Capítulo 33 | Sinto muito

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[Alaska]

Quando acordei, deitada no peito de Sky, naquele carro úmido, fiquei confusa. Daí uma enxurrada de lembranças me atropelaram feito um caminhão desgovernado na pista.

Em sua casa nos deparamos com Josett fazendo o café da manhã. Foi a primeira vez que fiquei levemente constrangida, imaginando o que ela pensaria de mim e o filho mulherengo chegando naquele estado de manhã. Minha solução foi a melhor de todas; ir atrás do meu melhor amigo no quarto dele. Quando abri a porta e entrei, Sammy — que estava deitado em sua cama lendo uma revista de desenhos japoneses. — Se sentou na cama.

— Alaska? O que aconteceu?

— Aconteceu o que nunca deveria ter acontecido. — Fechei a porta cuidadosamente primeiro. Depois, tirei a jaqueta meio úmida pelos braços e me sentei no chão, ao lado da cama. Permiti minhas vias respiratórias puxarem oxigênio em excesso e o exalei. — Allison e meus pais me pegaram beijando Alex.

Sammy engasgou com o ar.

— O quê?!

Contei o que aconteceu devagarinho, olhando para baixo, sem coragem de encará-lo. Meu nariz entupido atrapalhou grande parte da narrativa. Sammy ouviu, calado, esperando pacientemente. Depois de narrar minha chegada ali, se manteve silencioso.

— Eles me odeiam, não é? — quebrei o silêncio.

Sammy desceu da cama.

— Eles não te odeiam, Al. Quer dizer, você é filha deles. E Allison vai te perdoar, se bem a conheço. Eles só precisam de um tempo. Por enquanto, o melhor é você trocar de roupa e tomar um banho. Venha, não quero que fique resfriada.

Sammy me guiou até o banheiro, entregou toalha, camiseta e sua menor calça de amarrar. Tomei um banho quente e não demorado. Ficou um pouquinho grande, mas nada que eu não pudesse lidar. Ele colocou minhas roupas sujas na máquina de lavar. Descemos para a cozinha, comemos e voltamos ao quarto.

— Eu só queria poder mudar o que aconteceu. Sou tão burra. — Desabei no canto do colchão macio.

Sammy me abraçou.

— Eles vão te desculpar. Pelo que me disse, a maior culpa foi do Alex, não?

— Acho que foi minha. Não sei, me sinto muito culpada. Eu podia ter feito alguma coisa, agido mais rápido e o empurrado. É tão injusto que justamente quando eu não queria que ele me beijasse ele me beijou...

— O destino tem dessas mesmo. — Ele acarinhou-me. — Muitas vezes ele vai te derrubar. Só que você é uma menina que tem muita força e coragem para se levantar num pulo.

— Você filosofou muito agora. — Sorri. — Obrigado pela ajuda.

— Não fui só eu. Sky fez um bom trabalho.

Concordei. Sky me ajudou durante a madrugada toda sem obrigação nenhuma de fazê-lo. Não imaginei que ele fosse fazer algo assim algum dia por mim. O jeito que tentou me confortar sem julgamentos ainda me deixava pensativa. Isso mostrou um caráter que não imaginei que fosse ter. O julguei muito errado durante esses anos.

— Ele foi incrível.

Como um bruxo, Sky adivinhou que falávamos dele e apareceu. Ele viajaria para Jhun'Nipper Hills.

❤︎ ❤︎ ❤︎


Algum tempo mais tarde, Nicholas apareceu na casa de Sammy. Ele e Sky forraram toalhas nos bancos molhados. Nathaly, segundo eles, o levaria para o lava-jato. Inclusive ela e seus pais estavam lá na escola quando chegamos. Sammy foi o primeiro a se despedir do irmão e tratou logo de ir para o rumo do namorado. Pude me despedir do Capitão. O ônibus foi embora pouco depois.

Quase ClichêsOnde histórias criam vida. Descubra agora