27. Colarinho

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II

— Inferno! — Xingava Alyssa baixinho enquanto apoiava-se no poste.

Faltava duas quadras para seu prédio e seu sapato escolhera justamente esse momento para descolar completamente.

Alyssa segurou a sola em uma das mãos, sabendo que era impossível mandar remendar aquilo. Foi mancando até a lixeira mais próxima e o jogou lá dentro, mas sua vontade era incendiar o sapato com a lixeira junto. O chão estava coberto de neve e gelo, seus dois pares de meias não seriam o suficiente para impedir que seu pé congelasse.

Começou a andar rapidamente e mancando. Ao chegar em seu prédio, suas meias estavam ensopadas e seus dedos do pé dormentes.

Entrou em seu apartamento e cheiro de comida agitou seu estômago, franziu. Vendo Ethan na cozinha.

— Você chegou mais cedo. — Observou ela.

— Sim. — Comentou de forma ausente.

Alyssa andou até o sofá e retirou as meias, jogando-as no chão e massageando seus dedos gelados para fazer a circulação retornar.

— O que aconteceu? — Ethan perguntou enquanto aproximava-se limpando as mãos no pano de pratos.

— Meu sapato estourou no meio do caminho. — Murmurou ela, sentindo-se um pouco envergonhada.

Ethan tocou seu pé, ajoelhando-se na sua frente e fazendo uma massagem, Alyssa suspirou de prazer, encostando-se no sofá e retirando o echarpe e o sobretudo.

— Então, como foi teu dia? — Perguntou casualmente.

O nível de intimidade entre eles havia se estreitado desde o ano anterior, de forma que com uma simples palavra de três letras, um sabia que alguma coisa havia acontecido com o outro, de forma que tanto Alyssa quanto Ethan sabiam que iriam conversar sobre o que o perturbou mais cedo ou mais tarde.

— No trabalho foi como sempre, exaustivo. Ainda estou organizando as diretrizes da empresa e tudo mais. — Respondeu ainda fazendo a massagem.

— Teve algum motivo específico pra você sair mais cedo? — Perguntou ela olhando-o atentamente.

As sobrancelhas de Ethan se contraíram por um breve piscar de olhos. Esse é o ponto, pensou Alyssa.

— Colin me tirou do escritório, disse que queria me levar em alguns lugares. — Ethan não continuou.

Alyssa irritou-se, odiava quando começavam a falar algo e deixavam a frase solta no ar.

— Pergunto quais lugares eram esses ou espero você resolver falar depois de uma longa pausa dramática? — Brincou ela.

Ethan suspirou, sentando-se na mesa de centro.

— Ele me levou para ver alguns apartamentos. — Ethan a olhou. — Sugeriu que eu me mudasse para um local mais... Próximo e condizente com a minha posição.

Ohh. Alyssa piscou.

— E você? — Perguntou com um nó na garganta.

— Eu concordei em me mudar. — Respondeu.

Ethan também poderia ter dado uma tapa no rosto de Alyssa, porque foi exatamente assim que sentiu-se com aquela afirmação. Sabia há meses que chegaria o momento em que Ethan poderia viver na própria casa. Ela até havia se preparado para isso, mas fora tudo antes de começarem a namorar. Uma parte dela sussurrou que ele tinha razão em mudar-se, ser independente e o caralho a mais.

Onde as lágrimas repousam [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora