Capítulo 10 - Pai

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Desta vez, despertar foi como ser acordado de um pesadelo antes que ele acontecesse. A última lembrança foi reveladora e esmagadora em igual proporção, como dizem, a ignorância é uma benção, e dependendo do ponto de vista que se observa, talvez fosse melhor permanecer aqui no Limbo esquecido com a lembrança positiva que tinha da vida do que recordar destes eventos.

Porém, não tinha muito tempo para lamentações, o fato que estava diante de meus olhos seria ainda mais impactante que as memórias.

A porta dos onze fechos estava aberta.

Com todas as travas rompidas.

Muitas pessoas... ou talvez seres... estavam dentro do cômodo que outrora comportava apenas Virgílio, Cleópatra, Edvard e eu.

Uma potente luz branca ofuscava a vista e impossibilitava de enxergar além da porta, uma iluminação quase que sólida equivalente ao explodir de dezenas de estrelas, uma aurora no espaço.

Cobri os olhos com os braços, que mesmo na completa escuridão ainda refletia o brilho vindo da porta.

Até mesmo a pressão do ambiente se alterou. Minha cabeça zunia, como se um inseto voador gigante estivesse preso e se debatesse tentando sair.

No instante seguinte o zumbido foi abafado por uma voz, que se comunicava de dentro, parecendo que minha mente passava um recado. O som saia como se escutado numa concha do mar.

"Sua jornada o fez passar por inúmeras situações que testaram sua sanidade, elevando a mente a uma frequência não conhecida pelos de sua raça, perfurando as esferas concêntricas que separam os universos. Uma viagem interna de descobrimento e ascensão, sendo capaz de unir onze de meus filhos, ressoando acima do limbo, e tornando-se o vórtice desta era".

A voz era hipnotizante a ponto de congelar os ossos e inibir meus movimentos, todo o sistema nervoso parecia ter sido bloqueado e estava agora sob controle do que todos aqui chamavam de pai.

Aos poucos fui entrando num estágio de transe pelo simples fato de estar no mesmo espaço que aquele ser de imenso poder. Pude reparar que das figuras que ali estavam, homem, mulher, criança, esqueleto, anjo e outros seres humanoides, todos estavam paralisados, de olhos fechados.

Procurei por meus antigos companheiros em meio ao grupo, quando, mesmo com pouca visibilidade ocasionada pela luminosidade, os vi num dos cantos do quarto, inconscientes como os demais.

A voz continuou com sua palavra uníssona.

"A maioria de seus semelhantes passam a vida num único estágio de existência, simplesmente refletindo os acontecimentos materiais e concretos que seu período temporal disponibiliza, alguns poucos transformam o concreto em alimento digerível para o interior, gerando entendimento de fatos e elementos. Porém, uma minoria quase que inexistente transcendem a fase limitada da consciência, finalizam o ciclo tríade e tornam-se vórtices do espaço-tempo da mente".

Quanto mais tempo passava escutando, mais minha percepção das coisas ao meu redor se alterava, como se meu cérebro estivesse sendo esvaziado e a mente purificada.

"Os efeitos da hiperconsciência o afetarão e um vislumbre de sua existência até aqui será repassado.

Três estágios de percepção.

Hylikoi

Psychikoi

Pneumatikoi

Quatro períodos do seu ciclo de vida.

O padre.

O ocultista.

O médico.

A editora.

Ao fim compreenderá seu destino".

Tentei falar algo.

Perguntar sobre todas essas sensações.

Os estágios.

Os períodos.

A hiperconsciência.

Ao que aconteceria comigo.

Mas, minha mente estava se esvaindo.

Não só não conseguia me comunicar verbalmente, quanto minhas ideias estavam...

Acabando...

Acab...

A.

"Seja liberto de todo o fardo psíquico que carregou até aqui, entregue-se a hiperconsciência e compreenda a cadeia evolutiva do ser, reveja sua ascensão saindo do material, passando pela mente e finalmente atingindo a magnitude da alma.

Esqueça seu nome.

E seja.

Epifania". 

Apócrifos - A porta dos onze fechosOnde histórias criam vida. Descubra agora