Capítulo 23 | Encontro

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[Alaska]

Reviravoltas me rondavam ultimamente. Reviravoltas que deixaram meu mundo de cabeça pra baixo.

Eu mudei um tantinho, beijei Alex, descobri que Nathaly gostava de mim, e agora, Sammy gay. Como não vi? Sammy nunca foi como os outros garotos, mas não era motivo bastante para dizer que ele era gay, até porque existiam caras legais e héteros — espécie rara. Seria muito idiota da minha parte acusá-lo de homossexualidade só por não ser pegador, babaca e exalar testosterona. Mais louco ainda para mim era ele estar de rolo com meu primo Nick. Nunca passou pela minha cabeça que podia acontecer, nem em um milhão de anos. Depois de ouvir toda a confissão de Sammy, meu coração reduziu ao tamanho de uma azeitona. Ele parecia tão perdido e cansado... Odiei vê-lo assim.

Observando-o pegar no sono, retirei seus sapatos e usei toda a minha força para arrumá-lo na cama. Com Sammy coberto e adormecido, tomei um banho longo e demorado. Ao voltar para o quarto e me trocar, sentei-me perto da janela e abracei um dos joelhos. Meu cérebro buscou todas as informações que já vi sobre pessoas gays, e meu peito apertou mais ao imaginar pelo que Sammy enfrentaria. Preconceito, agressões e assassinatos eram noticiados todos os dias nos jornais. A ficha estava caindo, junto de uma lágrima. Não sei se aguentaria o assistir passar por tamanha ruindade. Poderia ser eu, não ele. Não meu melhor amigo; o garoto que me fez tão bem, deu tantos conselhos e suporte em tudo que um dia precisei. Odiei a sensação de comprovar mais uma vez que a vida era injusta. Limpando as lágrimas, eu me deitei na cama e abracei Sammy por trás, o mais forte que consegui. Daria tudo por ele,

❤︎ ❤︎ ❤

Obriguei minhas pálpebras sedentárias a se moverem. Ao meu lado, Sammy dormia pacificamente. Saí da cama e fechei a janela de uma vez. Resolvi sair do quarto, porque meu estômago roncou. Lá embaixo, nas escadas, o cheiro e ovos mexidos e bacon atiçou minha fome. Papai, Allison e Alex já estavam acomodados. Mamãe servia a comida ao tempo que cantarolava. Ela me viu e sorriu.

— Bom dia, querida. O café da manhã está pronto.

— Bom dia... Pode preparar dois pratos para mim, mamãe? — pedi, aproveitando a matriarca em seu bom humor.

— Está com tanta fome assim?

— O outro é pro Sammy. Ele dormiu aqui. Ainda está dormindo.

— Ontem eu fui me deitar cedo. Não te vi chegando. — Ela tirou quatro ovos da frigideira e colocou em pratos. Esperei pacientemente o bacon. — Aqui.

Peguei ambos os pratos feitos.

— Valeu. Vou comer lá em cima.

— Querida? — minha mãe chamou. — Você acha que consegue convencer Sammy a fazer o almoço para nós?

— Deveríamos parar de tratá-lo como um cozinheiro escravo toda vez que vem aqui. — Poxa, ele estava num momento ruim. Suspirei. — Posso tentar. Não prometo nada! — Tomei cuidado para não deixar os pratos e os copos caírem durante a subida das escadas. Assim que fechei a porta do quarto, percebi Sammy sentado apertando os joelhos e o olhar vagueando pelas janelas reabertas. — Bom dia, flor do dia. — O entreguei um dos pratos.

— Obrigado.

— Sammy...?

— Sim?

— Sei que me disse tudo ontem, mas parece meio surreal demais. Me conte novamente do seu lance com Nicholas.

Sammy mastigou um punhado de ovos e engoliu.

— O que você quer saber?

— Euero que me conte tudo. E não se esqueça de nenhum detalhe.

Quase ClichêsOnde histórias criam vida. Descubra agora