24. À rigor

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I

Os músculos do rosto de Ethan estavam doloridos, discretamente ele pôs uma das mãos para cobrir a boca, enquanto a fechava e alongava o maxilar. Nunca fora àquele tipo de evento antes, quando ainda era diretor da sua antiga empresa, ele sempre deixava aqueles incômodos sociais para Hendrik, hoje ele percebe como aquilo foi um erro, provavelmente fora nesses tipos de ocasião que ele aproximou-se dos assessores e lentamente foi tecendo sua teia.

Olhou em volta, incomodado com a extravagância do ambiente e das pessoas ao seu redor, tudo em volta gritava um preço alto. O salão era decorado ricamente com candelabros de cristal, tapetes, gesso, ornamentos dourados, o ambiente parecia o salão de um palacete real. Mesas estavam dispostas ao longo das paredes ao fundo, enquanto que um bar totalmente equipado ficava do lado direito, no meio do salão, por fim, havia um pequeno palco com um púlpito ao fundo. Luzes amenas e flores importadas davam um clima aconchegante, ao passo que saltos clicavam no chão de mármore branco.

— Olá meu rapaz, eu por acaso o conheço? — Perguntou uma senhora de cabelos brancos, apesar da aparente idade e já possuir as costas um pouco curvada, seus olhos brilhavam com malícia, competindo com o brilho dos diamantes em seu pescoço.

— Boa noite. — Deu seu melhor sorriso, pela centésima vez naquela noite. — Eu jamais me esqueceria de alguém tão jovial.

Achou seu elogio forçado, mas para seu alívio, a senhor abriu um sorriso largo, artificialmente branco. Deus, como odiava aquele tipo de evento!

Enquanto a senhora se apresentava como sendo acionista de uma corporativa do ramo de consultoria financeira, Ethan refletia o quão hipócritas aqueles eventos beneficentes eram. Basicamente, um monte de gente podre de rica se reunia em um ambiente caro, com comida cara e roupas caras, para juntar dinheiro em prol de algo. Se o negócio é juntar dinheiro, eles não teriam muito mais se simplesmente dessem o dinheiro que gastaram organizando aquele evento?

Mas claro, para a alta sociedade, não vale a pena fazer um gesto "humanitário" se não tiver meia dúzia de câmeras registrando tudo.

— ... Mas pode me chamar de Linda. — Concluiu a senhora.

Ethan ergueu as sobrancelhas, não ouvira quase nada que a mulher dissera, Linda era um flerte ou o nome dela?

— Muito prazer, Linda. — Ethan aproximou-se da mulher e deu um beijo em sua bochecha, o que a fez ofegar em deleite. — Me chamo Ethan Gauthier, mas pode me chamar apenas de Ethan, sou o novo diretor de operações da SendaX CO., vim representá-la nesse evento, embora — Ele aproximou-se da senhora como se fosse cochichar um segredo. — eu sequer tenha começado oficialmente.

Linda cobriu a boca com uma das mãos enluvadas e deu um risinho maroto. Ethan não subestimou a senhora, seus anos de experiência lhe diziam que por trás daquele corpo frágil e atitude jovial, ela escondia um tubarão cercando uma possível presa. Não ficaria surpreso que ela já soubesse quem e o que ele era, antes de apresentar-se. Então fazia seu melhor, tratando-a com extrema lisonja e deixando brechas que davam a entender que ele era um novato em um oceano traiçoeiro.

Após alguns minutos de conversa, ficou claro para ele que estava certo sobre a mulher, quando ela lhe fez uma pergunta sobre o mercado que qualquer pessoa inexperiente teria deslizado. Por fim, ela ficou em silêncio e o avaliou.

— Eu gostei de você, rapaz. Acredito que voltaremos a nos falar em breve. — Dito isso, ela se despediu e atravessou o salão para uma mesa.

Ethan Suspirou, sentia seus músculos rijos, pela constante postura altiva. Olhou as horas no relógio prateado, mal passava das onze. Estava louco para ir embora e reencontrar Alyssa, odiou a forma como a deixou, sozinha no natal. Sentia-se um grande babaca. Mas aquele convite era uma clara prova de fogo em seu novo trabalho, conhecia bem aquele ramo, qualquer erro ou deslize poderia significar o fechamento de portas.

Pôs a taça de champanhe vazia na bandeja e pegou outra cheia.

— Ethan? — Uma voz o chamou.

Ethan imediatamente reconheceu a voz e virou-se surpreso para Dan, quem estava com a bandeja de bebidas equilibrada em uma das mãos, mantendo a outra atrás de si. Ele estava nas roupas formais de empregados contratados para o evento, que consistia em uma camisa branca sobrada até o cotovelo, um colete risca de giz azul marinho calças sociais igualmente azuis e sapato preto fechado.

— Dan? Era nesse evento que você conseguiu um bico? — Perguntou Ethan. — Isso significa que...

— Max e Jason também estão aqui. — Dan apontou com o queixo na direção do bar, onde podia ver Max com um fedora cinza chumbo, preparando drinks.

— Qual é o lance daquele chapéu? — Perguntou Ethan.

Mesmo sabendo que era comum barmans terem um estilo próprio, aquilo era o total oposto do que Mas normalmente usava.

— É a marca dele, em cada evento ele usa um chapéu diferente, ele disse que é uma impressão eu fica fácil lembrarem-se dele e dessa forma, aumenta as chances de contratarem-no novamente. — Respondeu Dan. — Mas o que você está fazendo aqui, cara?

Ethan suspirou.

— Recebi um convite de última hora da empresa, dizendo que eu seria representante nesse evento, na realidade parece mais um teste, então não tinha como eu não vir.

— E a Alyssa? Ela ficou sozinha? — Dan parecia preocupado.

— Eu a chamei para vir, mas ela não tinha roupa pra esse tipo de evento, não queria deixá-la sozinha, mas não vi outra opção.

Dan praguejou.

— O que foi? — Perguntou Ethan.

— Hoje é o pior dia do ano pra ela. Embora nem sempre nós podemos passar o natal com ela e mesmo que ela deixe bastante claro que prefere ficar sozinha, Max, Jason e eu, evitamos isso ao máximo.

— Por quê?

Dan hesitou em responder.

— Alyssa não é de beber, pra falar a verdade ela mal aguenta uns copos de vinho, mas no dia de hoje ela tem o costume de ficar tão bêbada quanto conseguir, apenas pra conseguir apagar até o dia seguinte, quando ela bebe demais, ela fica... mal, inferno, não sei explicar melhor que isso.
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Onde as lágrimas repousam [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora