13. Espaços Vazios

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I

- Torta de nozes e cappuccino. - Anunciou Ethan enquanto servia a mesa sete.

Fazia um mês que trabalhava no Du Mond. Abaixou a bandeja próxima ao corpo e olhou para Alyssa de relance, que estava no balcão. Passou a sentir-se frustrado sempre que a olhava, sempre que se falavam.

Desde aquele dia em que ele fora aceito por Matt, sentiu que Alyssa havia se afastado emocionalmente, queria desesperadamente saber o que exatamente havia acontecido, o que estava acontecendo para ela agir assim, mas não se sentia no direito de forçar a barra.

A segunda coisa que havia notado? Pesadelos, Alyssa começou a tê-los frequentemente, embora ela não parecesse dar muito importância àquilo, como se fosse normal e estivesse acostumada, o que deixava Ethan angustiado.

Ele mesmo havia parado de ter pesadelos e finalmente conseguia dormir sem o instinto de sobrevivência que o forçava a ter o sono leve e a reagir de forma agressiva a qualquer estímulo, então era inaceitável que a pessoa que o ajudou a superar aquilo, estivesse nessa situação enquanto ele nada poderia fazer.

Quando Ethan perguntou sobre o que eles eram, ela havia dado de ombros, dizendo que não lembrava, mas sempre desviava o olhar. Ela sabia o que estava sonhando e não queria falar, por alguma razão.

Ethan havia percebido de cara que a situação era bem mais séria do que Alyssa fingia ser, pelo simples fato de já ter presenciado diversas vezes quão perturbada e abalada ela ficava após os pesadelos. Alyssa aceitava seu conforto, mas em seguida, sentia aquele muro invisível ser erguido novamente entre eles.

De forma que, depois de vários dias consecutivos de pesadelos, os radiantes olhos canela de Alyssa passavam a maior parte do tempo absortos e distantes. Frequentemente Ethan a via perdida em pensamentos, distraindo-se do que quer que fosse com facilidade. Estava daquele modo quase todo o momento, mas se esforçava com afinco para fingir que tudo estava bem, excepcionalmente quando estava próxima de seus colegas de trabalho, Jason, Max e Daniel.

Ethan cogitou contar para Jason e os outros sobre suas preocupações, mas sempre que tentava conversar com Alyssa sobre isso, ela se irritava e evadia completamente do assunto.

O que quer que estivesse acontecendo com ela, não queria conversar sobre, pelo menos não comigo.

- Opa. - Ana soltou quando esbarrou acidentalmente em Ethan.

Soltou um sorriso que era de fato encantador.

Ana era uma mulher muito atraente, tinha porte de modelo e a personalidade extrovertida, sempre conversando com todos e sendo o centro dos diálogos. Entretanto, Ethan não se sentia atraído por ela, apesar de seus flertes e investidas. Não sentia por Ana o impulso de fitar seus lábios quando ela passava a língua sobre eles de forma sedutora, fazendo com que todos os homens dentro de estabelecimento parassem o que estavam fazendo.

Da mesma forma, Ethan virava os olhos na direção oposta quando ela chamava atenção ao sair, apenas para que o foco se voltasse para seu quadril e bunda enquanto andava. O que Ana fazia sempre que passava por ele, Ethan havia percebido o interesse demasiado dela desde seu primeiro dia de trabalho, embora fosse casual, como se dissesse "você está aqui, eu estou aqui, por que não aproveitar?".

Apesar de tudo, Ethan tinha a impressão de que ela não estava realmente interessada nele, algumas vezes, até mesmo tinha a impressão que Ana olhava na direção de Alyssa logo depois de um flerte descarado.

No começo Alyssa franzia a testa para as cenas, medindo a reação de Ethan, mas com o passar das semanas ela sequer se dava o trabalho de uma olhava.

Quanto a Ethan, estava frustrado. Sentia que estava perdendo algo importante com Alyssa e não fazia a menor fodida ideia de como recuperar.

Suspirou anotando um pedido à lá chá-da-tarde completo para um grupo de senhoras, elas soltavam sorrisinhos matreiros em sua direção. Uma até mesmo havia enfiado a mão no bolso de seu avental. Mais tarde, para sua consternação, Ethan retirou um papel com o número e nome de cada uma delas com apenas uma mensagem "panela velha é que faz comida boa".

Oh Jason e os outros vão adorar saber disso. Ethan sorriu pela jovialidade das senhoras.

Limpou a mesa de um cliente que acabara de sair e levou os pratos de volta para a cozinha. Soltou outro suspiro cansado enquanto Jack dava um tapa na nuca de Chris depois de o garoto falar que o mau humor de seu tio era falta de sexo.

Ethan retirou o papel das senhoras desinibidas e o deixou discretamente dentro de uma das páginas do livro de Jack, cujo título era "Como ser um homem confiante depois dos 40".

Era sexta feira, seus amigos iriam passar o sábado com eles, mas iriam embora no mesmo dia, pois Max tinha um evento no domingo onde havia sido contratado como barman. Ethan queria conversar com eles, falar sobre Alyssa, sobre como se sentia e esperava que pudessem aconselha-lo.

Depois de fecharem o café e limparem tudo, Matt chamou cada um por vez para o pagamento do mês.

Ethan sorriu, meu primeiro salário em anos! Sentia uma felicidade e gratidão que não cabiam dentro de si enquanto assinava o recebido de seu salário. Estava mais emocionado até que seu primeiro pagamento em um trabalho temporário durante suas férias de verão, quando mal tinha quinze anos.

Uma semana depois de começar a trabalhar. Ethan abrira uma conta bancária fornecendo os dados de endereço de Alyssa, depois que ela sugeriu isso. Era muito mais seguro ter uma conta do que andar com todo o salário na carteira.

Alyssa o chamou depois que ambos pegaram seu pagamento e começaram o habitual trajeto.

- E então? Qual a sensação? - Alyssa tinha um sorriso que não alcançava seus olhos.

Ethan a observou, sua pele pálida havia perdido um pouco do brilho natural, ela tinha olheiras sob seus olhos e passou a prender seu cabelo em um rabo de cavalo desordenado há duas semanas. Sabia que ela não era uma pessoa vaidosa e honestamente, com aquele cabelo acobreado formando ondas que emolduravam um rosto redondo, nariz arrebitado, boca em formato de coração cujo lábio inferir fazia um arco sexy e olhos cor canela que incitavam qualquer homem a luxúria, ela não precisava de nada para ser perfeita. A achava perfeita ainda agora.

Mas quando ela sorria de verdade era quando se tornava mais sexy, na opinião de Ethan. A personalidade extrovertida de Alyssa era parte de sua beleza e o principal fato pelo qual havia se apaixonado.

O sorriso de Ethan vacilou.

Sim, eu me apaixonei por Alyssa Casey, essa linda e gentil garçonete de pavio curto e com o melhor gancho de direita do bairro.

- Eu tinha esquecido a sensação. - Balbuciou desviando do olhar de Alyssa. - Quando se torna algo habitual do seu dia a dia você não valoriza tanto.

- Ainda bem que as coisas estão caminhando pra você.

Sim, mas e para nós? Questionou-se Ethan.

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M

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Onde as lágrimas repousam [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora