Capítulo 21 | A má popular

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[Nathaly]

Eu era mesmo linda, estilosa, popular e um bocado de outras coisas que qualquer uma daria tudo para ser. A maioria dos estudantes de Scarye High me idolatravam, outros me odiavam com todas as forças.

Em minha defesa, eu não era malvada com todos. Impliquei com pessoas talentosas que ousavam se inscrever no Show De Talentos ou quem eu pegava inventando boatos sobre mim por aí — como quando Crystall Chell'Berry falou para Mason Jalali que eu tinha herpes e despejei um pote de iogurte na cabeça dela em meio ao refeitório. Em geral, não tinha muito mais com quem mexer. Os nerds faziam meus trabalhos de graça e babavam por mim e as garotas desafortunadas de popularidade despejavam admiração. Eu tinha suspeita que eles odiavam mais Crystal, porque ela sim era o próprio demônio. Por muito tempo agi como um ser superficial, às vezes venenoso, às vezes frio. E tudo por quê? A paixão secreta por uma prima que não me suportava... E havia fatores que me fizeram mudar drasticamente do meio do ensino fundamental para o ensino médio. Talvez fique mais compreensível me entender ao fim do capítulo... Ou talvez não. Apenas continue lendo.

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Quando pequena, fui uma criança ingênua — por incrível que pareça. Eu brincava com todas as garotas da creche e facilmente me enturmava. Minha primeira amiga de verdade foi Alaska. A lembrança da menininha de vestidos rodados e presilhas nos cabelos nunca saiu da minha mente, e naquela época a achava a pessoa mais linda do mundo. Alaska me inspirava com sua aparência linda e jeito mandão; sempre forte e destemida. Houve uma vez que eu estava brincando no playground, sentada no balanço, com um pirulito, e Crystall Chell'Berry o roubou de mim. Eu comecei a chorar — tinha sete anos de idade. Alaska chutou a canela de Crystal, recuperou o doce e me devolveu — e ela era, tipo, um ano mais nova. Foi um ato de bravura. Eu a achei incrível. Passamos momentos maravilhosos juntas; festas do pijama, passeios na sorveteria, brincadeiras sem fim. Naquela época éramos inocentes... Depois de um tempo, Alaska e Sammy ficaram amigos. No começo foi legal; brincávamos juntos — inclusive Nicholas e Sky. Mas depois... cada vez mais Sammy e Alaska ficaram próximos e ela... Bom, ela acabou me deixando de lado. Senti isso, e doeu mais porque eu já era apaixonada por ela.

Vê-la se afastar aos pouquinhos amargurou meu coração. A falta do sorriso bonito e dela segurando minhas mãos... Com o tempo, acabei percebendo que nunca teria outra ligação com alguém. Não como tive com Alaska. Isso me deixou... desacreditada. E o pior foi que, conforme os anos passavam, percebi que outras garotas me chamavam atenção. Os corpos femininos eram... esplêndidos, divinos, gloriosos. Passar qualquer tempo no vestiário se tornou um martírio. E eu não queria que ninguém soubesse. Não poderiam sequer desconfiar... Nunca. Nunca mesmo. Um tempo depois alguém se assumiu, entretanto, foi o meu irmão e não eu. Quis ter a coragem. Quis ser forte como ele... só que eu não era. Eu não sei se aguentaria os olhares, as piadinhas... Nicholas teve Sky para apoiá-lo, Alaska estava com o fiel escudeiro Sammy, mas e eu? Eu não tinha ninguém. E tudo sempre foi mais complicado para as mulheres desde os séculos antigos. Nunca foi segredo que a sociedade nos massacrou massivamente.

Havia diferença em colegas que te acompanhavam pelos corredores e recreios por interesse e prestígio. Louise e Jessie ficavam por perto dentro do colégio, mas não eram pessoas que eu pudesse confiar. Me envolvi na bolha protetora de parecer uma menina muito artificial e malvadinha, conforme meu coração endurecia para me proteger. E a fim de esconder o secreto desejo por meninas, passei a beijar garotos... Vários deles. Perdi minha virgindade ainda no ensino fundamental com Scott Steinfield. Não era uma noite que me lembrasse muito bem. A única recordação era a de acordar na cama dele e levar uma bronca dos meus pais por chegar de manhã em casa. Fiquei de castigo por uma semana. Sky foi o segundo, e o mantive fixo. Era bom que outros soubessem. Abaixaria as suspeitas da minha sexualidade reprimida.

Quase ClichêsOnde histórias criam vida. Descubra agora