9. A Corrida

150 62 84
                                    

II

Ethan estendeu as palmas para cima, desistindo de discutir, pelo pouco que conhecia, soube que eles não o deixariam se livrar daquela situação. Fez uma dupla com Jason enquanto Dan e Max faziam outra, tiraram na sorte quem seria o piloto e Ethan perdeu.

Subiu no carrinho de supermercado e sentiu-se ridículo segurando os joelhos junto ao peito, uma vez que era grande demais para caber de outra forma.

Nunca, em toda a sua vida, havia participado de algo parecido e lá estava ele, adulto, com outros quatro adultos, no estacionamento de supermercado, brincando de corrida em um carrinho de compras.

Alyssa foi adiante deles e ergueu o picles de um pote que havia acabado de abrir, claramente fazendo alusão à velozes e furiosos.

— Nas suas marcas. — Agitou o picles. — VÃO. — Deu uma mordida.

O coração de Ethan martelava, seu corpo inteiro tremia pelo chão irregular do estacionamento. Max, dentro do carrinho ao lado, ria como uma criança em um parque de diversões. Dan parecia mortalmente sério sobre o jogo enquanto continuava correndo.

Divertimento subiu por Ethan enquanto o vento frio pinicava sua pele. Havia poucas pessoas no estacionamento e algumas pararam para ver a cena absurda, rindo, crianças gritavam e agitavam as roupas de seus pais.

Eles alcançaram o poste, Ethan pensou que haviam perdido, uma vez que Dan e Max estavam um pouco mais a frente, até que foi obrigado a se segurar na grade ao seu redor, enquanto Jason equilibrava o carrinho precariamente sobre as duas rodas do lado direito, fazendo uma volta e correndo de volta para Alyssa, que por sua vez, estava com o pote de picles nos braços, comendo com toda a naturalidade que aquela situação não possuía.

O corpo de Ethan foi jogado para o lado quando Dan bateu o carrinho e Max nele, Jason fez um som de riso entredentes e jogou Ethan de volta para Dan, que perdeu o controle do carrinho por tempo o suficiente para Jason e Ethan passarem por Alyssa.

— Vitória! — Gritou Alyssa. — Aos campeões. — Ela ofereceu o pote de picles para eles.

Jason pegou com um sorriso triunfante e Ethan retirou outro, um pouco instável e assombrado pelo que acabara de participar.

Sentaram em um bloco de cimento, lado a lado. Ethan observou os quatro amigos enquanto riam e faziam piadas sobre o grito que Max dera quando quase caiu do carrinho. Um sentimento estranho se apossou dele quando o incluíram nas provocações, descrevendo quão pálido estava quando desceu do carrinho.

Alyssa passou um refrigerante e Ethan pegou outro picles do pote que passava de mão em mão.

Franziu o cenho, tentando identificar o que era, sem sucesso. Sentia-se um adolescente novamente, sentado com aquele grupo de forma tão casual e ainda assim, havia algo de íntimo naquele contato.

Acreditava que Alyssa, Max, Daniel ou Jason, nunca tiveram aquele tipo de experiência na própria adolescência, uma vez que em orfanatos só era permitido sair para a escola, algum curso ou ainda se algum familiar ou alguém da equipe, estivesse acompanhando.

Naquele momento, entendeu por que eles pareciam viver e aproveitar ao máximo quando se reuniam, não se importando com quem estivesse olhando ou julgando. Juntos, eles eram simplesmente quem eles eram.

Seu coração doeu um pouco, sua juventude havia sido boa, até mesmo um pouco acima da média. Seus pais viviam com certo conforto, ele sempre teve aquele tipo de liberdade de sair com os amigos e fazer algumas tolices típicas da idade.

Como pessoas que já sofreram tanto na vida poderiam ter um sorriso tão fácil e uma generosidade tão impressionante?

Ethan tomou alguns goles do refrigerante. O sol começava lentamente a se pôr e ele via os tons amarelados por cima das árvores para além do estacionamento.

Os três se levantaram com Alyssa e começaram a pegar as sacolas, prontos para retornar ao prédio.

Ethan sentiu uma mão em seu ombro, girou a cabeça, aquele suave sorriso o saudava.

— Vamos? — Perguntou Alyssa.

Ethan olhou mais além dela e viu que todos estavam esperando por ele.

Seu coração doeu e se preencheu um com sentimento diferente do que vinha alimentando nos últimos tempos.

Aquilo era pertencimento.

...........................................................
Votem e comentem ❤
Me deixem saber se estão gostando da história.

Onde as lágrimas repousam [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora