32. O diário

57 26 1
                                    

I

Estava chovendo quando Alyssa chegou em casa, suas roupas estavam molhadas e ela praguejou, tremendo de frio. Ligou a luz da sala e olhou em volta, sentindo-se um pouco melancólica por causa do silêncio. Reconhecia que ficou mal acostumada tendo Ethan e os caras ao redor de si.

Foi tirando a roupa enquanto andava pela casa, entrou no banheiro e ligou a torneira da pequena banheira abaixo do chuveiro. Normalmente não se dava o luxo de gastar água com isso, mas seus pés e costas doíam por ter passado o dia inteiro servindo mesas e acreditava que merecia dessa vez.

Ajustou a temperatura da água para quente e foi para o quarto retirar o resto das roupas, prendeu o cabelo em um coque no alto da cabeça encarou seu criado mudo. Durante o final de semana Alyssa havia reencontrado sua mãe, seu coração ainda se apertava dolorosamente pelo fato de que a mulher sequer lembrava alguma vez já ter tido uma filha. Pelo menos na maior parte do tempo.

Abriu a gaveta lentamente, mas voltou a pôr as mãos em seu colo, observando pela milésima vez a capa marrom do pequeno caderno. Alyssa ainda não havia tido a coragem de abri-lo.

"— Eu me lembro de você". Foi o que ela dissera.

Aquela única frase ecoava infinitamente dentro de si.

Alyssa esfregou os olhos cansados, Katelyn a havia chamado de Lyssa. Não lembrava de ser chamada assim antes, mas por algum motivo, chorava sempre que lembrava como essas palavras soaram.

Lágrimas escorreram pelas bochechas de Alyssa, novamente. Há poucos meses sua mãe estava morta, agora, sua mãe estava viva, mas sua filha deixara de existir em sua memória.

Alyssa pegou gentilmente o caderno, como se fosse um frágil tesouro e andou até o banheiro, desligou as torneiras e entrou membro a membro na água, evitando um choque térmico em seu corpo frio. Soltou um suspiro de prazer quando apenas seu pescoço e braços estavam fora da água.

Fechou os olhos e esperou a tensão se esvair. Deveria ter cochilado, pois acordou quando escorregou as costas para dentro da água, quase afogando-a. Segurou-se nas laterais da banheira, a água estava meramente morna agora. Olhou em volta, ainda atordoada pelo sono e viu o caderno de sua mãe. Hesitou.

Inferno Alyssa, desde quando você é covarde? Xingou a si mesma, pegando o caderno. Ouviu seu celular tocar na sala, mas ignorou. Respirou fundo e abriu na primeira página. Fascinada, passou os dedos pela letra caprichosa de sua mãe. Passou para a segunda página e leu atentamente anotações sobre coisas aleatórias, exames médicos, posologia de medicamentos, listas de compras...

Alyssa percebeu que sua mãe usou aquele objeto por anos, de acordo com as datas que ela preencheu, e o usava como uma agenda, bloco de notas, lista telefônica. O pequeno caderno era um caos. Alyssa sorriu diante disso, uma vez que imaginava a si mesma fazendo algo parecido.

Ouviu seu celular tocando novamente e o ignorou.

Na metade do caderno havia uma página escrita "Não esquecer" e isso a intrigou, na seguinte havia uma nota.

___________________________________________

Votem e comentem ❤️

Me deixem saber se estão gostando da história.

Onde as lágrimas repousam [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora