[Nathaly]
Em pleno século vinte e um a homofobia se fazia presente massivamente. Em boa parte, baseada em pré-julgamentos como "ah, essa garota de cabelo curtinho? Sapatona, com certeza" ou "Olha as roupas dela! Tão desleixada que deve ser lésbica!".
Havia mesmo pessoas que fossem agredidas por suas escolhas. Demorei tanto me aceitar para mim mesma e confessar tudo à Alaska... Não tinha volta. Nem se eu quisesse, voltaria atrás. Se falei para uma, diria para todos. Meu orgulho de anos não me deixou recuar tão facilmente. Só restava rezar para sair ilesa. Embora meu medo fosse encoberto, não pretendi deixá-lo me domar. No dia da detenção, cheguei em casa com Nick e pedi para papai e mamãe se sentarem no nosso sofá da sala. Eles o fizeram. Tudo foi planejado. Eu contaria a verdade e aguentaria as consequências, com Nicholas junto.
— O que você foi, Nath? — papai perguntou, curioso.
— Por que tanto suspense, querida? Não diga que está grávida. — Mamãe brincou para aliviar a tensão.
Suspirei fundo e me preparei. Nicholas tomou minha mão e a apertou. Não deixei de reparar no esforço para me fazer sentir confortável. Ele sabia o quão ruim era; enfrentou bem mais novo. Sorri para o meu irmão, verdadeiramente grata. Encorajada, deixei sair naturalmente.
— Eu sou gay. — Apenas três palavras, carregando um enorme significado.
Nick massageou as costas da minha mão com o dedão, dizendo que estava orgulhoso, que sabia reconhecer o peso que me foi tirado das costas e conhecia meu receio pelo que viria. Ele sempre foi um bom irmão. Sim, nós nos implicávamos rotineiramente, mas nos amávamos infinitamente. Nicholas tentou estar comigo nas piores fases; como quando tínhamos seis anos e acharam minha gatinha, Marie, atropelada na rua detrás. Naquela noite ele me deixou chorar em sua camiseta preferida de basquete sem reclamar. Ele só não me ajudou na minha sexualidade porque não sabia, e em parte reconheci sua culpa nisso pela nossa ligação de gêmeos. Retribuí o carinho. Nunca foi culpa dele.
— Isso é sério? Você tem certeza? — Molly falou pela primeira vez em quase um minuto inteiro.
Confirmei.
— Ainda bem que já passei por isso antes. — Papai, já recuperado do choque, voltou ao seu peculiar tom brincalhão.
— Não estão bravos? — sondei, cautelosamente.
— Surpresos. Não bravos.
— Ainda continua sendo linda e maravilhosa, Nath. E com um gosto melhor, porque as mulheres são a melhor coisa do mundo — meu pai riu.
Mamãe o acompanhou. Eu e Nick caímos juntos na gargalhada. No final, não foi tão difícil quanto pensei. O receio e medo de que me consumiam, desaparecerem, e muito disso pelos meus pais. Nos abraçamos todos os quatro. Agora que minha família sabia, o resto do mundo poderia saber também. E nada me abalaria, porque eu era Nathaly Willson, a Abelha Rainha de Skarye Fall.
❤︎ ❤︎ ❤︎
No dia seguinte levantei mais cedo que o normal para me produzi. Vesti uma minissaia plissada laranja com um xadrez amarelo, camiseta de botões branca e manguinhas princesa com um colete jeans preto por cima. Colares, pulseiras e saltos de bico fino. Amarrei meu cabelo num rabo-de-cavalo apertado, deixei a franja solta e pus minha pulseira favorita da sorte de pingentes com astros. Com a câmera traseira do blackberry, tirei uma foto minha no espelho e postei no twitter com a seguinte legenda: "Ser gay não é um problema (e nem lésbica)" junto de uns emojis. A notícia se espalharia rápido.
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Quase Clichês
Teen Fiction[Concluída]. Imagine que estamos quase no final dos anos dois mil, onde a moda ainda é brega e ao mesmo tempo maravilhosa. Garotas abusam de um estilo ousado e meninos passeiam com o moletom do time de futebol do colégio; as séries mais icônicas...