapinhas desajeitados em suas costas, dizendo que assim que cuidassem de seus arranhões a dor iria passar, mas o que o Sr. Parks não sabia era que Alyssa não estava chorando porque seus machucados estavam doendo. Alyssa chorava por algo que jamais poderia explicar em sua tenra idade.
O homem a levou por todo o caminho de volta pela porta dos fundos. A enfermaria ficava ao lado da sala da diretora, Sra. Poe, uma mulher de cabelo curto e enrolado, com cara de sapo — segundo Alyssa — e que sempre usava um lenço rosa no pescoço.
Quando entrou no corredor, Alyssa ouviu uma mulher falando alto, parecia estar chorando. Como seus próprios olhos estavam embaçados pelo choro e havia um homem cobrindo a mulher, amparando-a, Alyssa não conseguiu vê-la com clareza.
A enfermeira, Sra. Greene, a fez sentar em uma cama fina encostada na parede que dividia aquela sala com a da diretora. A curiosidade fez Alyssa mal notar que a enfermeira fazia seu joelho arder mais, pois continuava ouvindo a mulher chorando, dessa vez dentro da sala ao lado.
— Eu não consigo fazer isso, sempre que eu olhar para ela, eu vou lembrar... — A mulher lamentava angustiada.
Alyssa ficou triste pela mulher que parecia estar sofrendo. O que fazia um adulto chorar?
Papai. Pensou, mas sua mente infantil deliberadamente afastou aqueles pensamentos e lembranças, a urgência de encontrar sua mãe tomou lugar, alguma parte dela sabia que tudo ficaria bem quando isso acontecesse. A vontade de chorar veio em seguida, talvez nunca encontre minha mamãe porque não consegui fugir.
Esperou na enfermaria depois que todos os curativos estavam no lugar. A tristeza da mulher de antes completamente esquecida, agora era a vez dela na sala da Sra. Poe.
Enquanto ouvia a diretora falar de forma interminável, Alyssa imaginava o que teria acontecido se tivesse conseguido fugir e encontrar sua mãe.
Tudo poderia ter sido diferente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Onde as lágrimas repousam [Concluído]
RomanceOs caminhos de Alyssa e Ethan se cruzaram de maneira inesperada. Embora tenham vidas totalmente distintas, possuem algo em comum: traumas que não superaram. Desde que era apenas uma garotinha assustada e tornou-se órfã de forma violenta, Alyssa car...