Capítulo 2O | Inesperado

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[Alaska]

Se apaixonar pode ser humanamente complicado. As emoções te cegam e há muito risco de não ser recíproco. Na pior das hipóteses, o grande paquera chega a ser namorado da sua irmã.

O pior era acordar num belo dia e se lembrar que o beijou e, mesmo sabendo que foi o melhor beijo da sua vida, pensar: "O que eu fiz?". Isso desencadearia um dilema, crises de consciência e muita culpa, além da constante batalha entre cérebro e coração. Repensei muitas coisas da minha vida e cheguei à conclusão de que não queria mais me alimentar de ilusões com Alex; precisava esquecê-lo. Nosso único laço permitido permaneceria sendo de amigos. Mesmo se ele e Allison terminassem um dia, eu não teria coragem de namorá-lo. Allison não merecia isso. Enxergando por outra vertente, eu era muito nova para sofrer de amor. Tudo bem choramingar por perder dinheiro ou por ter comido seu último chocolate da caixa, mas por um garoto...? Na-hã. Nunca fez o meu tipo. Agora bastava superar, erguer a cabeça e chutar a bola para frente.

Mudando de assunto, na terça-feira não fui a aula por pura preguiça. Lauren passou na minha casa pela tarde e me contou que sairia com Sky no dia a seguir. Também falamos sobre meu estilo — até porque ela trouxe uma grande quantidade de roupas e me deu. Não vou dizer que odiei; as peças eram lindas. Calças coloridas e estampadas — estampas eram meu ponto franco, principalmente de personagens de desenhos animados — e blusinhas curtas. Nada de saltos — graças ao bom Deus. Ela me deu uns truques básicos e disse que doaria uns itens de maquiagem, fazendo-me prometer que usaria. Segundo Lauren, eu tinha que voltar triunfante para o colégio agora que metade dos alunos me achavam bonita ou talentosa, ou os dois. A situação foi a mesma de sábado: ela ficou tão animada que não contrariei. O mais fácil para mim foi o brilho labial e gloss; fáceis de passar. Já rímel, nem tanto. Borrei a pálpebra diversas vezes com manchinhas pretas na tentativa de aplicar só nos fios dos cílios. Felizmente a prática e dicas me fizeram aprender. Lápis nem tentei porquê, do jeito que era desastrada, enfiaria dentro do olho. Ela também me deu dicas de blush, pó, o rumo certo pentear minhas sobrancelhas e quais pelinhos tirar caso crescesse. "O básico". No final do dia fiquei expert e consegui convencê-la a dormir comigo.

Também consegui que Sammy se juntasse a nós. O jantar foi animado. Mais tarde dormimos abraçados feito anjinhos.

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Eu devia ter quebrado meu despertador quando tive a chance. Sammy foi o primeiro a tomar banho. Ele saiu do banheiro vestido por uma camiseta vermelha de mangas longas brancas listradas e calça. Deixei Lauren escolhendo minha roupa. Me senti bem ao olhar no espelho. A falta da tinha vermelha e o tratamento que ganhei no cabelereiro sábado ajudaram meus fios a ficarem menos quebradiços e sem pontas feias. Demorei embaixo da água quente e não molhei a cabeça. Lauren foi a próxima. Botei minhas peças íntimas na frente de Sammy — ele sequer olhou. Pus uma calça jeans boca de sino e prendi a fivela quadrada do cinto branco. Na parte de cima uma, blusa abaixo das costelas de alcinha cinza-ruído e o logo amarelo do Guns N'Roses dentro de uma rosa-vermelha. Lauren apareceu enrolada em uma toalha.

— Simples, mas muito gata. — Ela já tinha vestido a lingerie no banheiro. Rapidamente tirou a toalha e colocou uma saia com losangos. — E como eu te ensinei, capricha no rímel.

— Não vou me produzir pra ir as aulas. E maquiagem para ir para a escola?

— Sim. Sem discussão.

Revirei os olhos. Passei a máscara de cílios e esfreguei brilho labial na boca. Lauren reclamou da minha rapidez e consertou os erros. Não ficou nada ruim. Enquanto ela terminava de se aprontar, coloquei uma gargantilha de cruz preta que achei abandonada em uma gaveta e alguns anéis. Lá embaixo, na cozinha, meus pais nos aguardavam para o café da manhã.

Quase ClichêsOnde histórias criam vida. Descubra agora