23. Luzes e presentes

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II

- Ficou lindo. - Comentou com um nó na garganta, fechando a porta atrás de si. - Eu estou realmente surpresa. - Sorriu fracamente enquanto tirava as luvas e o cachecol.

Ethan suspirou e sorriu. Alívio? Alyssa queria chorar.

- Como foi lá fora? - Perguntou Ethan, tentando não soar curioso e invasivo.

Alyssa hesitou.

- Caótico. - Comentou por fim. - Parece que as pessoas ficam fora de si hoje.

Ethan riu e Alyssa sorriu em resposta, apenas para que ele não percebesse quão mal ela estava. Não conseguiria lidar com o Ethan preocupado naquele momento.

- Preciso tomar um banho quente, quer alguma ajuda? - Perguntou ela.

- Não se preocupe, eu tenho tudo. - Ethan piscou.

A expressão de Alyssa amenizou. Embora estivesse destruída, queria se esforçar para recompensar o esforço dele, afinal, sabia que Ethan estava fazendo tudo aquilo, em grande parte, por ela. Alyssa lamentava não conseguir aproveitar como deveria aquele dia, era o primeiro natal de Ethan em uma casa aconchegante. Alyssa imaginava como deveria ser difícil passar o inverno na rua.

- O que houve?

A pergunta de Ethan fez com que Alyssa piscasse, saindo de seus pensamentos e percebendo que estava parada na sala, encarando a pequena árvore de natal.

- Nada. - Sorriu.

Foi para o banheiro, a água quente aliviou a dor em suas articulações provocada pelas mudanças de temperatura, poderia ficar ali para sempre. Deixava apenas do seu nariz para cima fora da água, seu cabelo preso em um coque no topo da cabeça.

Sentia-se sonolenta, mas não queria correr o risco de cochilar e ter outro pesadelo. Não agora. Não sabia o que viria a seguir.

- Aly? - Ethan a chamou.

Alyssa não conseguia reunir forças o suficiente para responder. Ethan bateu na porta.

- Aly. Tá tudo bem?

Uma lembrança antiga atingiu Alyssa. Uma vez seu pai estava mais violento do que o costume, Alyssa havia apanhado tanto que mancava, o medo a fez fugir antes de levar outro tapa. Alyssa sabia que fugir era pior, que só faria com que seu pai fosse atrás dela com mais raiva, mas mesmo assim, se trancou no banheiro e se encolheu na banheira, cobrindo os ouvidos enquanto rezava para que a porta não abrisse enquanto seu pai batia com raiva, chamando-a.

- Aly! Me deixa entrar. - Ethan soava mais preocupado, com medo. - Por favor.

Os olhos de Alyssa encheram-se de lágrimas e um soluço escapou, seguido de outro e outro, parecia que uma represa havia se rompido em seu coração, despejando tudo para fora ao mesmo tempo. Alyssa agarrou os joelhos na altura do peito ao ouvir o som de madeira quebrando.

Ethan empurrou a porta, desesperado, pensando que Alyssa havia caído durante o banho e desmaiado, pensando até mesmo que o pior havia acontecido. Seu olhar fora de si varreu o cômodo e se fixou na pele pálida de Alyssa, encolhida na banheira enquanto soluçava e chorava como ele nunca havia visto.

- ALY!

Correu até Alyssa e jogou-se no chão, suas mãos trêmulas tentavam ser gentis enquanto verificava a cabeça de Alyssa em busca de qualquer machucado. Olhou para a água, cuja cor estava normal, sem sinal de sangue.

- Graças a deus! - Ethan expirou aliviado.

Nunca esteve tão preocupado em toda sua vida como nos minutos em que chamou por Alyssa e ela não respondeu. Pânico tomou conta dele e pensou imediatamente no pior. Sabendo agora que Alyssa estava bem, pelo menos fisicamente, conseguiu se acalmar para descobrir o que a deixou assim.

Onde as lágrimas repousam [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora