II
Ethan ergueu os olhos para o teto, pedindo por paciência. Contava sua versão do que aconteceu pela terceira vez, cuidadosamente ocultando o fato de que também estava seguindo Alyssa - por razões muito diferentes das de Jacob -, descobriram que esse era o nome do homem que atacou Alyssa.
Como uma enxurrada, lembrou-se de quando dera depoimento atrás e depoimento, sem que entrasse em contradição, uma vez que realmente era inocente dos crimes que estava sendo investigado. Hendrik fora um canalha completo, o demitiu da empresa que eles fundaram, o ameaçou, caso não fosse embora da cidade, e mesmo depois de tudo isso, mesmo depois de Ethan tentar seguir adiante com sua vida, Hendrik o incriminou.
Lutou para controlar a raiva que fervia sempre que refletia sobre as injustiças de sua vida.
Segundo soube pelos policiais quando foram fazer o boletim de ocorrência, alguém havia encontrado Jacob no beco - ainda inconsciente - no fim da madrugada, e chamou uma ambulância.
Ele estava atualmente em um hospital e a polícia havia sido chamada pela equipe médica. Até então todos pensavam que o homem havia sido roubado e espancado, uma vez que Jacob não estava com a carteira ou qualquer documento ou dinheiro.
Tão logo acordou, a polícia recolheu seu depoimento. O filho de uma mãe havia dito exatamente o que a equipe médica e a polícia havia suposto até o momento, de forma que quando Alyssa e Ethan entraram na delegacia para realizar o boletim de ocorrência contra ele, ambos foram tratados como suspeitos.
Os separaram para recolher os depoimentos sem a interferência do outro e isso ocorreu fazia quase uma hora e meia.
O policial que o interrogava naquele momento, avisou que estavam obtendo as imagens de uma câmera de segurança do prédio ao lado de onde tudo aconteceu, e que estava voltada para aquele trecho da rua, da entrada do beco. Ethan fez seus pontos novamente, por que eles levariam a carteira (intocada) e a navalha - com o sangue de Alyssa e digitais do agressor - para a delegacia, se eles, como supuseram os policiais, haviam roubado e espancado o homem?
Ethan sabia que sua ficha havia sido puxada no momento em que falou seu nome e entregou a identidade para registro do B.O., como testemunha. O que provavelmente contribuiu para que tivesse de repetir a mesma história uma e outra vez, com o intuito de cair em contradição, o que não aconteceu.
O policial bateu com a mão na mesa. Ethan também sabia que era uma tática para estressar emocionalmente o suspeito e cansa-lo, aumentando a possibilidade de o mesmo cometer um deslize na narração.
- Você tem que concordar comigo, Sr. Gauthier...
- Ethan. - Interferiu ele, sentindo o gosto amargo de seu sobrenome. - Apenas Ethan, por favor.
- Que seja, Sr. Ethan. Duas pessoas com ficha entraram em uma delegacia com a carteira de um homem que foi encontrado horas antes, com claras evidências de agressão corporal, em um beco, e que o mesmo alegou ter sido roubado. O que você pensaria, sendo um policial?
Ethan conteve sua raiva crescente. Sabia que tão logo a imagem da câmera fosse analisada, eles seriam liberados, era apenas uma questão de tempo. Embora a informação sobre Alyssa ter ficha o tivesse surpreendido, não conseguia imaginar a doce mulher fazendo algo que pudesse leva-la a ser sequer detida.
- Eu pensaria que, obviamente a equipe médica comprovou que o homem tinha claros sinais de embriaguez ao acordar, que as digitais dele baterão com as do canivete que trouxemos, que o resultado de um exame de DNA pode mostrar que aquele sangue na lâmina pertence à Srta. Casey, que há uma marca em seu pescoço, que o próprio exame de corpo de delito a que ela foi submetida já deve ter comprovado, que foi feito com uma lâmina, que sim, eu bati no sujeito - coisa que nunca neguei - mas que foi para impedir que ele a estuprasse ou fizesse o que quer que ele queria fazer com uma lâmina em sua garganta e a mão vagando por seu corpo.
"Eu também pensaria que o resultado do meu exame comprovou que as feridas em minha mão foram causadas pelos socos que desferi, que nós pegamos a carteira do homem e o canivete para trazê-los como provas para a polícia e que nós não ficamos no local do ataque porque já estava muito tarde e a Srta. Casey estava em estado de choque, e até onde eu tenho conhecimento, não é crime que a vítima e a testemunha saíam do local do crime por questões de segurança".
