Capítulo O9 | Às escondidas

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[Sky]

Nasci e cresci em Skarye Fall. Meu pai morreu cedo, deixando dois pequenos gêmeos para a esposa cuidar. E ela cuidou.

Por sorte mamãe não passou por tantas dificuldades quanto outras e a pensão que nos era dada pelo governo devido ao fato de papai ser ex-general do exército era generosa. Mesmo assim, sempre a admirei por tudo que fez, a mãe mais perfeita do mundo. E quando ela encontrou o Todd — ou Todd a encontrou, dependendo do ponto de vista — foi a melhor coisa que nos aconteceu em muito tempo. Para mim, Todd era o padrasto dos sonhos e sempre nos demos bem. Em boa parte, porque tínhamos os mesmos gostos; futebol americano, baseball e esportes num geral. Quando ele falou que viria morar conosco, pulei de alegria... Ao oposto de Sammy, que continuou acuado no primeiro degrau das escadas. Ele e Todd nunca foram próximos; as vezes sequer trocavam uma palavra. E meu irmão sempre foi um tanto... diferente. Embora amasse Sammy e mamãe mais que tudo no mundo, tinha de confessar a personalidade de excluído, introvertido e esquisito dele. Na metade do tempo ficava ao lado de Alaska Willson e na outra trancado no quarto. Antigamente eu jurava que ele tinha revistas da Playboy escondidas debaixo da cama — como eu —, mas eu o conhecia bem para afirmar que Sammy não era disso. Nas vezes que entrei de surpresa no quarto dele, lá estava, deitado, lendo um livro de ficção ou assistindo seriados na pequena TV de caixote — que mamãe comprou a preço de banana da nossa antiga vizinha. Eu e meu irmão éramos muito diferentes em diversas questões desde muito cedo; enquanto eu estava beijando a primeira garota atrás da escola no quinto ano, Sammy brincava no pátio da escola com Alaska; eu frequentava minha primeira festa no sexto ano, ele estava na casa da melhor amiga assistindo desenhos na TV e comendo pipoca. Já passou pela minha cabeça que talvez Sammy fosse apaixonado por Alaska, mas desisti dessa possibilidade. Agora, eu estava no segundo ano do ensino médio, o cara mais popular, o melhor jogador e capitão do time. Ia as festas mais baladas e tinha qualquer garota que eu quiser ao meu lado — e, se quisesse, poderia estar na cama delas facilmente. Eu tinha boas chances de ganhar uma bolsa em uma ótima faculdade no ano seguinte pelos esportes, mas a ideia de deixar Skarye Fall deixava-me receoso. Eu não saberia me virar fora dali, a ideia amedrontava um pouco a ponto de acabar engavetada. Tinha bastante tempo para pensar sobre, e além do mais, o futuro guardava surpresas incertas.


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— Então... — Nathaly começou depois de alguns minutos, ainda com a respiração forte e ofegante.

Eu estava na casa dela... Mais especificamente na cama dela. Meu corpo reluzia em suor e o coração cambaleava no peito graças a recente atividade física.

— O quê? — girei o rosto para encarar o círculo azul ao redor das pupilas.

Eu gostava de Nathaly. Não que a amasse, só tinha uma quedinha por ela. E o sexo também era muito bom.

— O que você estava falando com a minha prima idiota mais cedo? Quando os vi no corredor? — ela virou de bruços e o braço cobriu os seios bonitos.

— Está com ciúmes? — provoquei, mesmo sabendo que a resposta seria negativa. Nathaly não sentia ciúmes de ninguém, era um sentimento muito humano e comum para ela. De todo jeito, eu achava excitante. Nos dávamos bem por isso; a falta de cobrança ou sentimentalismo.

— Olhe o meu belo rosto e diga se pareço ter ciúmes de uma anã com cabelo estranho. — Ela debochou. — É claro que não.

— Não era nada demais. Só estávamos falando mal de você.

Ela fez uma careta tão irritada que eu ri.

— Você é um idiota. — E bufou, rolando para sair do colchão. Levou o lençol consigo para variar. — Saía daqui antes que meus pais e cheguem.

Quase ClichêsOnde histórias criam vida. Descubra agora