34. Eixos

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I

Alyssa andava sem pressa pelos corredores do supermercado, empurrando seu carrinho. Seu fone de ouvido tocava um rock pesado que consistia basicamente em um solo de guitarra. Naquela manhã a merda bateu no ventilador, acompanhou tudo da pequena TV no café, na verdade ela não fora a única.

Matt ainda deveria estar processando o fato de que havia sido chefe de uma herdeira milionária, ao ver Ana, ou melhor, Anabelle falando com os repórteres de plantão que não tinha nada a declarar, enquanto ela e Ethan saíam do edifício da SendaX, logo em seguida, a âncora do jornal havia falado brevemente sobre a ligação com Ethan, dando seu histórico profissional e fazendo especulações sobre o ocorrido.

Alyssa havia pegado seu celular e enviado algumas mensagens de conforto para Ethan. Ana havia avisado que a mídia cairia em cima dele como um monte de urubus a partir daquele momento, de forma que eles passariam algum tempo sem se ver até que a poeira baixasse. Não conseguiria descrever quão aliviada ficou por tudo ter ocorrido bem, as informações que o Ethan passou sobre seus depoimentos com a polícia apenas serviram para deixá-la mais ansiosa.

Segurou uma embalagem de batatinhas, leu brevemente o rótulo e jogou mais duas, deu alguns passos, voltou e pegou uma terceira no sabor picante. Olhou para o carrinho de uma mulher que passou por ela e comparou com o seu. Sua feira até agora consistia basicamente em salgadinhos, chocolates, algumas garrafas de suco e uma garrafa de tequila. Suspirou, sentindo falta de quando Ethan vivia com ela, preparava a feira e as refeições.

Andou até o setor hortifrúti e pôs alguns legumes e frutas. Satisfeita consigo mesma, foi em direção à padaria. Seu celular começou a tocar, interrompendo a música.

Totalmente animada com a possibilidade de ser Ethan, atendeu sem olhar a tela.

— Hey! — Cumprimentou.

— Boa noite, gostaria de falar com a Srta. Casey, por gentileza. — Respondeu uma voz monótona.

— Você tá falando com ela, quem é? — Franziu ao perceber que a voz não era familiar.

— Oh, sou Antony Miller, curador e advogado da Sra. Katelyn O'Connell.

O coração de Alyssa deu um solavanco em seu peito à mera menção do nome de sua mãe e ela estagnou no meio do corredor, atordoada.

— Como você conseguiu meu número? — Sussurrou.

— Peço desculpas pela ligação repentina, além de advogado e curador, sou amigo de longa data de Katelyn, quando fui visitá-la, chequei o registro de visitantes e fiquei muito surpreso coma sua assinatura lá. Foi dessa forma que tive acesso ao seu telefone. — Ele parecia aguardar alguma reação.

— Entendo. — Alyssa mordeu o lábio, sem saber o que esperar daquela ligação. — e então, o que o senhor quer comigo?

O homem soltou um longo suspiro, parecendo cansado.

— Katelyn... sua mãe. — O home hesitou. — Ela faleceu ontem à tarde.

Os olhos de Alyssa arregalaram e sem perceber, apertou o aparelho em sua mão até que ele cavasse em sua pele e seus nódulos ficassem brancos. Levou vários segundos para controlar sua respiração e recuperar-se do choque inicial, sua garganta se fechou pela torrente de emoções que a inundaram, lágrimas desciam pelo seu rosto enquanto ela tentava falar novamente.

— Como? — Foi a única palavra que conseguiu soltar.

— O médico da casa de repouso me disse que ela havia cochilado depois do almoço e quando foram acordá-la para tomar o medicamento, ela não acordou, ele foi chamado, assim como uma ambulância, mas ela já havia falecido. O enterro foi essa manhã, sinto muito por não tê-la informado para que você pudesse escolher comparecer. Desde ontem estive resolvendo todos os trâmites legais e apenas agora pouco me ocorreu lhe comunicar.

Onde as lágrimas repousam [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora