[Alaska]
Meus pais se conheceram na faculdade e estavam juntos desde aquela época. Um típico clichê. Mamãe trabalhava no banco da cidade e meu pai gerenciava uma loja de ferramentas. Eu tinha uma irmã de dezenove anos, Allison. Como descrevê-la...?
Allison era bondosa, generosa e dedicada. Uma boa garota de notas altas e sorriso gentilesco. Em sua época escolar foi famosa por fazer amizade com metade dos alunos, cativar professores e ser a primeira da turma. Possuindo tamanhos atributos não foi surpresa quando ganhou uma bolsa de estudos em outro estado. E eu era o oposto. Minha vida não tinha muitas emoções; nada de sair escondido no meio da noite pela janela, fumar baseados ou fazer uma tatuagem secreta. O mais radical que já fiz foi pintar o cabelo — e inclusive o quesito beleza nunca foi meu forte. Eu sei que se mudasse o cabelo e começasse a usar maquiagem provavelmente ficaria bonitinha, mas parecia tão trabalhoso passar minutos e mais minutos enfeitando a cara e escolhendo peças de roupas... Por quê fazê-lo quando eu podia usar camiseta, calça e tênis? Muito mais prático e simples. Lembrava que, quando pequena, mamãe me fazia entrar em vestidinhos floridos e rodados para ir à igreja aos domingos e visitar meus avós. Eu os odiava até o presente dia. Eram bregas e quentes como o inferno, por isso parei de usá-los aos onze anos de idade. Desde lá nunca fiz uma escolha tão certa — isso e minha melhor amizade, claro.
❤︎ ❤︎ ❤︎
— Qual? — questionei, agitando a embalagem preta em volta da barra de chocolate na canhota e a de chocolate branco na destra.
Depois de muito conversar com Sammy, decidi que passaria o final de semana inteiro trancada no meu quarto para colocar os episódios de seriados em dia, comer porcaria e evitar meu cunhado apetitoso. Arrastei Sammy ao mercado e lá estávamos, fazendo compras.
— Alaska, você acha mesmo que seu plano vai dar certo? — ele apoiou as mãos na camiseta, acima da cintura que eu mataria para ter. Maldita genética boa, Fray!
— As duas, então. — Decidi, jogando os doces dentro do carrinho. — Vamos na sessão dos salgadinhos agora.
— Alaska... — Sammy chamou. Ignorei novamente. — Alaska!
— O que? — o olhei por cima do ombro, ainda mantendo os dedos no suporte de empurrar.
— Você pode me ouvir? — podia, mas não queria. — Olha, eu sei que vai ser difícil, só que não vai adiantar nada você comprar esse tanto de comida e ficar no quarto desenvolvendo diabetes dois dias inteiros.
— Claro que vai! Eu vou até rever a primeira temporada de Greys Anatomy. Talvez de Friends. Não é um bom plano? Pra mim parece um bom plano. Eu acho um bom plano. Esse plano vai funcionar.
— Não vai, não. Todo mundo vai achar estranho se você ficar no quarto por todo esse tempo. Além disso, sua mãe nunca a deixaria fazer essa desfeita com Allison.
Mais uma vez, ele tinha razão. O odiei por isso.
— E o que você quer que eu faça?
— Escute, você vai agir normalmente, ok? Você não vai dar mole e ninguém vai perceber a sua paixonite pelo... Alex. — A parte "Alex" foi sussurrada.
— E se eu não conseguir?
— Você vai. Confia em mim.
Ele sempre tinha razão. Se Sammy dizia que eu conseguiria, era porque eu conseguiria. Tudo bem, não poderia ser impossível. Da outra vez que nos visitaram — quando o conheci —, me saí ilesa e consegui não dar bandeira. Se funcionou uma vez, daria certo de novo. Eu sobreviveria à tentação Collins.
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Quase Clichês
Novela Juvenil[Concluída]. Imagine que estamos quase no final dos anos dois mil, onde a moda ainda é brega e ao mesmo tempo maravilhosa. Garotas abusam de um estilo ousado e meninos passeiam com o moletom do time de futebol do colégio; as séries mais icônicas...