Capítulo 41 | Willson & Fray

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[Alaska]

O céu adquirira um tom mais claro conforme eu caminhava para a casa dos Fray. O frio da estação intensificou drasticamente. Certamente nevaria em dezembro, no inverno. Sammy atendeu a porta quando bati.

— Eai? Onde está a sua mãe?

— Na cozinha. Estou ajudando a fazer alguns bolos para ocupar o tempo e a mente. Não dormimos ainda, preocupados com o Sky.

— E cadê ele?

— Lá em cima, trancado no quarto.

— Vou lá falar com ele, ok?

Sammy balançou o rosto para cima e para baixo uma vez.

— Boa sorte. Espero que consiga ajudá-lo.

— Eu também espero...

Ao fazer menção de subir as escadas, meu amigo retornou à cozinha. Subi os degraus de dois em dois, o coração acelerando ao passar dos segundos e um pouco de suor frio acumulando na nuca. No corredor, a porta do quarto de Sky era a única fechada. Pensei em bater quando cheguei, mas girei a maçaneta e, para minha surpresa, não estava trancada. Fui silenciosa ao adentrar o ambiente. Tratei de fechar a porta atrás de mim ao passar pela soleira. Sky, sentado de costas na cama, sequer notou minha presença. Embora seu rosto não estivesse visível, os ombros tremiam nitidamente. Ele chorava. A imagem dilacerou meu coração. Involuntariamente sentei-me no colchão e o abracei pelas costas, afundando a bochecha no alto de uma omoplata. Ele parou.

— Você sabia. — Não uma pergunta, uma afirmação.

— Sim. Desculpe não ter te contado antes. Não era meu direito.

Ele se aquietou.

— Entendo.

Sky colocou, sem que eu notasse, uma mão em cima da minha e a afundou em seu peito, para que eu sentisse as batidas cardíacas. A sensação que tive era a de o órgão machucado. Meu lábio tremeu.

— Sabe o que dói mais...? — perguntou, rouco. — O que dói mais é não poder ter me despedido dele.

Meu peito latejou. Me irritava que Sky estivesse sofrendo por um canalha que fez algo horrível contra o irmão. Se ele ao menos soubesse que Todd não era um santo — que não passava de um monstro — talvez não estivesse assim. Minha boca coçava para contar, mas eu não podia me intrometer nisso. Apenas Sammy ou Josett poderiam dizer, se caso um dia quisessem. Suspirei.

— Eu sinto muito, Sky...

Ele devolveu:

— Eu sei que sente.

Fechei as pálpebras uma nova vez e minha mente foi iluminada por uma lâmpada amarela.

— Talvez você ainda possa se despedir. — Segui a intuição. — Quer dizer, você pode visitar o túmulo dele.

Sky enxugou o rosto e olhou por cima do ombro. O encarei.

— Você pode me levar lá?

— Agora mesmo. — Se ele fosse se sentir melhor, o levaria qualquer hora.

— Por favor, vamos.

Em menos de um minuto ficamos em pé, um de frente para o outro. Insisti para que ele se agasalhasse, e ele me obedeceu. Puxei-o pela mão. Descemos a escada e pouco depois encontramos o vento gélido de uma manhã de novembro. O cemitério não era muito longe dali. Precisamos andar só algumas quadras. Logo estávamos passando pelos portões de ferro e cortando caminho pela grama verde até os túmulos. Busquei no fundo do meu inconsciente para lembrar exatamente onde Todd estava enterrado. O achamos em uma das últimas fileiras. Na lápide estava escrito "Todd Marshal Philips", "1962—2OO7". Uma lágrima escorreu do rosto de Sky ao tempo que ele se abaixou para tocá-la. Dei alguns passos para trás, me afastando. Foi inevitável fazer uma careta. Todd não merecia uma lágrima sequer. Pelo tempo que Sky se despedia, me mantive longe. Esperei até Fray se colocar de pé e vir a mim. Ele parecia um pouco melhor que antes agora.

Quase ClichêsOnde histórias criam vida. Descubra agora