"Mas acima de tudo, eu pensaria que invés de ficar criando conclusões preguiçosas de forma superficial, eu deveria me atentar a todos os fatos, o que inclui a imagem da câmera de segurança que irá comprovar tudo o que nós dissemos".
Ethan respirou fundo, nem no inferno seria acusado novamente de forma injusta.
O policial o avaliou, claramente irritado, mas por fim suspirou, aparentemente cedendo.
- A imagem da câmera deve sair em alguns minutos, meu colega foi ao local assistir as imagens e ligará tão logo tiver as respostas. Novamente, você e a Srta. Casey têm direito a advogado.
Ethan negou coma cabeça.
- Uma vítima e uma testemunha não precisam de advogados para realizar um boletim de ocorrência.
Uma hora depois, o policial retornou dizendo que a história dele e de Alyssa haviam sido confirmadas pelas imagens da câmera de segurança, que mostrava claramente Alyssa andando na rua e sendo surpreendida pelo homem, cuja aparência e roupas batiam com as de Jacob, com um objeto brilhante na mão, e que ele a agarrou e a empurrou para dentro do beco.
Pouco tempo depois, também mostrou Ethan correndo para dentro e alguns minutos após isso, saindo com uma Alyssa claramente em choque.
Levou mais uma hora para todos os procedimentos até que eles finalmente saíram da delegacia. Uma investigação seria feita, Jacob seria intimado a depor para a construção do inquérito e quando concluído, o ministério público poderia denunciar Jacob por tentativa de estupro e lesão corporal de natureza leve. Alyssa, Ethan e Jacob, iriam ser chamados para uma audiência futuramente.
Até lá, Alyssa possuía uma medida protetiva de proibição de aproximação com limite mínimo de distância contra Jacob, o que em tese, lhe daria segurança até o julgamento, e caso ele descumprisse a medida, poderia ser detido.
Ethan estava psicologicamente e fisicamente exausto, uma olhada em Alyssa e ele sabia que ela se sentia da mesma forma. Era início da tarde, eles não haviam comido nada desde o café da manhã.
- Mas que inferno. - Exclamou Alyssa, repentinamente, enquanto caminhavam até o prédio.
Ethan a olhou, ela parecia muito irritada, para dizer o mínimo.
- Gostaria de nunca mais voltar para aquele lugar e se eu vir aquele homem, Jacob, na minha frente, ele não vai ter que se preocupar em ser preso, porque eu vou ser a presa por matar daquele filho de uma puta bêbado e estuprador, por ter nos feito passar por tudo isso. - Alyssa andava furiosamente, quase marchando, enquanto resmungava para si mesma.
Ethan ergueu as sobrancelhas para a quantidade e a variedade de palavrões que Alyssa conhecia. Tentava não sorrir, pois apesar de tudo, ela é uma coisa fofa andando irritada.
Ethan sabiamente não riu quando Alyssa bateu o pé no chão e cruzou os braços, totalmente alheia a sua presença. Pacientemente parou ao lado dela e esperou que ela andasse novamente.
Ethan também se admirou com sua coragem e energia, imaginaria que qualquer pessoa na posição dela estaria assustada ou triste demais com aquilo tudo, mas não ela, Alyssa amaldiçoava o homem que a agrediu até sua sétima geração de descendentes, enquanto narrava com fúria todo o tipo de coisa sangrenta que faria caso ele cometesse o terrível engano de aparecer diante dela novamente. Ethan não duvidava de suas ameaça nem por um segundo.
- Pode pegar o que quiser na geladeira, tô sem fome e preciso de um banho para tirar a catinga daquela delegacia que grudou nos meus órgãos. - Anunciou Alyssa antes de entrar no quarto e depois se enfiar no banheiro.
Ethan retirou os sapatos, o sobretudo e sua carteira velha do bolso, ainda encarando a porta do banheiro. Suspirou, sabia que ela estava com fome pela forma como havia encarado pessoas comendo em um restaurante, no caminho.
Lamentou sua situação. Se tivesse um emprego, poderia leva-la para comer fora, como não tinha, foi para a cozinha, faria o que pudesse para anima-la.
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Onde as lágrimas repousam [Concluído]
RomanceOs caminhos de Alyssa e Ethan se cruzaram de maneira inesperada. Embora tenham vidas totalmente distintas, possuem algo em comum: traumas que não superaram. Desde que era apenas uma garotinha assustada e tornou-se órfã de forma violenta, Alyssa car...