II
Alyssa ficou atônita com as ações de seu salvador e recuou, abraçando sua bolsa até estar na calçada da rua iluminada novamente. Ele continuou andando em sua direção e ela teria corrido caso a adrenalina em seu corpo não tivesse o efeito contrário de minutos antes. Ele parou alguns passos de distância, a luz do poste lançava uma sombra sobre seu rosto mal barbeado, tornando impossível ver seus olhos.
— Você está bem? — Ele se curvou um pouco e pareceu avaliá-la dos pés à cabeça. — Ele te machucou?
Alyssa ouviu a preocupação genuína em sua voz, tentou falar, mas falhou. Em vez de palavras o que saiu foi um ruído rasgado, então percebeu que não estava respirando direito e lutou para se acalmar. O homem praguejou baixo, ergueu as mãos e as pôs nos ombros dela.
— Você está tremendo. Calma. Está tudo bem agora. — Falava baixinho quase como se temesse assustá-la.
Virou-a para andar pela calçada, deixando um braço envolta dos ombros dela, de forma protetora.
Durante todo o tempo Alyssa sentia suas pernas fracas, apenas tentava manter-se andando. Sua mente estava aos trancos e a única coisa que conseguia fazer era apertar sua bolsa com mais força em seus braços e tentar não cair. Alguns minutos depois, percebeu que estavam chegando próximo ao seu prédio.
Franziu o cenho, saindo de seu estado de pânico, algo nela não queria que esse estranho soubesse onde morava, não depois do que quase lhe aconteceu essa noite.
— Obrigada, estou bem agora. — Afastou-se dele e segurou a alça da bolsa, tentando mostrar uma calma que, certamente, ela não sentia. — Posso ir sozinha, vou ligar para a polícia quando chegar em casa. Você pode me dar seu nome e número de telefone? Provavelmente vão querer entrar em contato com você como testemunha e merda do tipo. Seria bom não jogar a navalha e a carteira do escroto fora também.
Ele a olhou em silêncio por algum tempo, enfiou as mãos nos bolsos e entregou a carteira e a navalha para ela. Alyssa percebeu então que ele não havia encostado os objetos diretamente em sua pele, segurando-os através do tecido de seu sobretudo.
— Não tenho telefone. Fique com isso e entregue para a polícia. — Ele parecia envergonhado.
Alyssa o observou em silêncio, sem saber o que falar enquanto recolhia as coisas cuidadosamente das mãos dele, também sem deixar aquilo encostar na sua pele. Pegou um lenço de papel em seu bolso e enrolou os objetos, as digitais do bêbado poderiam ser uma prova.
Ele a ajudou no calor do momento, mas isso não significava que iria querer se envolver com a polícia, ela entendia isso. Como uma pessoa que cresceu num orfanato do subúrbio, conheceu e lidou com todo tipo de gente, Alyssa não era ingênua. Mas mesmo assim, sentia-se grata a ele.
— Tudo bem, obrigada. — Olhou para baixo e franziu o cenho ao ver sangue nas mãos dele. — Deixa tratar isso pelo menos. — Disse apontando para suas mãos e esquecendo o bom senso.
Ele hesitou por alguns instantes, mas concordou e a seguiu até seu prédio.
No percurso, a consciência de que estava levando um homem estranho para seu apartamento a atingiu. Ela nunca havia feito isso antes, nem mesmo com os homens com quem saiu ou namorou por algum tempo.
Olhou de soslaio para o sujeito. Ela sabia lutar, tinha um spray de pimenta e um botão do pânico em sua bolsa. Jason a obrigou a aceitar e a fez prometer que sempre andaria com aquelas coisas, vários anos atrás.
"Mas essas coisas não teriam me salvado no beco.", pensou sombriamente.
Alyssa girou a chave de sua porta, lembrando imediatamente da sujeira que havia deixado em sua casa.
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Onde as lágrimas repousam [Concluído]
RomanceOs caminhos de Alyssa e Ethan se cruzaram de maneira inesperada. Embora tenham vidas totalmente distintas, possuem algo em comum: traumas que não superaram. Desde que era apenas uma garotinha assustada e tornou-se órfã de forma violenta, Alyssa car...