12. Taquicardia

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I

- Porra, de novo não! - Sussurrou raivosamente Ethan ao derrubar sua escova de dente pela terceira vez.

Suas mãos tremiam levemente e ele não poderia negar a si mesmo que estava nervoso.

Depois de ser aceito no café, retornou para casa enquanto Alyssa passaria o dia trabalhando. Haviam combinado que ele iria busca-la, o que seria algo como qualquer outro dia desde que eles se conheceram, exceto que não era qualquer outro dia. Alguma coisa estava mudando nele e tinha medo disso, principalmente porque não sabia como no inferno poderia parar seja lá o que estivesse acontecendo... E honestamente, não sei se quero mesmo que isso pare.

O que Ethan sabia? Que estava ficando nervoso quando ficava em volta de Alyssa. Tornou-se extremamente consciente de sua presença e quando ela não estava próxima, seus pensamentos acabavam retornando à ela.

Naquele final de semana com seus amigos, alguma coisa havia mudado.

Estava se aproximando do horário em que sairia para busca-la e começou a ficar nervoso quando lembrou a forma como ela reagiu ao seu abraço quando se despediram. Tão logo percebeu que a havia erguido do chão, temeu sua reação, mas quando a colocou sobre seus pés novamente, um sorriso caloroso o recebeu. Aquele sorriso havia inflado algo em seu peito e desde então, não conseguia tira-lo da cabeça.

Claro, ela já havia sorrido centenas de vezes para ele, então o que foi tão diferente sobre aquele sorriso?

Finalmente havia conseguido terminar de escovar os dentes, saiu do banheiro e olhou em volta, para o apartamento dela. Ethan havia aspirado e organizado, achava que era uma compensação mínima por tudo o que Alyssa fez por ele. Foi até a cozinha e vasculhou a pequena dispensa, ali, pegou algumas velas largas e quadradas.

Reorganizou as coisas no balcão da cozinha e na mesa de centro da sala, colocando um conjunto de três velas em cada, fechou as cortinas de cor azul marinho, escurecendo o ambiente.

Voltou à dispensa e pegou uma garrafa de vinho que havia sobrado do pôquer e a colocou na geladeira.

Olhou novamente em volta, como ela reagiria? Será que estava exagerando? Sentou-se pesadamente no sofá. Ethan dependia totalmente financeiramente de Alyssa, ela havia lhe fornecido tudo o que ele precisava para ter uma segunda chance, e não se tratava apenas de coisas materiais, ele havia desistido de viver, sobrevivendo apenas em função da próxima vez que poderia conseguir comer.

Mal lembrava como era ser tratado com respeito, como um igual. Nunca recebera dela um olhar de piedade ou desconfiança, ela o ouvia com interesse e eles conversavam com muita facilidade sobre todo o tipo de coisa.

E se Alyssa pensar que estou confundindo meus sentimentos com gratidão? E se ela não se sentir da mesma forma que eu? Nossa relação mudaria? Ela hesitaria em conversar comigo? Deixaria de se sentir a vontade em volta de mim?

Soltou um suspiro e segurou a cabeça entre as mãos, olhando as velas em cima da mesa. Talvez não seja o momento de falar como se sentia sobre ela. Seus pensamentos voavam com velocidade enquanto Ethan formulava um plano em sua mente.

Talvez seja melhor esperar até pagar tudo de volta e me tornar autossuficiente. Sim, depois disso não tem como Alyssa contestar o que eu falar.

Agora Ethan tinha um segundo objetivo de vida delimitado muito claramente. primeiro precisava estruturar-se. Depois, ele não mediria esforços para conquista-la.

O sorriso de Alyssa novamente cruzou sua mente. Levantou-se, determinação preenchia seu corpo enquanto recolhia as velas e as guardava.

Ele faria aquilo por ele, mas também faria por ela.

...

- Infernos, mulher, controle-se. - Resmungava Alyssa enquanto terminava de guardar seu uniforme.

Por que diabos tô tão nervosa quanto uma virgem em um sex shop? Não tem nada demais acontecendo, disse a si mesma. Eles iriam passar no supermercado no caminho e escolher o que jantariam para comemorar... Talvez com um vinho, lembrou que havia sobrado uma garrafa do final de semana.

Pegou o celular e mandou uma mensagem aos seus amigos, dando a boa notícia. Todos mandaram repassar recados de felicitações e Jason disse que estava sondando vagas disponíveis em uma filial de alguma empresa que havia aberto há não muito tempo.

- Então... Fale mais sobre o Sr. Quente quente. - Ronronou Regina ao seu lado, também guardando seu uniforme.

- Sim por favor, não deixe de fora nenhum detalhe sórdido. - Acrescentou Ana sentada na cadeira, retirando suas botas.

- Que? - Alyssa piscou, fingindo confusão.

Realmente esperava que Regina e Ana não notassem e mirassem um alvo em Ethan? Realmente?

- Ah, bem, ele se mudou há pouco tempo para o meu prédio e nos tornamos amigos. - Completou rapidamente.

- Só isso? - Questionou Regina com uma sobrancelha erguida. - Qualé, Al, não sabia que tu é assexuada. Tu ao menos notou o corpão daquele cara? Ele poderia facilmente ser um modelo.

Ana concordou.

- Ele é solteiro? - Perguntou Ana. - Por favor, diga que ele é solteiro.

Naquele momento Alyssa percebeu Chris, que terminava de limpar a cozinha, claramente ouvindo a conversa e pelo visto, não gostando do rumo que as coisas estavam indo. Seu pescoço estava vermelho, o que acontecia sempre que ele estava nervoso.

Alyssa sentiu uma pontada de irritação com Ana. A olhou, verdadeiramente avaliando sua aparência. Era ela loira, alta, magra, e suas feições suaves como as de um anjo. Além disso Ana era uma ótima pessoa.

Qual homem em sã consciência não notaria todas essas qualidades?
Olhou para Regina. Por sua vez, seu cabelo ondulado castanho tinha uma nuance suave de loiro, não possuía nenhuma ruga e sua boca era carnuda. Bonitos olhos pretos amendoados complementavam sua beleza.

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Onde as lágrimas repousam [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora