Os caminhos de Alyssa e Ethan se cruzaram de maneira inesperada. Embora tenham vidas totalmente distintas, possuem algo em comum: traumas que não superaram.
Desde que era apenas uma garotinha assustada e tornou-se órfã de forma violenta, Alyssa car...
Os meses seguintes foram um verdadeiro inferno para todos, Ethan mudou-se novamente para o apartamento de Alyssa. Novamente desempregado, visto que a SendaX CO havia fechado as portas quando seus fundadores foram condenados e a indenização por ter sido preso injustamente ainda não havia saído. Ethan estava preparado para isso e havia reservado uma parte de seu salário para manter-se enquanto a poeira baixava e ele pudesse arrumar outro emprego.
Uma pequena parte da mídia ainda aparecia de tempos em tempos, mas Ethan já estava mais do que treinado para lidar com esses infortúnios
Vários tabloides de fofoca começaram a fuçar sua vida e das pessoas a sua volta, em busca de algo que vendesse, dessa forma descobriram sobre o tempo que Anabelle passou trabalhando de garçonete, o que deve ter dado um pequeno aneurisma em Linda Carter.
Ana ainda não havia conseguido ter tido "a conversa" com sua avó, mas não estava mais sozinha. Assim como fizeram com Alyssa e Ethan, Ana foi completamente acolhida no grupo pelos caras, então por hora, estava satisfeita com sua vida.Com influência de Ana, Jason havia entrado para o ramo da segurança privada e estava iniciando seu treinamento em gestão de segurança. Max também se beneficiou dos contatos de Ana, como uma boa festeira que era, ela fazia questão de indicá-lo para todos os eventos que tinha conhecimento.
Dan por sua vez, havia decidido expandir seus horizontes, querendo transformar seu amor pelo universo geek em algo maior, sua intenção era um restaurante temático, de forma que começava a cursar gastronomia. Alyssa havia ganhado uma herança de sua mãe boa o suficiente para que não precisasse se preocupar com dinheiro por um bom tempo, mas não estava feliz com a notícia de que Matt fecharia o café.
Seu chefe havia reatado com sua ex-mulher e se mudaria para viver com ela e seu filho em outra cidade, uma vez que era aposentado e mantinha o café como um hobby e uma renda extra, de forma que Matt organizou uma festa de despedida para os funcionários e amigos em seu último dia de funcionamento.
Alyssa girava seu copo melancolicamente enquanto observava Ana conversar com Christopher, que parecia finalmente ter tomado coragem para se declarar. Pobre garoto.
Matt jogou-se ao seu lado.
— Isso deveria ser uma festa, sabe? — Comentou.
Alyssa suspirou.
— Foi aqui que consegui estabilizar minha vida depois do orfanato, não acredito que nunca mais vou sentir esse cheiro enjoativo do queijo que Jack faz questão de botar em tudo.
Matt riu, seu timbre reverberando no tampo da mesa. Depois a olhou e coçou o queixo.
— Sabe o que eu lembrei agora?
— O que?
— Você malditamente ganhou.
Alyssa piscou, sem entender do que ele estava falando. Matt pareceu ler sua confusão e abriu um sorriso com seu bigode amarelado que deixou crescer e o fazia parecer um personagem de cartoon.
— A aposta, você não chegou atrasada um dia sequer em todos esses meses.
Alyssa sorriu, percebendo que aquilo era verdade.
— Bem, é uma pena que eu não vou receber meu aumento então.
Matt a olhou sério.
— Você teria um aumento... se fosse a dona do café.
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Ethan caminhava ao lado de Alyssa, finalmente haviam conseguido organizar os negócios, tanto Alyssa com o café quanto Ethan na C&S consultoria, onde estava trabalhando com Ana e Linda Carter.
Aos poucos a vida parecia entrar nos eixos.
— Você está bem?
Alyssa olhou para cima, para Ethan. Ela lhe deu um sorriso afetado, mas não respondeu nada, voltou seus olhos para o caminho, parando de andar.
— Acho que eu quero ir sozinha daqui em diante.
— Tem certeza? — As sobrancelhas de Ethan se juntaram.
Alyssa aproximou-se, dando-lhe um beijo lento e assentiu.
Ethan suspirou. Alyssa olhou para os caras e Ana, próximos deles.
— Vocês realmente não precisavam ter vindo, eu estou bem.
— A gente não. — Jason cruzou os braços.
Alyssa riu e virou, seguindo o resto do caminho sozinha.
Estava no início do outono, as folhas começavam a adquirir os tons amarelados e alaranjados típicos da estação, mas o clima ainda era ameno, presente tardio do verão. Por esse motivo a grama ainda estava verde e reluzia a luz de fim de tarde.
Ao contrário do que achou que seria, Alyssa não sentia-se triste ou angustiada, pelo contrário, caminhava calmamente, com o coração leve.
Finalmente estava pronta para seguir em frente. Falta apenas uma coisa pra isso.
Depois de alguns minutos, encontrou o que procurava.
Em memória de Katelyn O'Connell
1968 - 2019
"Amar incondicionalmente é abrir mão da própria felicidade para que o outro possa ter uma chance de ser feliz"
Aquela mesma frase estava no diário de sua mãe. Ela quem escreveu essa frase. Alyssa fechou os olhos e ajoelhou-se na grama, diante da lápide.
— Oi mãe. — Alyssa sentou. — Eu não vim antes porque as coisas estavam uma bagunça. — Alyssa hesitou, pensou que seria estranho conversar com um pedaço de pedra, mas de olhos fechados, Alyssa via o rosto de sua mãe, sentada na cama da casa de repouso, de forma que continuou. Mas eu tenho novidades, comprei o café do Matt, que era meu chefe. A, e eu era garçonete, mas agora a chefe sou eu. — Ela sorriu para os caracteres em baixo relevo no mármore cinza.
Uma pequena foto de sua mãe estava no topo da pedra. Alyssa baixou seu buquê de flores diante da pedra
— Eu não tenho mais pesadelos. — Alyssa sussurrou. —... Acho melhor eu contar desde o começo, né.
Sorriu.
— Tudo começou quando eu estava indo pra enfermaria do orfanato e vi uma mulher chorando... Apenas recentemente descobri que era você naquele dia...
Alyssa levantou-se quando Ethan e seus amigos apareceram de longe. Olhou para o céu, algumas estrelas apareciam, mesmo ainda estando claro.
Observou eles conversando e riu, pensando em quão idiota havia sido ao passar todos esses anos pensando que não tinha uma família.
— É claro que eu tenho uma família. Eu sempre tive.
Seus olhos encheram de lágrimas, mas não eram de tristeza, não mais.
As vozes deles alcançaram Alyssa e ela riu ao ver Ana pulando nas costas de Max. Ethan virou para Alyssa como se sentisse seu olhar sobre eles e sorriu, acenando.
— Obrigada mãe... Por tudo.
Alyssa correu até os outros.
— ABRAÇO EM GRUPO! — Gritou antes de pular em Ethan.
Alyssa enfiou o rosto no ombro de Ethan, que abaixou-se para retribuir o abraço. Sentiu-se rodeada.
Um a um, os demais se juntaram.
Ethan, Jason, Max, Dan e Ana.
E enquanto a primeira folha do outono desprendia-se suavemente do galho e dançava ao som do vento, as lágrimas de Alyssa repousavam no mesmo local onde se encontrava seu coração.